OS FOGOS DO BARATISMO

Por Elizel Nascimento

Ilustração

Quando o major Barata assumiu o Governo do Pará, nomeou interventor de Maracanã o jornalista Lindolfo Mesquita, também conhecido pelo pseudônimo de "Zé Vicente". Barata iniciou uma peregrinação pelo interior articulando adesões e avançando na sua popularidade. Em Maracanã chegava num jeep pela Estrada Velha, acompanhado de pequena comitiva. Cumpria uma agenda de visitas na Escola Valparaiso, Grupo Escolar, Delegacia de Polícia e correligionários. Regularmente, estando na cidade, atravessava para o "Derrubada", na época "Jacira", porque lá morava uma professora, por quem Barata era "gamado". Certa vez um delegado ofereceu-lhe três presos para remarem numa canoa e conduzirem a "autoridade" até "Jacira". Na volta o remo do piloto deslizou na maresia e molhou a farda do governador. A canoa ficou rodopiando e o preso atirou-se na maré, com medo de ser mandado para Cotijuba. Eis que foi resgatado e continuou remando até o trapiche, onde o major deu-lhe o "habeas Corpus":


- Vá pra sua casa. Você tá liberado!


Numa campanha acirrada, o "baratismo" esbarrou num confronto com os "coligados", que colavam um cartaz ilustrado nas paredes das casas, com a mensagem:"Barata, pega na chinela e mata!". Era tanta rivalidade que até parentes se digladiavam em insultos. Os bajuladores do Barata soltavam muito foguetes, mas perderam a eleição pra Zacarias de Assunção ao governo do Estado. Faço essa citação dos fogos porque isso não ganha votos. Agora soube que numa próxima convenção em Maracanã, um partido político vai soltar quatro mil caixas de pistolas. Pode ser um falso impressionismo, ou um agouro do fracasso. Depois vêm o choro e o silêncio.

* O autor é escritor, professor, romancista e ex-secretário de Cultura em Maracanã