LUZES DO MEDO - Documentos sigilosos, a missão do coronel Holanda, e a estrutura do livro-reportagem

Fonte: Blog Ver-o-Fato





A data do lançamento do livro - 20 de agosto, na próxima terça-feira, às 19 horas, no auditório do Hotel Sagres - se aproxima. Enquanto isto, você fica com a parte final da entrevista concedida pelo jornalista Carlos Mendes a Lallá Barreto, consultora da Revista UFO. Ei-la:


Como você avalia os documentos liberados? Eles são representativos dos acontecimentos, ou há muito ainda a ser revelado, sobretudo no que concerne a fotos e vídeos? 

Sim, o que foi liberado é importante, porque até então nada se sabia sobre a Operação Prato, a não ser quem tinha investigado o caso de dentro dos acontecimentos, como eu, Biamir, “Riba” e colegas de outros jornais, alguns deles intimidados e ameaçados para que abandonassem suas pesquisas. Falta ainda liberar muita coisa importante. Vou citar apenas os casos da Fazenda Jeju, onde militares testemunharam aparições, e o da Olaria Keuffer, num braço do rio Guajará, onde um ser perseguiu o sr. Luiz Rodrigues. Há também outros casos em Santo Antônio do Ubintuba omitidos dos documentos liberados. A liberação de todas as fotos do “Riba” e dos filmes ainda sob sigilo seria a grande aspiração de todos nós, jornalistas, ufólogos e pesquisadores do fenômeno.

Voltando ao contexto político da época, um dos aspectos mais obscuros dos acontecimentos foi a interferência dos EUA, supostamente presente até no palco dos acontecimentos, nas pessoas do astronauta Fred Coats e do Padre Alfredo de La Ó, de Colares. Você poderia nos falar um pouco desses dois personagens e como o repórter investigou a questão da presença americana? 

Sobre o Fred Coats, a quem sequer cito no livro a ser lançado, não vejo nele nenhuma relevância de atuação nas aparições, seja perto da casa dele, na Baía do Sol, Mosqueiro, Baía de Santo Antônio, Colares ou Vigia. Esse senhor era discreto e tinha uma estação de radioamador na residência. Falei umas duas vezes com ele e parecia não se interessar pelo que ocorria. Certa vez, o repórter Biamir Siqueira, brincando, disse que o Fred era “meio desligado”, lembrando de uma música da banda Os Mutantes. Quanto ao padre Alfredo de La Ó, esse não só tinha forte ligação com os Estados Unidos, de onde veio para o Pará, como abrigava estrangeiros na casa paroquial. No livro, há um capítulo extenso sobre as peripécias desse padre. 

Você poderia nos deixar sua avaliação, mais de quarenta anos depois, sobre a personalidade do coronel Uirangê Hollanda e sobre suas relações com ele? 

O que posso te dizer, Lallá, é que o capitão Holanda – à época era esse o posto dele na Aeronáutica – era um homem íntegro e disciplinado, um verdadeiro militar na acepção do termo. Além disso, um estudioso da geopolítica e de atividades de grupos políticos que combatiam o regime militar. Tive com ele alguns encontros tensos e perigosos, nos quais corri o risco de ser preso. Só fui avaliar melhor isso anos depois. Meu impulso de investigar os fatos sobre as aparições me levavam a encarar as adversidades e creio que o capitão Holanda entendeu isso. Para ele, eu era, apesar de “atrevido”, um cara inofensivo, como vim a saber depois da boca de alguns militares da Aeronáutica. A Operação Prato deve muito ao Holanda as descobertas e citações verídicas contidas nas páginas liberadas até hoje. O principal, porém, continua sob segredo. Eu soube que entre esses papéis estaria um relatório específico sobre a suposta nave de 30 andares no rio Guajará-Mirim, naquele contato narrado pelo Holanda ao Gevaerd e Petit, em 1997. Um grande militar, que inscreveu seu nome, indireta e tragicamente, na história da Ufologia brasileira. Assim defino o capitão Holanda. 

Qual o seu relacionamento com os outros membros da Operação Prato? Você poderia nos falar sobre a sua percepção da equipe militar que estava trabalhando por lá sob o comando do então capitão Hollanda? 

