Pajelança Cabocla em nossa região

Por Maurício Botelho





Mais da nossa verdadeira cultura....


Yves D’Evreux e Claude D’Abbeville estiveram no Maranhão nos anos de 1613 e 1614, respectivamente. Ambos relatam as práticas terapêuticas dos Tupinambá como soprar fumaça sobre a parte enferma do corpo e posteriormente retirar a doença, sugando-a com a boca (PACHECO, 2004). Há o relato de 1784 do sargento-mor, engenheiro João Vasco Manuel de Braun, em que os índios são tratados pelo pajé que sopra fumaça, benze e receita “rigorosa dieta”; mostra também que o branco português realizava práticas nativas da Amazônia, tal como os índios, o que nos faz perceber que as mesmas não se limitavam apenas aos índios, havendo a adesão do europeu a tais práticas (SALLES, (1969). Gabriel (1980), citando o naturalista Henry Bates que esteve pela região, narra uma sessão de cura de um pajé indígena em 1848. Relata que na sessão o pajé fazia uso do cigarro de “tauari” e que soprava fumaça na parte afetada pela dor, para sugar com a boca a doença. 

Tem-se, ainda, as anotações do bispo do Pará Dom João de São José Queiroz que, em viagem pelo interior paraense, entre os anos 1762 e 63, descreve o caso de uma mulher que realizava curas utilizando ervas e aguardente, após soprar baforadas, incorporada com “alma do índio”, dançava e persuadia que os outros bebessem e dançassem, ao som de tambor e taboca, e era tida como feiticeira pelos demais índios (SALLES, 1969). Vicente Salles (idem) procurava assinalar, destacando a presença do tambor, a influência africana na constituição da pajelança. 

E, sobre a influência do catolicismo, o autor ainda se referiu a José Veríssimo, em livro lançado em 1878, que trata da pajelança em Belém, dizendo que na sua época os pajés eram nascidos e criados no interior, aprendendo por experiência própria ou com terceiros a curar. Cura esta que era acompanhada por danças ao som do maracá, “benzimentos” e “orações católicas”. Nos centros maiores como Belém e Manaus, talvez, não tivesse o mesmo cerimonial comum no interior do estado.

Chester Gabriel realizou seu trabalho de campo em duas etapas: a primeira entre os anos de 1970 e 1973 e a segunda entre 1977 a 1978.


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