ANDANDO NAS VILAS DE MARACANÃ - MARTINS PINHEIRO e o Quilombo da Vila Chata

Por Emanuel Pereira *



O povoado tem credencial de vila e um interessante legado histórico para contar.

Situado no coração do antigo Campo Nacional, está a aconchegante Martins Pinheiro, embalada pelas páginas do tempo e cercada pelo verde ambiental - bem no caminho da estrada do Campo das Mangabas.

Lá de tudo tem um "cadinho". O agrado presente, a hospitalidade costumeira, o carimbó de raiz e a saborosa manicuera, além do convidativo banho de igarapé. São velhos costumes preservados no correr do tempo.

Seção eleitoral, posto médico, escola pública, time de futebol, água nas torneiras, energia 24 horas, sem esquecer a festa de São Benedito, solenemente celebrada pela comunidade.

Ainda se encontra por lá, rezadeiras e parteiras - a medicina tradicional ainda dá os seus recados.
Quanto ao antigo quilombo, não há registros oficiais sobre a Vila Chata, assim chamada, devido o nariz achatado dos negros que habitavam o núcleo.




 
A aristocracia do século XIX atingiu os senhores de fartos haveres em Cintra e outras cidades adjacentes, ao importar negros africanos para o efeito da mão-de-obra nas frentes de trabalho, tarefa explorada anteriormente sem sucesso com o índio.

A história diz, que no fim do século XIX, uma comunidade de elementos negros, estabelecida entre os rios Caripí e Marapanim, distrito de Cintra, despertava curiosidade na região. Numa forma de luta e de sobrevivência, acreditaram na fertilidade da terra servida pela vertente do Igarapé Igapara, às proximidades do Campo das Mangabas, riqueza que se completava com a fartura de ostras no rio Curral. Sob as bençãos do santo protetor, a vila Chata mostrava o primor do trabalho.

Atuando em forma de parceria, a comunidade investiu na fabricação da cal, aproveitando o cascalho da ostra; na extração do látex das mangabeiras e na produção do carvão vegetal. A fase de colheita no campo completava as tarefas de rotina.

O nome Martins Pinheiro faz referência a pessoa do ex-prefeito de Belém Antônio Martins Pinheiro - invencionice da política vazia.
O lugarejo assistiu nos anos setenta, a devastação do campo, obra de um projeto agrícola pertencente ao grupo empresarial Gelar, que contava com a anuência do poder público, dizimando uma das mais belas reserva natural do nordeste paraense.
Raízes de um passado heróico, costumes que ultrapassam séculos - herança do negro cativo que um dia fez morada na vila Chata.
 
* O autor é professor, historiador e poeta 
Imagens: Reprodução/Google

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