A resenha do professor Ruy Silva sobre o Livro "A China sacode o mundo"

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Meus amigos, terminei a leitura de mais um livro sobre a China e gostaria de compartilhar a resenha com vocês. Grato pela atenção.

A CHINA SACODE O MUNDO.


O livro foi publicado em 2006, o autor James Kynge é um jornalista estadunidense do Financial Times que mora na China desde 1982. Aqui no Brasil esse livro foi publicado apenas em 2007. É uma obra premiada, a qual foi eleita o melhor livro de negócios pelo Financial Times em 2006. Em 335 páginas ele descreve como um país agrário e pobre se transformou numa potência econômica que está assustando o mundo. O subtítulo parece bem sugestivo: A Ascensão de uma nação com fome. O objetivo geral do livro é demonstrar que a força do país que sacode o mundo, ao mesmo tempo esconde suas piores fraquezas, porque já exauriu seus principais recursos naturais e enfrenta uma crise ambiental sem paralelo no mundo.

Em 9 capítulos o autor expõe os dramas dos chineses que migraram para a Europa, o sofrimento das mulheres, que ao casarem se transformam em propriedade dos maridos, a maior incidência de suicídio de mulheres do mundo, a corrupção generalizada da sociedade chinesa, os escândalos das empresas estatais e privadas, a censura impiedosa a qualquer crítica ao partido comunista chinês, pois o partido exerce poder absoluto sobre a imprensa, numa perseguição implacável aos críticos do regime, a falta de respeito a propriedade intelectual, a crise de confiança do povo após a adoção da economia de mercado, a ausência do estado de direito, a mão de ferro do governo central sobre os operários, a negação do sistema previdenciário ao povo e a ausência de proteção social a população, a obsessão do governo na busca do crescimento econômico e geração de empregos, o uso maciço dos bancos estatais para financiar as obras de infraestrutura, as jogadas do partido comunista para se apropriar de know-how das multinacionais, as quais são obrigadas a compartilhar suas tecnologias através de joint venture, o poder secreto do partido comunista, pois seus figurões são inacessíveis ao povo que nunca sabe o que eles pretendem decidir, o ódio aos estrangeiros e como bajulá-los para fingir amizade, um dos principais conteúdos do currículo escolar, todavia, o maior problema da China é sua fragilidade ambiental.

Durante 70 anos de comunismo a população dobrou de tamanho e cuidar do meio ambiente nunca foi uma preocupação das autoridades. Mas os problemas ambientais se agravaram a partir da nova dinâmica do país, na década de 90 após liberalizar sua economia e começar a crescer aceleradamente sua produção industrial, aderir em 2001 a Organização Mundial do Comércio (OMC), reconhecer em 2003 a propriedade privada e transformar o desejo de enriquecer numa obsessão. Mais de 400 milhões de chineses ascenderam à classe média. O maciço investimento estatal e de centenas de empresas multinacionais que se instalaram nas Zonas Econômicas Especiais, além do forte empreendedorismo chinês criaram uma nova potência industrial. Mas como manter esse dinamismo?
A urbanização na China ainda está na infância. Espera-se que em 2050 atinja 1 bilhão de pessoas morando em cidades. A imagem que copiam é a dos Estados Unidos, até a numeração de suas rodovias seguem o padrão americano. O país está concentrado em estabelecer as bases de infraestrutura de uma futura superpotência. Os números da China são de sacudir o mundo, se no ano 2010 ou 2020 vier a ter tantos automóveis quanto a atual população de automóveis per capita da Alemanha, haverá aproximadamente 500 milhões de automóveis. É um país que tem 200 milhões de alunos no ensino médio, 20 milhões de crianças no jardim-de-infância e 12 milhões de pessoas com oitenta anos. A explosão populacional foi uma política de governo.

