Sonda chinesa faz pouso histórico no lado afastado da Lua



Nem a Nasa havia conseguido feito parecido (Foto: Reprodução)


Em meio a uma névoa de mistério, às 0h26 (de Brasília) desta quinta-feira (3), a sonda Chang’e-4 realizou um pouso bem-sucedido no lado afastado da Lua. É a primeira vez que isso acontece na história da exploração espacial, e a primeira vez que o programa espacial chinês realiza algo jamais feito por qualquer outra nação.

A China costuma cercar suas atividades espaciais de segredos, mas nesta missão em particular a atitude do governo chinês foi ainda mais enigmática. O noticiário pré-pouso foi discreto, anunciando o dia da tentativa, mas não a hora, e um frenesi tomou conta do Twitter enquanto observadores do mundo inteiro tentavam descobrir o que estava havendo.

O horário do pouso foi divulgado não oficialmente na rede social chinesa weibo. À 1h00, a rede de televisão estatal chinesa CGTN tuitou o pouso bem-sucedido, para segundos depois apagar sua própria mensagem. Finalmente, à 1h11, a própria rede anunciou na TV o pouso, e prometeu mais informações para mais tarde. Finalmente, no noticiário das 2h, a rede estatal confirmou o pouso bem-sucedido.

O administrador da Nasa, Jim Bridenstine, foi ao Twitter celebrar o sucesso chinês. “Parabéns à equipe da Chang’e-4, da China, pelo que parece ser um pouso bem-sucedido no lado afastado da Lua. Esta é uma primeira vez para a humanidade e uma realização impressionante!”

Não há dúvida de que se trata de um projeto desafiador. O lado afastado da Lua está permanentemente “de costas” para a Terra, de forma que não há linha direta de comunicação. Para empreender a tentativa, os chineses tiveram de lançar, em maio, um satélite de comunicações para orbitar ao redor de um “ponto de equilíbrio” entre as gravidades terrestre e lunar que fica além da Lua, de onde ele poderia contatar tanto a Chang’e-4 no solo lunar quanto o controle da missão na China.

A arquitetura da espaçonave é a mesma da bem-sucedida Chang’e-3, que pousou com o jipe Yutu no lado próximo da Lua, em 2013. Com efeito, a maior parte do hardware havia sido construído como réplica da missão anterior.

Em sua missão, a Chang’e-4 fará a primeira exploração do lado afastado, que é bem diferente (e mais acidentado) que o lado próximo. A missão será a primeira também na região polar sul da Lua, especificamente na cratera Von Kármán.

Além do jipe robótico que explorará os arredores, o módulo de pouso tem um radiotelescópio que fará observações no único lugar do Sistema Solar livre da interferência de rádio das transmissões artificiais na Terra, e um experimento biológico, que consiste em ver se sementes de plantas, batatas e ovos de bichos-de-seda podem prosperar, ainda que temporariamente, na Lua —naturalmente protegidos por um invólucro contendo ar e controle térmico adequados.

A minibiosfera voou num pequeno cilindro de 18 cm de altura por 16 cm de largura. A ideia é ver se as sementes da espécie Arabidopsis thaliana podem florescer, e as batatas, germinar. As primeiras são um dos organismos modelo em estudos de biologia. As segundas, uma potencial fonte de nutrientes para astronautas em missões de colonização espacial.

Como toda boa planta, essas devem converter a luz solar em açúcares, aquela fotossíntese básica, num processo que tem como efeito colateral a produção de oxigênio. E aí é que entram os bichos-da-seda. Os chineses querem ver se eles conseguem sobreviver nesse ambiente, com o oxigênio gerado pelas plantas.

É a primeira vez que algo do tipo é tentado numa missão lunar, e o projeto serve como estudo preliminar para viabilizar a futura colonização de nosso satélite natural.
Os painéis solares da Chang’e-4 se abriram às 1h50, segundo informações não oficiais. As primeiras imagens do solo lunar no lado afastado (acima e abaixo) foram divulgadas pouco antes das 3h.

O jipe, em si, só deve descer ao solo cerca de dez horas após o pouso.

(FolhaPress)

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