Quase nenhum contato. Eles passavam as noites, com binóculos, na caixa-d'água do campo do Luzir, monitorando minhas vigílias no telhado do mercado de peixe da cidade de Colares, na beira do rio, a uns 80 metros de distância. Durante o dia, eles ficavam no acampamento na praia do Humaitá, enquanto eu, no Fusquinha do jornal, rodava pelo povoado e região em busca das vítimas do Chupa-Chupa. O sargento João Flávio Freitas, depois do capitão Holanda, era o militar com quem eu mais falava. Ainda assim, poucas vezes. 

Outra personalidade que marcou os acontecimentos foi a famosa "Mulher da Ilha do Meio", à qual você chama de a "Mulher dos Peixes". Talvez você tenha sido a única pessoa a visitar a Ilha do Meio no calor da hora e depois da ilha ter sido comprada para uso exclusivo da sua misteriosa proprietária. Você poderia nos contar como foi essa visita e o que você encontrou lá? 

Esse é outro assunto que não trato no livro, até porque, como no caso do Fred Coats, não vejo relação com as aparições das luzes. Para mim, bastou a visita rápida que fiz à Ilha do Meio, em 1977, quando nada observei que me chamasse a atenção. A senhora Elisabeth Berger, dona da ilha, tinha problemas com a polícia, e foi investigada por suspeita de tráfico de drogas. Na cidade ela era tida como “hippie”. Havia uns franceses que andavam com ela pela cidade de Augusto Correia, o que fazia algumas pessoas da cidade atribuírem a ela alguma coisa com as aparições das luzes. Como era suíça, ou inglesa, loura, bonita, isso alimentava o mistério. Nada mais além disso. 

Você poderia nos contar o que te motivou a escrever o livro, mais de quarenta anos após os fatos? 

Durante os últimos 15 anos fui procurado por jornalistas nacionais e estrangeiros, canais de TV, em busca de informações adicionais sobre o que ocorreu no Pará naqueles anos 1977-78. Como eles sabiam que eu estive no meio disso tudo, queriam que eu fizesse revelações. Sou jornalista e sei como isso funciona. Sempre estive do outro lado. Quem gosta de holofote é o entrevistado, não o entrevistador. Nas entrevistas que dei a esses canais, History, National Geographic, Globo, Record, etc, falei não o que eles gostariam de ouvir, mas o que eu tinha a dizer naquele momento. Minha família sabia que eu tinha muito a contar e me estimulou a dizer tudo o que colhi de informações e investigações. No livro a ser lançado conto boa parte do que nunca revelei e há entrevistas inéditas, inclusive reportagens que à época eram para ter sido publicadas e nunca foram. 

Você continuou a investigar, durante esses quarenta anos que se passaram, os acontecimentos do Pará. Ao longo dos anos, você descobriu coisas que não tinha descoberto na época? 

Depois daquela investigação do final dos anos 70, surgiram coisas novas que naquele época não tive como apurar ou descobrir. Inclusive militares da Aeronáutica e da Marinha me procuraram em Belém para relatar fatos que não constam nos relatórios divulgados até hoje. 

Como você estruturou o seu livro, que já nasce um clássico da Ufologia, para dar conta dos complexos eventos investigados? 

É um livro-reportagem, escrito na primeira pessoa. Meus filhos dizem que é um livro-confissão. Talvez eles tenham razão, porque revelo coisas que ficaram guardadas comigo nesses mais de 40 anos. Organizar tudo numa sequência cronológica de fatos era impossível de fazer. As aparições ocorriam em lugares distantes e os ataques às pessoas exigiam uma mobilidade física exaustiva de viagens de carro e de barco. À medida em que eu ia ouvindo os relatos das vítimas e outras pessoas sabiam que naquela região havia um repórter de Belém querendo ouvir as estórias de cada um, eu ia enriquecendo meu arquivo de depoimentos. Foi assim, com base em anotações que guardei e pesquisando intensamente nos arquivos públicos do Pará o que outros colegas também relataram que consegui reunir o material do livro. E olha que sobrou coisa. 

Quais as informações inéditas que os leitores poderão encontrar no seu livro? 

Se eu contar, o livro perde a graça. As informações deixam de ser inéditas. Convido os leitores a lerem “Luzes do Medo” como uma obra de quem esteve ao vivo no palco dos acontecimentos. Um repórter que ouviu muita gente e procurou ser fiel aos fatos. Espero que a obra contribua para forçar quem esteve na Operação Prato e ainda está vivo vir a público contar sua participação naquela missão militar, a maior do mundo envolvida na investigação de objetos voadores não-identificados. 

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