IDENTIDADE - MESTRE DERECO DE ALGODOAL





ANDRÉ TEIXEIRA DE LIMA (MESTRE DERECO)
 
Pescador artesanal, rezador, curandeiro, poeta, compositor, apicultor e contador de Estórias. André Teixeira de Lima, conhecido como Mestre Dereco, nasceu em 30 de novembro de 1955 na vila de Algodoal, ilha de Maiandeua, município de Maracanã, estado do Pará. Começou seu conhecimento das plantas medicinais aos 7 anos com sua avó Maria Ferreira Teixeira, conhecida como Bibi. Ela era parteira, rezadeira e curandeira. Dereco tinha 13 anos quando sua avó ficou cega e então ele passou a assumir os rituais que eram dela. Foi na mesma época em que começou seu trabalho como pescador artesanal.

As pessoas o procuravam doentes e o mestre preparava (como acontece até hoje) as garrafadas com barbatimão, aroeira, jatobá, casca do ipê, do taperebá, da copaíba, verônica, noni, sete sangria, sucuba, quebra pedra entre muitas outras plantas, todas nativas na ilha, presentes nos quintais. Apesar do desmatamento sofrido, ainda existem todas essas espécies preservadas na ilha, só não são mais tão grandes como antigamente.

O mesmo aconteceu com a pesca artesanal, que foi extremamente prejudicada pela pesca industrial. Da época que iniciou suas viagens nos barcos de pesca para os dias de hoje, muitas espécies marinhas foram devastadas e a atividade foi muito enfraquecida. Porém, a pesca ainda é a principal atividade na ilha. Nos períodos de escassez, Dereco ficou conhecido por conseguir peixe quando quase ninguém mais consegue. Pelo seu alto conhecimento da Pesca Artesanal, Dereco também é reconhecido como Mestre.

Começou a criar abelhas em 1982 com o objetivo de ajudar a preservar o meio ambiente, já que as abelhas são grandes polinizadoras das plantas. Esse trabalho começou por incentivo de um conhecido de Belém (Dr. Felipe) que lhe deu um manual do apicultor. Depois disso, se aprofundou em intercâmbio através de uma viagem para o Marajó, no município do Maguari e através de cursos em Maracanã e Igarapé-Açu. Foi então que passou a ensinar para a esposa, para os filhos e para outras pessoas da comunidade, jovens e adultos, possibilitando que a atividade se mantivesse até hoje.

O Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará – Ideflor-bio – em reconhecimento ao trabalho do Mestre na comunidade, doou um terreno para a atividade, faltando atualmente o recurso financeiro para infraestrutura que permita o crescimento do trabalho.

O manejo das abelhas além de contribuir para a preservação do ambiente, e geração de recurso local, também é muito importante para os trabalhos de cura. O mel produzido é usado, por exemplo, para fazer xarope para dor no peito, dor no estômago e vesícula. Mestre Dereco também realiza terapias com picadas de abelha para o tratamento de reumatismo, artrose, artrite entre outras doenças, unindo os saberes tradicionais locais aos novos saberes aprendidos em viagens para outras comunidades tradicionais da Amazônia e em cursos. Dereco não cobra pelos tratamentos, só vende as garrafadas. O Mestre estima que já atendeu cerca de 500 pessoas entre crianças e adultos de toda a ilha e de outros municípios. Pessoas que chegam de toda a região. Ele é indicado pelas erveiras do Mercado do Ver-o-Peso em Belém e em vários locais onde conhecem o trabalho das ervas. Também é procurado por pessoas de instituições, estudantes e pesquisadores como fonte para trabalhos acadêmicos.

Realizou com sua avó a catalogação de 96 plantas nativas de cura. Esse trabalho de cura é feito também através de rituais com banhos de ervas e rezas, tratando corpo, mente e espírito, como é a tradição na Amazônia.
A atividade de poeta começou em 1982. Nessa época, Algodoal estava se tornando um intenso ponto turístico e os nativos começaram a vender seus terrenos. Os turistas passaram então a destruir muitas espécies nativas, como continuam fazendo. Foi assim que o Mestre se inspirou para suas poesias, que são críticas e denúncias da realidade de degradação da Ilha.

Como contador de estórias, Dereco mantém vivas as memórias dos ancestrais, os ensinamentos, os valores e a cultura local. Tem as estórias do Cavalo Marinho ou Cavalo Branco, os Pretinhos Salazar, que são os donos da praia que tomam conta dela, tem o Maracá de Ouro, o Capa de Couro que mundia as pessoas. Tem as muitas estórias da Princesa (que dá nome a principal praia e ao lago de Algodoal).
Todo o seu conhecimento é repassado através da oralidade. Na convivência do seu dia a dia os mais jovens aprendem seus saberes da pesca, da cura, da apicultura, das rezas, memorizam as estórias, conhecem e refletem sobre a própria história do lugar com seus poemas e seus carimbós (Dereco também compõe letra de carimbó, ritmo tradicional local). Dereco é um grande Mestre de Cultura porque desde criança recebeu o dom de dominar os saberes da Ilha necessários para a vida material, espiritual e cultural. É de lá que o Mestre vem ajudando sua comunidade, preservando e repassando seu conhecimento para as novas gerações, conhecimentos esses que tem uma imensa importância, como a preservação da própria vida na nossa Amazônia.

Pesquisa: Cris Salgado
Fotografia Savio Lima
Assistente de produção: José produções

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