Rapaz com paralisia cerebral nada com os botos no Pará




A experiência lembrou o trabalho de bototerapia que vem sendo desenvolvida no Amazonas.

Autor: Denilson d'Almeida

 
Quem já teve a oportunidade de nadar ou manter algum tipo de contato mais próximo com os botos da Amazônia compreende o motivo das lendas darem a estes animais um certo encantamento. De fato, é algo mágico. E o Rodrigo Silva, de 37 anos, viveu essa experiência, recentemente. Com poucos meses de vida, ele foi diagnosticado com encefalopatia crônica (paralisia cerebral). A doença afetou a coordenação motora e a fala.

Rodrigo foi diagnosticado com encefalopatia crônica (paralisia cerebral) nos primeiros meses de vida | Arquivo da Família



Acompanhado do irmão, Danilo Silva, 39, e da fisioterapeuta Raira Françoise, Rodrigo foi até Mocajuba, no nordeste paraense, para conhecer e nadar com os botos que todas as manhãs visitam à orla da cidade.

A empreitada funcionou como uma espécie de bototerapia, que é uma técnica de terapia assistida por animais (TAA) que vem sendo desenvolvida pelo fisioterapeuta Igor Simões Andrade, no Amazonas. Lá, Igor trabalha com o boto cor-de-rosa.

A bototerapia tem seus fundamentos nos princípios físicos da água (empuxo, pressão hidrostática, flutuação, entre outros), somado ao contexto lúdico que traz a presença do boto para o tratamento de patologias como autismo, Síndrome de Down e paralisia cerebral.

Raira destacou que ainda não trabalha com a bototerapia, apenas fez o convite para Rodrigo e Danilo com o intuito de observar como o paciente iria reagir. A ideia inicial foi meramente oferecer um lazer diferente. Os primeiros resultados foram, além da felicidade no rosto de Rodrigo, ver como ele reagiu e se comportou durante a interação com os animais.

| Arquivo da Família




“O Rodrigo faz acompanhamento especializado na clínica onde trabalho. É assistido por três fisioterapeutas e como eu sou de Mocajuba, fiz o convite. Acompanhei todas as etapas, desde a entrada dele na água, até a forma que os botos se aproximaram”, explicou Raira.

A terapia assistida por animais vem sendo cada vez mais adotada, principalmente em pacientes com depressão e ansiedade. “É uma técnica muito ampla. Ajuda a diminuir a ansiedade e a depressão, aumenta os níveis de endorfina, hormônio que ocasiona a sensação de bem-estar, além de melhorar a capacidade, comunicação e a socialização”, destacou a fisioterapeuta.

Danilo frisou que o irmão faz acompanhamento com fonoaudiólogos, fisioterapeutas e também tem apoio pedagógico. “Isto tem ajudado muito o desenvolvimento dele. Para você ter ideia, ele, antes, nem sentava. Hoje, já fica sentado. Ele tem uma saúde muito boa, as limitações deles são motoras”, destacou o irmão.

“Eu nem sabia da existência da bototerapia. A Raira deu suporte e lá comentou deste tipo de tratamento. A gente pode dizer que no caso com o Rodrigo, fluiu naturalmente. Quando ele viu os botos tentou ‘bater palmas com os pés’ que é uma das formas dele manifestar a alegria que sente”, contou Danilo.


 A fisioterapeuta espera que em breve seja possível trabalhar com essa técnica no Pará. Ela já entrou em contato com Igor para obter mais informações sobre a pratica.


A área que os botos costumam aparecer em Mocajuba é chamada de Mirante do Boto. A visitação ao espaço e a interação com os animais é monitorada pelo pesquisador Ricardo Calazans, que presta orientações sobre como pode ser feita a interação entre humanos e botos. Ele também acompanha a reprodução e o comportamento dos animais. A cantora Preta Gil já esteve no mirante.

Pelo menos 12 mamíferos da espécie Inia araguaiaensis (também conhecidos por botos vermelhos) foram catalogados. Eles chamam a atenção de feirantes, pescadores, consumidores e turistas, que não resistem a esta aproximação e acabam passando a manhã juntos.

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