Como Belém se prepara para receber a COP30

Da hotelaria ao transporte público e espaços turísticos, entenda os avanços e desafios da capital paraense para sediar o evento em novembro de 2025



Fotos: Rodrigo Conceição Santos


Por Rodrigo Conceição Santos


A 30ª Conferência das Partes (COP30) está movimentando Belém. Escolhida como sede do evento que será realizado em novembro de 2025, a cidade quer recuperar a posição de “capital da Amazônia”. Belém já teve essa posição quando foi capital do Grão-Pará, no século XVI, em um território que abrangia os atuais estados do Maranhão, Piauí, Pará, Amazonas, Amapá e Roraima. Agora, a prefeitura e o governo do estado agem juntos ao governo federal e iniciativa privada para angariar investimentos que façam jus a essa retomada estratégica, visando a COP30 como uma primeira vitrine global.




Imagem Aérea do Porto Futuro II (Crédito: Agência Pará)


Ao todo, há, ao menos, 13 obras classificadas como estruturantes para a COP30 (veja a listagem a seguir). Sete delas estão na esfera estadual e as outras na municipal. Grande parte dos investimentos é viabilizada por empresas privadas, como Itaipu e Vale, em sistemas compensatórios de tributos. Outra parcela tem aporte direto dos governos estadual e municipal. O governo federal também faz algum investimento, como é o caso da revitalização do Parque Urbano Igarapé São Joaquim.
A estimativa é que mais de R$ 5 bilhões sejam aplicados nesse conjunto de obras, sendo que o Parque da Cidade – espaço que sediará as exposições e reuniões da COP30 – precisará de quase um quinto disso (R$ 980 milhões).

Parque da Cidade


A mineradora Vale é responsável pelas obras do Parque da Cidade. Isso ocorre porque ela aderiu a um programa de compensação tributária do governo paraense, chamado Estrutura Pará. Ele permite que empresas mineradoras utilizem até metade do valor do imposto estadual para atividade mineral no estado (TFRM) para a execução de obras públicas, sob supervisão do governo estadual.
O Parque da Cidade está sendo construído em um espaço de 500 mil metros quadrados, onde ficava o antigo Aeroporto Brigadeiro Protásio, no bairro Sacramenta.
Ele está a cerca de 9 km da Estação das Docas, do mercado Ver-o-Peso, do Porto Futuro e de outros principais pontos turísticos de Belém, como o Forte do Castelo, na parte antiga da cidade. Hoje, a opção de locomoção entre o Parque da Cidade e a principal área turística de Belém se limita aos automóveis e linhas de ônibus convencionais, que não são suficientes para atender ao grande público esperado para a Conferência do Clima de 2025.
A construção do Parque da Cidade deve ocorrer em duas fases, de acordo com a Vale. A primeira visa atender a COP30 e a outra deve ser concluída em 2026, e se dedica ao uso dos belenenses e turistas.

Lourival Ferreira, diretor do Projeto Valor Social Norte da Vale, explica que a arquitetura do local busca o conceito Amazônico, em linha com a ideia de “demonstrar a Amazônia real”, conforme defendem a Presidência da República e o Governo do Pará.
“A torre de contemplação, com mais de 51 metros de altura, por exemplo, faz alusão ao matapi (uma armadilha para pescar camarões, feita com a tala da palmeira buriti, característica da Floresta Amazônica)”.

Já os prédios funcionais serão todos elevados, em alusão às palafitas ribeirinhas. Eles também remetem à estética de asa de gaivota e levam conceitos arquitetônicos sustentáveis, como reuso de água e eficiência energética. “É um desafio emblemático transformar este espaço em uma representação da Amazônia”, pontua Lourival Ferreira.



Obras do Parque da Cidade estão mais de 30% concluídas

Início das edificações do Parque da Cidade


A sibipuruna é uma das espécies que não são do bioma Amazônia, mas que também integram o paisagismo do Parque da Cidade.


