Causos & Contos - Sônia Maltez Pinheiro




Por Sônia Maltez

Acredite se quiser, aconteceu. E você o que faria?


Lá pelos idos da década de 80 Jurandir Silva cuja família morava em Belém do Pará, no bairro da Pedreira "chamado carinhosamente por Eneida de Moraes de bairro do samba e do amor", e tinha como rotina aos domingos almoçar com seus familiares.

Em um desses domingos ao voltar para casa, desceu do ônibus na Lomas Valentinas com a Almirante Barroso, atravessou a pista e foi para a parada de outro ônibus em frente a Panificadora Alvorada, que futuramente se tornaria o Supermercado Almirante do bairro de São Brás.

Nessa época os ônibus demoravam uma eternidade para passar nos pontos, e durante a espera Jurandir deparou com Alípio Menezes, que do outro lado da pista ia subindo sentido Hospital Belém, o rapaz estava impecavelmente trajado, parecia que ia fazer algum exame, votar ou ir assistir missa( nesse tempo para fazer essas coisas o camarada saía na pinta sem um amassado na roupa). Os dois eram daqueles amigos para toda obra, na alegria, na tristeza, na doença, na saúde, na bebedeira, na ressaca etc...
Ao ver o amigo do outro lado da rua Jurandir fez sinal para ele atravessar a rua e iar até a parada do ônibus.
Perguntou- lhe:
- E aí bicho, para onde vais assim todo arrumado?

O amigo respondeu:

- Estou indo alí no Hospital. A Cotinha( esposa) me pediu para ver como está o estado de saúde do tio dela que está no CTI ( Centro de Terapia Intensiva, assim se chamava o que hoje é UTI)
O encontro dos dois nunca passaria em branco, e foi então que Jurandir convidou Alípio para irem até a Lomas com a 25 no Bar Suíço, que até hoje ainda existe no mesmo local. Alípio relutou, não poderia em hipótese alguma fugir do compromisso com a esposa, afinal ela era o cão chupando manga, e se ele desviasse do caminho e ela descobrisse, só Deus na causa.

Jurandir insistiu para que fossem tomar uma cerveja, só uma, dizia ele.
Conseguiu desencaminhar o amigo ( não era tão difícil assim desencaminhar o rapaz para beber) e foram para o bar. Pediram a primeira, a segunda, a terceira, a quarta, a quinta a sexta, a sétima, a oitava , a nona ( Ufa) e perderam as contas, e quando ficaram para lá de Bagdá, decidiram ir embora, mas antes tomaram comprimidos de ENGOV, para curar a ressaca.
A noite caía e Alípio decidiu ir para casa, já nem lembrava mais para onde ia e o que ia fazer.
Ao chegar em casa a esposa ansiosa perguntou o estado do tio, e o porquê dele estar com aquela carta de porre, será que estavam servindo cachaça para quem ia visitar os doentes?
A resposta foi a seguinte:
- Meu amor, fui visitar teu tio e ele está muito bem, está esperto, conversamos ele está doido para sair de lá para encontrar com uma fêmea que deixou ele doidinho na última festa do quarenta lá em Maracanã. Inclusive quando saí do hospital encontrei o Jurandir e contei da minha alegria pela saúde do teu tio, e é claro que fomos comemorar.
Dito isso ele foi tomar banho deitou e dormiu, apesar do falatório da mulher.
Quarta feira os amigos se encontraram na saída do trabalho na Presidente Vargas e Jurandir perguntou:

- E aí Alípio como foi a chegada na tua casa domingo
Alípio respondeu:

- Ah meu amigo fui expulso parece um cachorro velho de casa ontem
quando cheguei do trabalho, a Cotinha me perguntou de novo porque eu estava bebendo contigo e eu disse que fomos comemorar a saída do tio dela do CTI .

Ela me jogou um vaso de vídro que estava em cima da mesa e disse tú és um safado e ainda foi se juntar com aquele outro safado, não foste ver meu tio coisa nenhuma, minha tia veio hoje pela manhã e disse que o meu tio foi enterrado sábado.

E o Alípio sem ter como se defender, teve que pegar suas coisas e ir embora. Tentou voltar, buquê de flores, presentes entregues pelos Correios, não teve jeito, o casamento acabou mesmo.
Baseado em fatos reais. Nomes fictícios são usados para preservar a identidade de quem viveu o fato.


OBS:ENEIDA DE MORAES era escritora, jornalista, ativista política, poeta e carnavalesca, ela chamou a Pedreira de bairro do samba e do amor porque ela o via como uma área pulsante de arte, cultura, militância, liberdade e humildade.

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