O milagre, o nordeste, o norte. A Vitória de Lula

 


 "Nunca na história deste país" o presidente da República sentado no Palácio do Planalto deixou de se reeleger, após o advento do instrumento de possíveis dois mandatos executivos consecutivos. Mas, o Brasil conheceu Jair Messias Bolsonaro, eleito em 2018, num vácuo político com muitos culpados, mas, principalmente, o Partido dos Trabalhadores (PT) que após vencer 4 eleições presidenciais seguidas, envolveu-se num lamaçal de descrédito com diversas denúncias de corrupção. O PT foi criado na década de 80, misturando democraticamente trabalhadores simples aos intelectuais brasileiros e tornou-se mais à frente o xodó político do povo mais pobre, com seus governos pautados na inclusão social. 

Bolsonaro chegou ao Palácio num misto de antipetismo e crescimento da extrema direita que recorre as estratégias neofascistas turbinando os conceitos de moralidade, família, defesa com armas e mais uma gororoba que envolve sempre em vão o nome de Deus. Messias no governo provou que era simplesmente Jair, um senhor de boa idade sem qualquer plano de governo e apaixonado pelo militarismo com incursões sempre que possíveis entre os milicianos do Rio de Janeiro. No Planalto dosou pelo desequílibrio nos assuntos sérios e ao enfrentar a pandemia de Covid 19, demonstrou ser o mais despreparado dos dirigentes mundiais, lançando um país a sua própria sorte, o que ceifou milhares de vidas a mais, em razão do seu forte negacionismo e demora na aquisição de vacinas.

Economia desajustada, fome voltando e o Brasil sendo isolado do mundo, em razão das políticas de extrema direita, eis que surge a novidade: o Tribunal federal ancorado no estado do Paraná e que levou levou Luis Inácio Lula da Silva a prisão por 580 dias é considerado parcial e as ações que o condenavam em segunda instância e retiravam seus direitos políticos são anuladas. Para recapitular Lula havia sido preso em processos meio esquisitos e sob a batuta do juiz Sérgio Moro, que renuncia a função de juiz e acaba nomeado ministro da Justiça de Bolsonaro, demonstrando que houve uma boa "tabelinha" para tirar Lula do jogo e facilitar o caminho de Jair na eleição presidencial de 2018.

Bem, Lula é o que chamamos de "cara nascido com aquilo pra lua". Governou o país por dois mandatos seguidos e incluiu o povo pobre no orçamento, como ele mesmo diz. Li um artigo em que o autor tratava do voto do sertanejo nordestino: antes de Lula a água era muito difícil e a diária de trabalho no sertão não passava de 15 reais. Com Lula, o sistema simples de cisternas, que capta toda a água da chuva com calhas, melhorou o cenário para enfrentar a sede e com a implementação do Bolsa Família, o sertanejo já deixava a comida em casa e saia para aventurar trabalho, podendo rejeitar os serviços de díárias a 15 reais e então a realidade da relação de trabalho mudou. É por isso que Lula sempre alcança 70% dos votos válidos no nordeste brasileiro.

Os homens de Bolsonaro sabiam bem dessa aproximação de Lula com os mais pobres e trataram de organizar as armas para mudar o cenário. Aliás, as mulheres - distratadas durante todo o governo de Jair - também foram um capítulo à parte e importante para a vitória de Lula. Bem, os instrumentos de quem está sentado na cadeira de presidente são diferentes: o governo ampliou para 600 reais o Auxilio Brasil e aprovou também o consignado, antecipando quase 3 mil para as famílias, que até recebiam ligações da Caixa Econômica oferecendo o empréstimo. Bolsonaro foi mais além, incluiu pessoas sem família no Auxilio, sem quaisquer critérios, principalmente, no nordeste, para tentar diminuir a liderança do adversário. Distribuiu em cima da hora máquinas e equipamentos para as prefeituras e criou uma série de artimanhas artificiais para baixar o preço de combustíveis e alimentos, baseado em tributos dos estados. No Congresso, abriu a torneira do orçamento secreto para fazer chegar dinheiro aos aliados espalhados por todo o Brasil.


 

Realmente, numa análise detalhada, foi uma eleição desproporcional, desequilibrada, onde o governo agiu como nunca para vencer. Do resultado do primeiro turno para o segundo turno, Bolsonaro cresceu mais de 7 milhões de votos; Lula cresceu somente 3 milhões, mas já tinha o arcabouço de 6 milhões de diferença e os votos foram repetidos, mesmo com a atuação da Policia Rodoviária Federal com barreiras nas estradas do nordeste, buscando impedir a força do eleitorado. Jair Bolsonaro ainda ganhou a força de empresários e comerciantes, do agronegócio, quando os próprios gastavam dinheiro extra na campanha para divulgar e investir na candidatura do presidente. Nas igrejas evangélicas, a grande maioria dos pastores usava o púlpito sagrado para pedir votos para o presidente da república.

Enfim, uma mistura de Poder, Dinheiro, Notícias falsas na internet e Fé. Assim resumimos a campanha de Jair. Lula provou que é sempre maior que o PT. Quebra o tabu de se tornar presidente da república pela terceira vez, depois de preso e ser considerado morto politicamente. Um homem simples, que mesmo com as sequelas do câncer na garganta, fala do jeito que o povo simples gosta: sabe traduzir como ninguém que o povo tem saudades de queimar uma carninha no fim de semana. O Brasil já conhece Lula, o Mercado já conhece Lula, o mundo já conhece Lula. Não há espaço para invencionices e a pauta social volta ao patamar mais alto. 

Podemos dizer sim que foi um grande milagre. Lula será diplomado hoje em Brasília o novo presidente do Brasil.


Icaro Gomes é especialista em educação, ativista social e blogueiro.

 

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