DE BRUXOS, SACIS, MATINTAS E POETAS




Por Antônio Juraci Siqueira


No dia 31 de outubro, comemorou-se, de uma só tacada, o Dia das Bruxas, o Dia Nacional do Saci Pererê, o Dia Municipal da Matinta Perera, para quem é de Belém e o Dia Nacional da Poesia em razão do aniversário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade, o bruxo das letras. Em razão de tudo isso, houve o Cortejo Visagento, com saída do cemitério de Santa Izabel para a Nossa Biblioteca, promotora do evento.






MENSAGEM AOS BRUXOS

- Vinde! Fadas, Encantados,
Gnomos, Bruxos, Duendes,
que o mundo em trevas depende
do lume de vossos fados!
Vinde! Matinta Perera,
Boiuna, Boto, Mãe D'água!
Vinde espantar tanta mágoa
desta vida passageira!
Oh!, vinde! Bruxo da praça,
amigo dos beija-flores,
guardião das plantas, das flores...
Vinde a nós com vossa graça!
Vinde de todos os lados,
vinde com vossas magias
acalentar nossos dias
tão tristes, tão conturbados!
Nas conchas de vossas mãos
trazei poções poderosas,
tornando espinhos em rosas,
fazendo os homens irmãos!
Vinde a dançar e a sorrir
na ciranda da poesia
que a vida, sem fantasia,
não vale a pena existir!
***
SACI PERERÊ
Saltitante, zombeteiro,
astuto e maledicente,
como esse Saci matreiro
instiga a vida da gente!
***
MATINTA PERERA
I
Noite soturna
de sexta-feira.
Por trás da copa
da seringueira
a lua brinca
de esconde-esconde
enquanto borda
sombras sinistras
no véu da noite
com fios de luz.
Com a mente prenhe
de maus presságios
rolo na rede,
olho o relógio,
procuro o sono
que não quer vir...
Escuto passos
rondando a casa,
ouço batidas
de asas no ar...
E, de repente,
um assobio
cortante e frio
feito um punhal
rasga a mortalha
da noite densa
plantando o medo
dentro de mim.
II
Olhei pela fresta:
- é ela, a Matinta!
Eu juro que a vi!...
Eu vi com estes olhos
seu corpo delgado
coberto de andrajos.
Eu vi seus cabelos
qual véu inconsútil
cobrindo-lhe o rosto.
Se é velha, se é moça,
se é feia ou se é bela,
não posso afirmar.
Matinta Perera,
por Deus, me responde
quem és, de onde vens?
És gente ou és bicho
de pelo ou de pena?
És anjo ou satã?
Serás, por acaso,
alado estafeta
dos mortos? Será?
Quem deu-te este fado
de errar pelas noites
virando meuã?
Que fazes na vida,
que sabes do mundo,
que queres de mim?
Se queres tabaco
que venhas pegá-lo
cedinho, amanhã.
Matinta Perera,
tem dó, vai-te embora,
me deixa dormir.
***
ELOS
Dos grandes aos mais singelos,
os poetas, em verdade,
são os verdadeiros elos
entre o sonho e a realidade.
***





P.S.: O Dia Municipal da Matinta Pereira foi criado através da lei municipal de 2003, de autoria do vereador Paulo Fontelles Filho, de saudosa memória, e o Dia Nacional da Poesia foi criado pela lei federal 13.131 de 2015.


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