Sr. governador:
Noite começando, cansaço tomando conta do corpo, muito trabalho ao longo do dia, tensão, nervosismo, indignação e raiva, estupor e medo, vontade de largar tudo e buscar um abrigo seguro, civilizado, de vida normal – e muito distante de Belém do Pará, ou mesmo do Brasil.
No último suspiro (que não é o do mouro), um alento para escrever ao governador Simão Robison Jatene, velho conhecido, da minha idade, o mais bem sucedido (no sentido de ocupação de poder institucional) da nossa geração, para surpresa da sua quase totalidade, se pensamos no tempo de Jatene cantor e violonista, ao lado da Heliana (por ironia, de volta ao violão e ao canto, já um tanto desafinado e muito despropositado, como Nero catando poesia `ao som de harpa enquanto Roma ardia, por obra dele).
Governador: aceite a sua derrota em segurança pública, na sua desastrada política para o setor, tão ruim que manteve no limbo do comando, por três infindáveis anos, um cidadão sem qualquer aptidão e conhecimento para a função, o general Jannot. E, agora, recoloca no posto quem o deixou, imediatamente antes do general, com saldo negativo.
Reconhecendo sua derrota, reúna a força e a disposição que ainda lhe restam e saia desse torpor insano, que leva o secretário de segurança pública, Luís Fernandes, à frase infeliz de que se sente seguro em Belém.
Logo em seguida, o delegado (licenciado) Éder Mauro, na condição de deputado federal mais votado do Pará (ó Pará!), atribui esse estado de espírito à presença de seguranças em torno do secretário. E garante que 80 policiais estão à disposição da segurança do governador.
Como se dizia antigamente, é um despautério, um ultraje ao cidadão que circula pela capital do Pará no transe do medo, receoso de que tirem-lhe a vida de forma fútil, banal, absurda.
Pois bem, governador: convoque o seu secretariado, coloque em posição de destaque os responsáveis pela segurança pública, convide senadores, deputados federais e estaduais de todos os partidos, representantes do governo federal aqui sediados, das universidades, dos empresários, dos trabalhadores e da sociedade civil, a magistratura e o Ministério Público, para uma reunião no Mangueirinho (dispensando o pagamento das suas milionárias taxas).
Determine que um grupo de inteligência prepare um quadro objetivo sobre a gravidade da situação, sem tentativa de maquiá-la ou manipulá-la. A partir desse diagnóstico, abra um tempo para a inscrição de participantes, por ordem cronológica até o limite de 50 pessoas, dentre o universo de representantes designados por seus pares e previamente cadastrados antes do encontro.
Cada um disporá de até cinco minutos, rigorosamente cronometrados, para apresentar uma única sugestão concreta para uma política de segurança pública. A sugestão será anotada e incorporada a um projeto de lei, a ser encaminhado à Assembleia Legislativa para discussão e aprovação, em regime de urgência.
Uma comissão externa de 10 membros, eleitos durante o encontro, fará a revisão final. O texto dessa revisão não poderá mais ser alterado pelo governo, que simplesmente o encaminhará.
O governador, mesmo em fim de mandato e em período eleitoral, assegurará o cumprimento dos resultados dessa consulta, procurando alcançar como alguns dos seus objetivos, que eu, como provocador desta iniciativa sugiro:
-mais policiais nas ruas, devolvendo às delegacias e à tropa os que estiverem desviados em atividades-meio (eram pelo menos 500 homens só da PM anos atrás).
-mais mobilidade às patrulhas policiais em campo, com todo armamento necessário e os veículos adequados.
-formação de atiradores de elite em um credenciado centro internacional para enfrentar os bandidos que fazem reféns e qualquer um que ameace a vida alheia.
-aprimoramento do núcleo centralizado de inteligência, com os equipamentos mais modernos e curso de aperfeiçoamento no exterior em regime intensivo.
-salário indireto para a força policial: moradia subsidiada, creche, refeição especial, escola, plano de saúde próprio e assistência psicológica específica, clube de lazer de qualidade para os familiares, etc. Ou seja, melhorar as condições de vida dos policiais sem repercussão na folha de pessoal do Estado.
-uma ouvidoria independente, eficiente e ágil para absorver as denúncias, queixas, críticas e sugestões da população com a maior credibilidade possível.
Naturalmente, sugestões mais numerosas e melhores aparecerão, precisam aparecer.
O governo foi derrotado. Mas a população não tem que pagar – ainda mais – por isso. Saia da sua passividade, governador. Dê uma resposta aos cidadãos aflitos, como eu. Ou esqueça para que nós não voltemos atrás no que já estamos fazendo: esquecendo-o.
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