"Foi assim!
Como um resto de sol no mar
Como a brisa da preamar
Nós chegamos ao fim"...
O poeta, cantor, compositor e um monte de coisas mais Paulo André Barata, faleceu ontem em Belém, já estava internado 10 dias no Hospital Porto Dias e fez sua passagem aos 77 anos e no dia de seu aniversário.
Eu não tive o privilégio de conversar com Paulo André Barata, principalmente, num bar. Porém, vivencio a amizade com seu irmão Renato Barata, delegado de polícia de profissão e um talentoso tocador de violão e compositor nas horas não tão vagas. E com Renato, ouço muito sobre o universo da musicalidade dos Baratas.
Hoje, todos os paraenses estão de luto, a música do Pará perde uma de suas grandes expressões, inclusive, o governador Helder Barbalho decretou luto oficial e esteve no velório no Teatro da Paz. Bem, eu nunca conversei com Paulo André, mas a jornalista Syanne Neno, ouviu numa tarde boas histórias de PAB e contou tudo num texto em agosto de 2015. E foi assim... que ela se despediu de Paulo André.
Então, conta ai Syanne!
"Foi assim...
Segunda-feira, final de tarde. Entrei no Cosanostra, sozinha, em busca do melhor carpaccio. No balcão, apenas um senhor com rosto familiar. Como o garçom não estava, ele o chamou. Perguntei ao garçom se era hoje que o Alexandre Souza cantaria Chico. O senhor do balcão então respondeu que sim, mas que seria bem mais tarde. De imediato, comentou que eu, como todas as mulheres, ouvem Chico. Respondi: "Nem todas. Muitas preferem Wesley Safadão"
Com cara de ponto de interrogação, ele me olhou assustado. O rosto paternal, a voz grave, o fato glorioso de não conhecer o Safadão e ainda outros motivos que ainda não consigo decodificar, me fizeram ter vontade de saber mais daquela pessoa." Qual seu nome?", perguntei baixinho
"Paulo André" foi a resposta. Assim mesmo. Sem sobrenome
De imediato, ele emendou: "E você é a Syanne, que me conheceu uma vez e me disse que queria ser enterrada ao som de "Foi Assim”
De fato, eu já tinha sido apresentada aquele homem, mas não o tinha reconhecido e nunca havíamos conversado. Foi quando descobri que o Paulo André tinha sido um dos melhores amigos do papai. Jogavam sinuca juntos no Pará Clube. Pronto,isso já me daria motivo suficiente para conversar e esquecer da vida lá fora. Mas aí, descobri que ele é fã da música "my funny valentine", era confidente de Tom Jobim, já tinha levado Gil para almoçar em sua casa e ora, ora, é Paysandu de quatro costados e asinhas nos pés. Seu avô foi, inclusive, um dos fundadores do Clube do Suiço. Achava o hino do Fluminense o mais bonito do Brasil, o meu pai o homem mais bondoso que ele tinha conhecido, e, assim como a lotação de um Maracanã, achava João Gilberto um chato de galocha.
Entre um gole e outro de Buchannans, seu cachorro engarrafado, falamos de solidão, Vinícius e a inesgotável vocação para amar.
Poderia ficar até amanhã, escutando Paulo falar dos nossos ídolos em comum, dentre os quais se destacava meu pai!
Veio Sarah Vaughan, mais histórias da MPB e muitas tiradas, no melhor estilo Sylvio Neno.
Diante daquele homem, estava uma mulher que, ali, naquele instante, voltou a ser a menininha que ouvia "Foi assim" no radinho da babá e tinha vontade de chorar.
Foi assim que Paulo André Barata inundou minha tarde de nostalgia, poesia e sabedoria.
E logo numa segunda-feira, essa eterna injustiçada.
É, poetinha Vinícius, a vida é mesmo a arte do encontro.Quando menos se espera, ela te presenteia com surpresas boas como essa. Uma tarde inteira ouvindo um dos meus compositores favoritos, me encantando sem versos, mas com uma prosa danada de boa.
Texto que fiz em 31 agosto de 2015. Minha homenagem ao genial e inesquecível Paulo André Barata
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