SUA IDENTIDADE POR FAVOR ALESSANDRA MUNDURUKU




Alessandra Munduruku: Voz da Resistência Amazônica

Por Sávio Maiandeua


No coração da Amazônia, em meio ao avanço do garimpo e da exploração madeireira, surge uma voz que ecoa além das margens do rio Tapajós. Alessandra Korap Munduruku, nascida em 1985, em Itaituba, Pará, é uma das principais lideranças indígenas do Brasil. Seu povo, os Munduruku, habita a região do Médio Tapajós, enfrentando há décadas a ameaça constante da invasão de suas terras. Com cerca de 10 mil pessoas, a etnia resiste, e Alessandra se tornou um dos símbolos dessa luta.

Desde jovem, Alessandra desafiou as barreiras impostas às mulheres indígenas, participando das reuniões do conselho de sua aldeia, um espaço até então dominado por homens. Seu engajamento cresceu à medida que as invasões ao território Munduruku se intensificaram. Testemunhando a destruição de rios, florestas e modos de vida ancestrais, ela assumiu um papel de liderança na defesa da demarcação de terras e na denúncia da degradação ambiental causada pela mineração ilegal e pelo avanço do agronegócio.

Sua luta não passou despercebida. Em 2020, Alessandra recebeu o Prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos, um reconhecimento internacional por sua resistência e ativismo. Três anos depois, foi laureada com o Prêmio Goldman, considerado o “Nobel” do meio ambiente, por sua atuação na proteção dos territórios indígenas da Amazônia.

Mas sua jornada vai além dos prêmios. Em 2019, ela se mudou para Santarém para cursar Direito na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), buscando fortalecer juridicamente a luta de seu povo. A resistência Munduruku não se dá apenas na floresta, mas também nos tribunais, nas universidades e nas ruas.

Hoje, Alessandra está na linha de frente da ocupação da Secretaria de Educação do Pará (Seduc), um protesto que já dura mais de duas semanas. Ao lado de outros indígenas, ela reivindica políticas educacionais que respeitem e valorizem a cultura e a língua dos povos originários. A mobilização reflete um princípio fundamental da luta indígena: a autonomia sobre sua própria educação, território e futuro.

A história de Alessandra Munduruku não é apenas a de uma mulher ou de um povo. É a história de uma Amazônia ameaçada e de uma resistência que não se cala. Enquanto houver rios a proteger e florestas a preservar, sua voz continuará a ecoar, desafiando interesses e reafirmando a existência e os direitos dos povos indígenas no Brasil.

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