Quem visita as paradisíacas praias salgadas da Ilha de Fortaleza, em São João de Pirabas, na costa atlântica paraense, talvez não saiba o potencial que seus elementos naturais têm para contar, ao menos em parte, a história da vida na Terra, a evolução das espécies e as condições ambientais do passado.
Presume-se que o rico conjunto de rochas, fósseis e vegetações presentes na chamada Formação Pirabas tenha 23 milhões de anos e dois de seus tesouros já estão registrados pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (Sigep).Dentre eles, os que se veem na ilha. Mas, não é só. Há quem reivindique a necessidade de se considerar este patrimônio de forma integral, incluindo suas riquezas culturais e as relações afetivas e poéticas também construídas com este lugar. Relações, aliás, que têm desempenhado papel importante para a preservação ambiental.
É ilustrativa a festividade do Rei Sabá, realizada na ilha há 112 anos, a cada dia 20 de janeiro. Professor do curso de Museologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), coordenador do Museu Virtual Surrupira de Encantarias Amazônicas e doutor em Museologia e Patrimônio, Diogo Jorge de Melo estuda a manifestação religiosa afro-amazônica há quase uma década. Ele garante que a celebração ao “Rei Sabá é só aqui em Pirabas, é endêmico, local. No Maranhão, tem o Rei Sebastião, que acabou sendo sincretizado com Rei Sabá. O Rei Sebastião é um chefe de encantaria”.
O pesquisador reafirma a necessidade de se reconhecer a diversidade de expressões religiosas de matriz africana e, especialmente, sua fusão com referências tipicamente amazônicas. Essas minúcias passam desapercebidas por cientistas com olhar restrito a uma única área do conhecimento. Na região Norte, por exemplo, há uma forte expressão do Tambor de Mina, da Pajelança Cabocla e de Umbandas.
Erika Morhy / Divulgação
0 Comentários