Aspectos de sustentabilidade também são evidenciados na construção do local-sede da COP30. A maior parte da energia necessária para as instalações será fornecida pela concessionária local, no primeiro momento. Mas, na segunda fase de obras, há previsão de autogeração de energia, com painéis fotovoltaicos usados nas coberturas do estacionamento. O mesmo está previsto para a cobertura do prédio gastronômico, um dos principais edifícios do local.
Ao todo, o Parque da Cidade terá duas grandes edificações, construídas com o conceito arquitetônico que privilegia a eficiência energética. Os pés-direitos, por exemplo, são de seis metros, favorecendo a ventilação natural, bastante necessária para uma cidade cujas temperaturas máximas foram de 31,1°C, em média, no ano passado, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia.
O reuso de água é outro conceito sustentável do Parque da Cidade, que contará com um lago central dedicado a absorver e escoar efluentes para tratamento. Depois de tratada, a água seguirá para cisternas espalhadas pelo parque, alimentando os sistemas de irrigação do paisagismo.
A Vale tem algumas de suas principais operações no Pará. Por isso, o programa de compensação tributária, aderido em 2022, está permitindo tanto a execução das obras do Parque da Cidade quanto do Porto Futuro II.

Porto Futuro II


Quem visita Belém tem passagem obrigatória pela Estação das Docas, que é um lugar gastronômico, com algumas lojas de souvenir e destaque para a premiada sorveteria Cairu. Tudo isso fica abrigado em três grandes galpões, feitos com estruturas vazadas de ferro e fechamento de vidros.

O Porto Futuro II tem o mesmo tipo de ferraria, que está sendo recuperada para dar lugar a cinco novos galpões. “Serão estruturas muito semelhantes, que conversam com a Estação das Docas”, resume Lourival Ferreira.
O Além da Energia também visitou o Porto Futuro II, cujas obras se dedicam à recuperação das ferragens estruturais dos galpões que ocupam a área.

Diferente da Estação das Docas, o Porto Futuro II será um espaço dedicado à cultura, bioeconomia e desenvolvimento de startups. O Museu das Amazônias, por exemplo, deve ser instalado no local. Também está prevista a instalação de indústrias de alimentos, que podem anexar experimentações ou mesmo restaurantes para o comércio de suas produções no próprio local.

O trabalho de recuperação das estruturas metálicas consiste na aplicação de proteções antiabrasivas. Em algumas partes, também é preciso substituir ferragens irrecuperáveis. Isso ocorre principalmente no “pé” das estruturas, da altura do chão a cerca de 1,20 metros. Nesse caso, é feito um içamento da estrutura, corte do material antigo e soldagem do novo.



Busto de Getúlio Vargas na Praça Pedro Teixeira

Maquete ilustrativa da área interna do Porto Futuro II




Quando estiver em funcionamento, o Porto Futuro II terá um espaço beira-rio e será possível caminhar entre ele e a Estação das Docas pela orla. Nesse trajeto, fica a Praça Pedro Teixeira, que é onde chegam as embarcações do Círio Fluvial, uma das procissões do Círio de Nazaré.
O investimento previsto para as obras do Porto Futuro II é de R$ 568 milhões e a estimativa da Vale é que 70% dos galpões estejam em pleno funcionamento durante a COP30.




Além das obras visando a COP30, a Vale, por meio do programa de compensação tributária Estrutura Pará, trabalha na construção de 23 Usinas da Paz. Os espaços integram o programa Territórios pela Paz (TerPaz), do Governo do Pará, que consiste na articulação de políticas públicas de inclusão social. As usinas são espaços polivalentes, onde o governo disponibiliza serviços públicos que vão desde atendimentos médicos a consultorias jurídicas e cursos de dança.


Recuperação das estruturas metálicas do Porto Futuro II

BRT Metropolitano




O sistema de corredores de ônibus para transporte rápido (BRT) ilustra a desconfiança demonstrada ao Além da Energia pelos moradores de Belém e cidades vizinhas quanto à capacidade de execução das obras em curso na cidade. Em construção desde 2012, somente parte do BRT Metropolitano funciona atualmente. Estima-se que ele transporte cerca de 20 mil pessoas diariamente. O projeto inicial previa o atendimento de cerca de 500 mil pessoas por dia.
O BRT Metropolitano une várias iniciativas anteriores de BRTs, com a intenção de interligar a Região Metropolitana de Belém, que envolve a própria capital e os municípios de Ananindeua, Marituba e Benevides.
A mídia paraense relata compromissos do governo estadual para a entrega das obras desde 2020. O novo prazo previsto é o final de 2024.



