O que é o Sínodo da Amazônia e porque preocupa o governo Bolsonaro?


Por Carla Venâncio da Silva


A Igreja católica discutirá a Amazônia. Foto: Vatican News.

País que abriga 60% da floresta amazônica, o Brasil estará, de um jeito ou outro, sendo discutido no Sínodo da Amazônia, o encontro dos bispos da Igreja Católica que ocorrerá em outubro, no Vaticano. A discussão sobre a preservação da maior floresta tropical do mundo não anda agradando o governo do presidente Jair Bolsonaro, que vê a reunião como uma agressão à soberania nacional.

Após criticar abertamente o encontro e afirmar que os órgãos de espionagem do estado brasileiro estão de olho na Confederação Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, transformou o Sínodo da Amazônia em um problema de segurança nacional.

O que é um Sínodo?

O Sínodo dos Bispos é uma tradicional reunião de todo o episcopado católico em torno de um tema urgente para a Igreja, e que, entre outros objetivos, visa promover o diálogo da instituição cristã com o povo, através de seus bispos, no mundo inteiro. Na hierarquia católica, os bispos são aqueles que mais de perto podem colaboram com o Papa em questões que são importantes para o pontífice. Além de reformas internas, com Francisco a Igreja tem intensificado o olhar sobre questões sociais, entre elas o meio ambiente. O tema é recorrente nas falas do pontífice que em 2015 lançou a primeira encíclica inteiramente dedicada ao assunto, a “Louvado sejas, sobre o cuidado da casa comum”, documento onde convida os cristão não apenas a uma reflexão, mas a uma mudança no estilo de vida em prol da preservação da criação divina.
“Na hierarquia católica, os bispos são aqueles que mais de perto podem colaboram com o Papa em questões que são importantes para o pontífice”

O processo/período pré-sinodal incluem reuniões onde serão ouvidos padres e membros de pastorais da Igreja ligadas à questão do meio ambiente, e todas as comunidades que vivem na Amazônia, incluindo o povo indígena, que são, segundo a Igreja, os principais interlocutores do Sínodo.

No documento de preparação para o Sínodo Especial, a Igreja mostra-se preocupada com o bioma amazônico, sua biodiversidade, seu universo multiétnico, pluricultural e plurirreligioso, cuja “defesa da vida exige mudanças estruturais e pessoais de todos os seres humanos, dos Estados e da Igreja”.

Em outubro, a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos se reunirá para discutir o tema Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral. A pedido do Papa Francisco, o encontro vai refletir sobre como a Igreja pode contribuir juntos às comunidades tradicionais amazônicas para uma ecologia ambiental, econômica, social, cultural e da vida cotidiana.

Oposição do estado

O evento de “celebração da Igreja para a Igreja” se transformou em assunto de estado. Em entrevista ao Estado de S. Paulo, no sábado, o general Augusto Heleno afirmou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estava investigando a CNBB, para “neutralizar possíveis ameaças”.

O governo enxerga a igreja católica como antiga aliada do Partido dos Trabalhadores (PT) e vê assuntos como meio ambiente, mudanças climáticas e direitos indígenas como a face oculta do esquerdismo, que precisa ser denunciado.

Em entrevista durante o enterro do jornalista Ricardo Boechat (12), onde representou o governo, o general Augusto Heleno afirmou que há entidades e organizações não-governamentais estrangeiras, além de autoridades internacionais, que querem interferir no tratamento dispensando à Amazônia brasileira.


O governo teme que o Sínodo da Amazônia seja uma oportunidade para que bispos chamados “progressistas”, ligados a movimentos sociais e partidos de esquerda, critiquem a política ambiental do governo Bolsonaro em âmbito internacional, durante os 23 dias de evento, no Vaticano.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) não se manifestou abertamente sobre a denúncia do jornal O Estado de S. Paulo sobre espionagem de membros do clero pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), mas afirmou que é um encontro “De Igreja para a Igreja” e delimitou que o Sínodo falará sobre a realidade da Pan-Amazônia, de meio ambiente e povos. “Toda essa realidade, certamente será abordada”, afirmou.

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