A história da China é marcada pelo trauma da fome, embora isso não tenha sido um problema para o partido comunista. Independente disso, a ocorrência de secas sempre provocara fome a milhões de chineses ao longo da história. Entretanto, a pior fome de todas foi provocada pela revolução comunista chamada de ‘Grande passo à frente’ de Mao Tsé-tung na década de 60, que deixou mais de 30 milhões de mortos. Nos anos 80, a política do filho único nas áreas urbanas e de dois filhos nas áreas rurais provocou uma onda de infanticídio feminino por todo o país. Política recentemente abandonada. Porém, agora o desafio mudou de configuração e envolve o mundo todo nessa questão.
Suprir a China de todos os recursos que ela precisa para garantir o seu projeto de superpotência não seria uma situação preocupante se esse país os tivesse em abundância em seu próprio território, contudo não é o caso. A China vive uma crise ambiental de uma gravidade sem paralelo. É uma nação ambientalmente exaurida. O Estado chinês é um edifício que está apoiado em fundações ecologicamente frágeis. Cerca de metade de sua massa de terras é inabitada, de modo que um quinto da humanidade está amontoado em apenas 7% da terra cultivável do mundo. No total, cerca de quatrocentas das 668 cidades grandes têm falta d’água, e a incidência de racionamento está crescendo. Em todo canto há sinais de esgotamento. Os desertos do Norte avançam. Os alimentos muitas vezes estão contaminados. Rios desaparecem. A poluição atmosférica é tão grave que, em 2010, cerca de 380 mil pessoas poderão morrer prematuramente a cada ano por causa de doenças respiratórias. Chuva ácida cai sobre 30% de seu território. As fábricas que as companhias multinacionais instalaram transformaram esse país na oficina do mundo, mas também fizeram dela ‘o cume de rejeitos do mundo’. A China emite cerca de seiscentas toneladas de mercúrio no ar por ano, sendo responsável por quase um quarto das emissões não naturais do mundo. Os efeitos da ascensão da China sobre as florestas é ainda mais palpável. Eles importam aproximadamente 44% da madeira cortada ilegalmente. Os apetites liberados pelo surgimento da nação mais populosa do mundo são sentidos até nos cantos mais remotos da terra.

A poderosa atração de um mercado de 1,3 bilhões de pessoas, não importa quão ilusório isso possa ser, os ajudou a pular algumas barreiras tecnológicas em quase todos os setores. O governo chinês não tem medido esforços e nem moralidade para garantir os recursos de que precisam, nem que para isso seja necessário se indispor com o Ocidente inteiro, aproveita em fazer acordo com os países que dispõe de petróleo e que não gozam de credibilidade junto aos EUA, como Irã que já responde por mais de 10% de seu suprimento de petróleo, além de acordo com Venezuela, Sudão, Usbequistão, etc. A onda de terceirização da produção industrial que ocorreu a partir da abertura da economia chinesa, consequentemente provocou a falência das pequenas e médias indústrias dos EUA e da Europa que tiveram que fechas as portas e milhões de empregos migraram para o Extremo Oriente da Ásia.

A China se transformou na maior consumidora mundial de petróleo, aço, ferro, alumínio, cobre, madeira e principalmente de alimentos. Tendo esgotado esses recursos dentro de suas fronteiras, precisa desesperadamente desse suprimento por parte de outros países. Contudo, seu dinamismo depende da Europa e dos Estados Unidos como seus grandes mercados consumidores. Nunca um país dependeu tanto do livre comércio da globalização, seja para comprar as commodities ou matérias-primas que abastecem seu mercado doméstico e suas indústrias, bem como do mercado consumidor mundial para garantir o seu enriquecimento. Do outro lado, o mundo parece que se acostumou ao baixo custo de produção da China para sustentar o seu padrão de consumo. Ao que tudo indica essa interdependência vai nortear as contradições dessa relação.

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1 Comentários

  1. Professor Ruy Silva, o livro parece ser interessante, poque coloca à vista do leitor uma China de subsolo. Situações que são ofuscadas pela próprio governo chinês o qual não tem interesse em fazê-lo. Uma nação que tem suas fragilidades ante ao mundo, mas ao mesmo tempo se mostra uma potência que tem despertado a preocupação do mundo. Um país superpopuloso social e economicamente. Porém professor, senti falta da sua visão de geógrafo a respeito do livro e da situação abordada pelo livro. Obrigado. De qualquer forma, valeu a leitura e a resenha.

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