30 anos após ingressar na Universidade Federal do Pará

Por Ícaro Gomes
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O pórtico de entrada da UFPA

O ano era 1987 e começávamos a respirar os ares de democracia após o movimento Diretas Já de 1984, pondo fim aos longos anos de controle em forma de gestão militar. Até hoje tenho a impressão que meu pai Veríssimo foi um subversivo segundo a ditadura, pois vivia com seus livros. Em 1986, pouco vivi, trabalhava durante o dia e à noite fazia o cursinho para o vestibular e três dias na semana adentrava à madrugada num grupo de estudo até às 5 horas da manhã. Somente assim se conseguia aprovação numa universidade pública, hoje, penso, que é bem pior!
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Imagem da Escola "Fernando Ferrari" em Marituba
Estudei no extinto Colégio Anchieta, mas morava na antiga vila operária de Marituba, onde meu pai trabalhava como vigia noturno e minha mãe era um respeitada tacacazeira de mão cheia. Na adolescência tinha muitas amizades advindas do meu longo período na escola estadual “Fernando Ferrari” viva até hoje e formando muita gente. Ferrari era uma das referências da educação na região metropolitana.

Naquele ano, somente três alunos de Marituba ingressaram na universidade federal do Pará, um tempo em que faculdades não proliferavam como churrasquinho de gato nas esquinas. Eu, Silvano Amorim – hoje professor da rede estadual de ensino e proprietário de um belo sitio na vila Maú de Marapanim e Jece Cardoso, um dos combativos jornalistas da região metropolitana.
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Dona Peta(centro) a aposentada tacacazeira
Minha mãe de tanto orgulho ao raspar minha cabeça, pediu que fizéssemos uma caminhada pelas ruas da acanhada vila como forma de celebrar tão importante momento. Lembro que a mãe do Silvano, ainda moradora da histórica rua da Assembleia, fez até um “bacalhau” para a nossa chegada do desfile. É um tempo saudosista mesmo!
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Federal na Beira do Rio
Muito bem, preenchidos os requisitos de matricula e outros procedimentos, fui para a famosa aula inaugural, proferida naquele dia no ginásio de esportes do Setor Básico pelo professor Nílson Pinto, Pró-reitor de Extensão da UFPA e depois em 1989 assumiu a Reitoria e hoje deputado federal em seu quinto mandato, e o João Batista “Babá”, professor da Universidade e naquela época presidente da Associação dos servidores da UFPA. Babá também foi deputado federal do Pará pelo PT e hoje vive no Rio de Janeiro, onde é professor da Universidade e suplente de vereador pelo PSOL.
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Professor Babá
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Nilson Pinto é deputado federal
Quando entrei na Universidade e contemplei o caudaloso rio Guamá, ainda sonhava mudar sozinho o mundo, cheio de planos, projetos, sonhos. Lá vi que tudo era coletivo e que um jovem sozinho jamais conseguiria mudar tudo a sua volta. Percebi que a academia era feita de tribos, tinha os caras pálidas que acendiam um “baseado” na beira do Rio, outros que pouco estudavam e viviam nos movimentos sociais, alguns eram os "nerds", aqui e acolá encontrava os baladeiros que tomavam umas e outras nas proximidades do rio Tucunduba. Bem eu era um sonhador, minha tribo era e continua sendo a dos que sonham...
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UFPA
Naquela época os pobres – como eu sempre fui - ingressavam com mais frequência nas universidades públicas e lá eram mesclados com os ricos e sociais dos novos tempos. Hoje, quase somente os ricos que não trabalham e podem estudar a vontade conseguem as vagas dos cursos mais concorridos como Medicina, Direito, Odontologia, Engenharia Civil e Arquitetura. Em 87, eu vinha do Campus do Guamá até à rodovia BR 316 de carona com o colega da época Nelson Shimizu, um dos herdeiros da empresa Motobel motores que estudava na mesma sala e com a carona solidária me ajudava a encarar o ônibus lotado que seguia para Marituba. O carro era um Escort – um dos possantes da moda daquele tempo. E como o tempo mudou e os carros também, graças à Deus! Não havia ainda internet no Brasil e a gente se comunicava por telefone fixo, que quem tinha um em casa, era acionista da antiga Telemar.
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A nova Ponte de pedestres da UFPA
Bem, Vadião da UFPA, política estudantil, pular a catraca em dia de manifestação a favor da carteira de meia-passagem, a ponte de pedestres entre os dois setores, época de faculdade. Saudades!

Confesso que a Universidade Federal do Pará é um universo diferente, um mundo em que podemos fazer escolhas para o resto da vida, um local onde a educação, a cultura, a experiência, são as essências. Entrei um sonhador e 30 anos depois continuo sonhando, sonhando e sonhando!


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