Pavimentação das vias do BRT Metropolitano




Em março deste ano, os jornais O Liberal e Belém Negócios relataram que R$ 423,7 milhões já haviam sido aplicados no BRT. Em junho, na visita do Além da Energia, muitos trechos ainda não tinham recebido base e sub-base para pavimentação. As coberturas para as paradas dos ônibus também não estavam concluídas.
De acordo com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do estado (Crea-PA), o sistema conta com 11 km de extensão, incluindo um viaduto, quatro túneis, 11 passarelas, 13 estações e dois terminais. Os investimentos atuais são financiados pelo governo paraense e pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA).

Além das faixas exclusivas para ônibus – que devem ser pavimentadas com concreto compactado a rolo – estão previstas a construção de ciclovias e calçadas. Novas iluminações e arborização também fazem parte do projeto.



Trechos de obras do BRT Metropolitano

Hotelaria em Belém


Além dos desenvolvimentos de infraestrutura de transporte e do local-sede do evento, Belém tem o desafio de desenvolver capacidade de leitos para os mais de 50 mil visitantes esperados para a COP30. Em números totais, isto significa mais do que quadruplicar o número atual de cerca de 12 mil leitos disponíveis.
Nesse contexto, projetos de muitos tipos têm sido discutidos. Há, inclusive, planos para paradas de navios de hospedagem no cais do Porto Futuro, além de acordos para utilização de prédios públicos durante determinados períodos de concessão.
Investimentos privados também estão sendo angariados e, entre eles, destaca-se o acordo firmado entre o governo do Pará e o grupo português Vila Galé, que prevê a construção de um hotel de luxo na área do Porto Futuro II. O empreendimento, que ocupará os antigos galpões 8, 8A e 8B do porto, deve acrescentar 500 leitos à oferta de hospedagem da cidade.
A previsão é que o hotel esteja concluído até 2025, gerando 300 empregos diretos durante a construção e empregos adicionais na fase de operação. A obra, além de atender à COP30, promete contribuir para o fortalecimento do turismo na região, segundo o governo estadual.
Outro projeto em andamento é a transformação do antigo prédio da Receita Federal, abandonado desde 2012 após um incêndio, em um hotel de alto padrão. O empreendimento será operado pela rede portuguesa Tivoli e deve conter 255 apartamentos, incluindo uma suíte presidencial de 230 m² e seis suítes executivas de 70 m².
O contrato de cessão do espaço prevê que o governo do Pará receba 2% dos lucros gerados pelo hotel durante os próximos 33 anos.
O governo paraense também autorizou a reforma de 11 escolas, que serão temporariamente convertidas em alojamentos durante a COP30. Essa adaptação é uma resposta direta à necessidade de expandir a capacidade de hospedagem para os milhares de participantes esperados no evento.
De acordo com o governo do Pará, esses investimentos em infraestrutura visam não apenas atender à demanda da COP30, mas também deixar um legado de desenvolvimento urbano e turístico para Belém. A estratégia é transformar a cidade em um polo de ecoturismo, refletindo uma visão de longo prazo, na qual a economia local deva se beneficiar tanto da exposição internacional proporcionada pelo evento quanto dos novos empreendimentos que ampliarão as opções de hospedagem e lazer.

Belém, canteiro de obras




Quem anda por Belém vê vários pontos de obras do BRT. Alguns em plena construção e outros parados. Além das obras do BRT, há construções e revitalizações em muitos pontos da cidade, principalmente na região central, onde ficam as principais atrações turísticas como a Estação das Docas, o mercado Ver-o-Peso, o Forte do Presépio e a Casa das 11 Janelas.
Fora dos horários de pico, o tráfego de Belém funciona bem, mas já há pontos de congestionamento causados pelas intervenções decorrentes das obras em curso.
Nas periferias da cidade, há deficiências de infraestrutura e saneamento básico, noticiadas pelas TVs locais. Até o fechamento desta matéria, não foram localizados projetos no contexto da COP30 para mitigar essa situação.

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