VIVA DALCÍDIO JURANDIR!





Por Antônio Juraci Siqueira


Na data de hoje, 10 de janeiro de 1909, nascia em Ponta de Pedras, Marajó, um dos maiores romancistas brasileiros, Dalcídio Jurandir. Em sua memória irei relatar alguns casos curiosos acontecidos em relação à confusão que muita gente faz entre nossos nomes, apesar de não serem semelhantes. Nossa afinidade, além de marajoaras, ele de Ponta de Pedras e eu de Afuá, é a literatura. Mas não há como negar que me sinto honrado em ser confundido com esse monstro sagrado de nossas letras.

EU, DALCÍDIO JURANDIR...

Sentada à minha ilharga num coletivo de Belém, viajava uma senhora que de quando em vez lançava-me um olhar inquietante pelo rabo do olho. Quando o ônibus contornava a praça Waldemar Henrique, criou coragem e indagou-me com humildade e medindo as palavras:

– Me desculpe, mas o senhor não é o Dalcídio Jurandir?

Como não foi a primeira vez que tive meu nome confundido com o do grande romancista marajoara, aproveitei para dizer-lhe que apesar de também ser marajoara e cultivar o gosto pelas palavras, sentia-me honrado e envaidecido com o equívoco mas que achava-me a muitos estirões de distância do autor de Chove nos Campos de Cachoeira.

Outra vez, convidado para um “Café Literário” de uma escola da rede estadual de ensino, cheguei minutos antes do evento começar e estava em frente ao quadro de avisos lendo alguma coisa quando se aproximou de mim uma senhora, que mais tarde fiquei sabendo tratar-se da coordenadora pedagógica, e indagou se eu procurava alguém. Falei-lhe que estava ali como convidado especial para o “Café Literário”, e ela:

– Ah!, então você é o Dalcídio Jurandir?!

Um dia participava de uma programação literária em uma escola pública, como autor convidado e me encontrava na mesa ao lado de outros autores quando a pessoa incumbida de fazer a minha apresentação começou assim:

"- Dalcídio Jurandir nasceu em 1909 e morreu em tanto de tanto de 1979..." Nisso ela faz uma pausa, olha no meu rumo com ar de espanto por estar diante de um morto-vivo e, pasmem, continuou lendo a biografia trocada.

De outra feita uma senhora encontrou-me à saída da “Casa do Gilson” e exclamou:

“–Poxa vida! Eu queria tanto falar com o senhor: a minha filha está precisando de um livro seu que fala sobre Belém, para o vestibular, e eu ainda não encontrei...”

Como na época não tinha nenhum livro específico sobre Belém, e muito menos indicado como leitura obrigatória para o vestibular, mostrei-lhe um exemplar de “Mensagens & Louvações” onde dedico alguns poemas à Cidade das Mangueiras.

–Não é esse, é um livro grosso – falou-me – mas vou levá-lo. Deixe seu contato que depois eu lhe procuro. E despediu-se dizendo:

– Muito obrigado, Dalcídio!

Foi então que a “ficha” caiu: O tal “livro grosso”, leitura obrigatória para o vestibular, era “Belém do Grão Pará”, de autoria do grande romancista pontapedrense.




Antônio Juraci Siqueira
(Do livro Acontecências, crônicas da vida simples)

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