O NEGRO EM MARACANÃ


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Por Elizel Nascimento*

Dia 10 passado foi o “ Dia Nacional da Consciência Negra”, instituída pela Lei 12.519, de 10 de Novembro de 2011.Inspirado na relevância dessa data, retomo alguns registros sobre os afro descendentes no contexto sociocultural de Maracanã, em tempos de vila , que surgiu a partir de 1757, quando foi oficializado o predicado de Vila de São Miguel de Nova Cintra.
Há levantamento dessa época que evidencia a miscigenação da antiga aldeia tupinambá, com uma população de brancos, pardos e mamelucos , portanto, com o avanço do processo colonial, onde o nativo e o escravizado estavam inseridos.
Ainda no calor da Independência do Brasil, em Setembro de 1823, Cintra foi palco de violenta sedição de soldados índios e escravos, liderados pelo pardo carioca Manoel Nunes, que proclamou a Independência da Vila , com grande perseguição aos portugueses.
Durante a Cabanagem, consta que em abril de 1836, num combate à noite, entre “legalistas” e “rebeldes”, muitos índios e escravos tombaram no chão da praça da Matriz, onde foram sepultados. Esse episódio resultou na expulsão de um padre e um sacristão que fugiram em canoa para Santarém-Novo.
Vicente Salles, em seu livro “Negros no Pará”, afirma que, em 1876, Cintra possuía 246 escravos registrados.
No cartório de Maracanã, com mais de uma centena de manuscritos, onde estive pesquisando, constam registros de Compra e Venda de Escravos e Cartas de Libertação, com algumas particularidades curiosas:
- “Manoel dos Santos Botelho e sua mulher Felizarda Raimunda da Silva Botelho, possuidores de um escravo de nome Manoel Luiz, ao qual lhe damos liberdade plena, de nossa livre e espontânea vontade, podendo gozá-la como se de ventre livre houvesse nascido...com uma condição: que o liberto continue pilotando a nossa canoa. Cintra, 30 de julho de 1883. Eu, João Batista Lima, Tabelião que escrevi e assino”.
- “Escritura de Compra a Venda que fazem Rosa Maria Cândida de Jesus Teixeira e Pedro de Melo e Castro, aos 18 dias de março de 1878...Ela moradora nesta Vila de Cintra, possuidora e senhora de um escravo de nome Thomé, solteiro, com 29 anos, natural deste município, o qual vende ao comprador Pedro de Melo e Castro, morador da Vila de Nossa Senhora das Vitórias de Marapanim, pelo preço de setecentos e setenta mil réis, quantia que a vendedora recebe e aceita, em moeda corrente do Império, e transfere ao comprador toda posse e domínio do referido escravo, que passa a ser seu a partir deste ato. Eu, Albano Morais Castro, Tabelião que escrevi e assino”.
Vicente Ferreira, descendente de negro, músico e morador de São Roberto, organizou um grupo de Marujada, que se apresentava no barracão da festa de São Benedito, em 1902, quando a cidade iniciou a iluminação pública à base de luz de lampião.
A localidade de Vila de Martins Pinheiro, outrora denominada “Vila Chata”, à margem do rio Curral, em Maracanã, já foi citada como uma antiga “Quilombola”, ou “mocambo”, porém não há respaldo documental sobre o assunto. No entanto, na oralidade de dona Ana Santos, que faleceu aos 102 anos, afrodescendente e moradora de Vila Chata, a mesma relatou em vida que assistiu um grupo de carimbó só de negras, as quais batiam tambor e outras dançavam à luz de lamparinas nessa localidade.
Maracanã é um município de mistura étnica, onde predomina a descendência de imigrantes: Os Casseb-sírios; os Salomão e Rechene-Libaneses; Os Carrera- Espanhóis; Os Ferreira, Lobo, Raiol, Carvalho, Pinheiro, Pousada-Português. Seguem os Santos e Santana- negros, todos misturados ao DNA nativo.

* O autor é romancista, poeta, professor, bancário aposentado, ex-secretário de cultura de Maracanã.

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