A travessia do resistente Salomão Casseb

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Pessoal. O Salomão Casseb, proprietário do Bar Nosso Recanto, conhecido como Bar do Salomão, na Praça do Carmo faleceu agora de manhã decorrente de problemas cardíacos após uma longa internação por conta da Diabetes que o vitimava.
Ele estava internado há dois meses no Hospital Beneficente Portuguesa. 
O Bar do Salomão era um dos últimos refúgios da boa música da Cidade de Belém onde podíamos ouvir músicas históricas em discos de vinis dos quais possuía um invejável acervo e possibilitava a seus clientes e frequentadores da Praça do Carmo ouvirem verdadeiros registros históricos da música brasileira.
Em tempos de falta de verba para museus e de queima de museus seculares, Salomão era um dos Grandes Pequenos proprietários de Museus Privados nesse Brasil. 
Junto com o Bar dos Beatles na Cesário Alvim, era um dos poucos lugares de Belém em que podíamos ouvir música boa direta do bom e velho bolachão.
É importante frisar que à despeito de todo o esforço para manter sua coleção de discos, seu bar sofria inexplicável e verdadeira perseguição por parte dos órgãos públicos de Belém que viviam a o impedir de colocar mesas na praça do Carmo, ainda que tal prática seja permitida a outros comerciantes da cidade.
A Praça do Carmo era outra e certamente será outra sem o seu Salomão.
Sem música a Praça se esconde e perde um pouco de seu brilho e vocação natural de agregar os cidadãos da cidade. 
Seu Bar era ponto de partida e chegada de várias manifestações populares na cidade, desde o Carnaval, festas juninas até o nosso lindo Arrastão do Pavulagem.
Eu mesmo cansei de acompanhar o Salomão e sua esposa, Dona Ione em inúmeros inquéritos inexplicáveis abertos contra o Bar.
Quantas vezes já me vi sem forças pra explicar para ele o motivo de tais inquéritos que nem eu conseguia entender.
Cansei de promover abaixo assinados pela população e moradores da cidade velha para poder mostrar o óbvio para a nossa cidade e nossa bairro: de que sem música e sem respeito à história cultural de nossa cidade e de nosso País a nossa cidade não vai pra lugar nenhum...nos limitaremos a ser um amontoado de gente separadas e sem identificação sentimental nenhuma. 
Precisamos de mais lugares como o Salomão. 
De mais praças como a do Carmo. 
Precisamos entender que espaços como o Salomão são também Museus Privados mantidos na luta.
Precisamos entender a importância de lugares assim e de pontos de Cultura para a cidade.
Desculpem um pouco da raiva que transcende a tristeza com que escrevo isso mas conhecendo a realidade que o Salomão passou não tenho como deixar de vincular o prejuízo sentimental que teve com esses inquéritos na sua luta contra a diabetes.
É duro ver a força pública atacando naquilo que o mais dói num comerciante: o bolso e no sustento de sua família. 
Salomão chegou a perder parte de uma perna nessa luta mas estava ali na frente do Bar, na sua cadeira de rodas no Bar que era seu negócio desde a década de 70.
Em tempos de obscurantismo cultural, pessoas que prezam pela conservação e registro da cultura fazem falta. 
Muita falta.
Meus pêsames não vai só para a Dona Ione e para a família do Salomão.
Meus pêsames vai para cidade velha e para Belém inteira.
O velório ira se realizar as 11:30 de hoje, dia 30, na Capela Nossa Senhora de Fátima em frente ao cemitério de Santa Izabel.
O enterro será às 15:30.
Meus pêsames sinceros para todos e segue em paz meu velho e mau humorado mas importante amigo.

Abraço forte.

José Maria Vieira

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