Identidade In Memoriam - Mané Gato de Marudá, o cantor que amava Algodoal

Por Sávio Lima



A coluna IDENTIDADE é um trabalho que busca preservar a memória de gente da cultura popular das regiões praianas, desenvolvido pelo repórter fotográfico da Ilha de Algodoal, Sávio Lima. Antes da pandemia, o trabalho apresentado hoje já estava pesquisado e retratado, mas devido a pandemia e tantas travessias de gente que o Blog tem contado histórias e eternizado memórias, que estão sendo vítimas do covid 19, a coluna Identidade estava também em Quarentena...

...Mas, eis que surge a notícia que a vila de Marudá perdeu seu cantor, um caboclo oriundo de Bragança, apaixonado pelo mar e que contou causos em versos de carimbó.

Manuel Sousa dos Santos conhecido como Mané Gato Saracura.

Seu Manuel, tinha 91 anos de idade, compositor, cantor, repentista e poeta, nasceu em 1925 na querida Bragança, mas se mudou para o Distrito de Marudá (Marapanim), em 1960, seguindo o convite de seu irmão. Ganhou a vida como taxista nos tempos idos e em 2015, sua vida deu uma reviravolta, ele perdeu tudo o que havia acumulado de bens e se resignou na vida de um poeta.

A poética de "Seu Mané Gato" caracteriza-se em geral pela causa do meio ambiente no qual ele vivia. Apaixonado pelo outro lado rio, viajava constantemente para a Ilha de Algodoal e em uma de suas passagens compôs: -"quando eu foi pra Algodoal passear em Maiandeua, tomei banho em dois lagos bonitos,  aonde mora a sereia, quando eu cheguei lá vieram me cumprimentar, pegaram em minha mão, este aqui eu conheço é o Mané gato de Bragança, o cantor de Marudá"

Os poemas de Mané gato retratam toda a realidade e também o imaginário das comunidades da região do salgado. Sobre a cidade de maracanã, cantou: "Mamãe eu quero conhecer a cidade de Maracanã, tem esse pássaro bonito "avuando" pelo rio, tem garça e guará no "mangar" quero passear na orla e tomar banho de mar, quero conhecer as lindas moças que sei que tem por lá - a Izabel e a Nazaré - mas eu sou encantado é pela a 'Raquer'".

Os poemas caboclos de seu Manuel ficaram como legado, enriquecendo ainda mais a cultura popular paraense. Ele faleceu em sua residência de Marudá, na noite do dia 17 de maio, já era viúvo e seus filhos já são falecidos.



A entrevista e imagens com o poeta cantor de Marudá foram realizadas em 10 de fevereiro de 2020.


* O autor da coluna é fotógrafo, repórter, ativista social, ambiental e cultural. 

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