A Província do Pará de volta

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Por Lúcio Flávio Pinto

Depois de 16 anos de abstinência, A Província do Pará voltou a circular hoje. No alto da capa, a mesma logomarca com a qual iniciou a sua publicação, em 1876, tendo Antônio Lemos como um dos seus donos e o futuro responsável pelo apogeu do jornal, na era da borracha, valendo-se do seu cargo de intendente de Belém e chefe político estadual. A atual versão é em formato tabloide, com 20 páginas (10 no tamanho standard), aparecendo quinzenalmente.

Seu proprietário é o empresário, radialista e apresentador de televisão Carlos Santos. Ele teve breve e controversa atividade política; eleito vice-governador de Jader Barbalho, em 1990, cumpriu mandato-tampão de nove meses quando o titular renunciou ao cargo para poder concorrer ao Senado, em março de 1994. Antes de aparecer o jornal impresso em papel, Carlos Santos colocou no ar, nesta semana, o jornal eletrônico, para receber alimentação diária.

Ao fazer o lançamento dos dois veículos, que se juntam à rádio Marajoara e a um canal de televisão, Carlos Santos usou o slogan que acompanhou a sua incursão meteórica pela política: “Carlos Santos vem aí”. Ele nega, porém, que tenha essa intenção. Diz que esse projeto é antigo. Começou quando comprou o título do jornal, em Brasília, pagando em parcelas ao longo dos últimos anos. Queria relançar o jornal, em tese o mais antigo da Amazônia e dos mais antigos do Brasil. Embora tenha começado em 1876, ficou 51 anos sem circular. Mesmo assim, tem 79 anos. Seu título tem valor. Alega que seu avô trabalhou na oficina do jornal, na era Lemos, antes de ir morar em Soure. Quer homenageá-lo.

A combinação do jornal impresso em papel e na internet é um bom começo. A Província volta ao mercado num momento de crise para O Liberal e de dificuldades comerciais para o Diário do Pará, que, apostando na política em favor de dois dos seus donos, o senador Jader Barbalho e seu filho, Helder, candidato ao governo do Estado, deve estar pretendendo obter dividendos na publicidade oficial. Há também descrédito no futuro de jornal em papel, o que dá valor à iniciativa de Carlos Santos. Não deixa de ser um desafio.

Mas é evidente a marca da improvisação, da pressa e da pobreza (pelo menos redacional) das duas versões do jornal. A equipe de A Província on line se resume ao seu editor, Antônio José Soares, que também comanda o impresso, não na mesma solidão aparentemente. Boa parte das matérias são requentadas. A atualização na internet é lenta. A publicidade é mínima, anêmica. Se essas falhas não forem sanadas, a empreitada está ameaçada de ser tão breve quanto a passagem de Carlos Santos pela política. Mas a opinião pública espera que ele, restrito ao negócio, tenha vindo mesmo para ficar.

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