Relatório do Unicef aponta que 175 mil pessoas, com idades entre 4 e 17 anos, estão fora da escola no Estado. (Foto: Agência Brasil)
Relatório do Unicef aponta que 175 mil pessoas, com idades entre 4 e 17 anos, estão fora da escola no Estado. Entre as crianças de 4 e 5 anos, a evasão é de 25%, a maior taxa no Pará, segundo o estudo
DANIEL COSTA/ARQUIVO
EDUCAÇÃO
Cintia Magno
O Pará é o 5º Estado com o pior quadro de evasão escolar de todo o País. O relatório “Cenário da Exclusão Escolar no Brasil 2017”, realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), aponta que, somente no Pará, cerca de 175 mil pessoas entre 4 e 17 anos estão fora da escola. Em todo o Brasil, o número chega a alarmantes 2,8 milhões de crianças e adolescentes.
O relatório usa como base os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Em números absolutos, o Pará só está atrás dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul em crianças fora da escola. No Pará, o maior percentual de evasão está na faixa etária das séries iniciais: 25,9% da população com idades de 4 e 5 anos não está estudando. Para o antropólogo Romero Ximenes, o principal problema da evasão escolar está na própria incompreensão do que provoca essa situação. Segundo ele, a evasão escolar não é um problema exclusivamente pedagógico, mas que também envolve outros segmentos da sociedade.
Para o antropólogo Romero Ximenes, a escola reflete a situação da sociedade em geral. (Foto: Daniel Costa/Diário do Pará)
REALIDADE
“A criança não evade porque quer, ela acaba sendo ‘expulsa’ por falta de condições mínimas na escola, na família e pela condição socioeconômica”, enumera. “Se a família não tem condições de pagar a passagem de ônibus para a criança ir para o colégio, por exemplo, pode ser um fator para a evasão escolar”. O relatório do Unicef também dá uma ideia da realidade considerada pelo professor. Dentre a população de 4 a 17 anos que está fora da escola no Brasil, a maioria tem renda domiciliar per capta de até ¼ do salário mínimo, o correspondente a pouco mais de R$234. A maioria das crianças em situação de evasão é de origem indígena e do sexo masculino.
REFLEXO
Ximenes lembra que a escola reflete a própria situação da sociedade. Portanto, se há aumento de violência no ambiente escolar é porque ela também está presente fora dos muros da escola. Apesar de urgente, a resolução do problema demanda um conjunto amplo de ações. “A escola deve ser um local descontraído e agradável para o aluno. Se a escola oferece um ambiente hostil, se o aluno não tem como se deslocar pra escola, se a escola não oferece merenda, é a escola que está ‘expulsando esse aluno”, considera.
FALTA DE ESTRUTURA AFASTA ALUNOS, DIZ SINTEPP
Dentre os muitos problemas estruturais enfrentados nas escolas públicas do Estado, a falta de merenda é um dos mais frequentes. Segundo o coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp), Alberto Andrade, a oferta da merenda nem sempre é cumprida de acordo com a legislação.
Alberto Andrade, do Sintepp, diz que a falta de merenda escolar é um dos problemas mais frequentes. (Foto: Celso Rodrigues/Diário do Pará)
“Com relação à merenda escolar, não temos de forma contínua e com cardápio variado e sabemos que muitos dos alunos que vêm para escola dependem dessa alimentação”, afirma. Para Andrade, as escolas, sobretudo as públicas, têm se mostrado pouco atrativas por falta de estrutura para que os professores desenvolvam suas atividades. Muitas vezes, os profissionais contam apenas com a própria voz, pincel e quadro branco.
“Não temos material didático suficiente, não temos espaço para planejar as aulas, a estrutura é precária”, diz. “Não temos salas de informática e nem bibliotecas na maioria das escolas, não temos recursos multiprofissionais e isso deixa um buraco muito grande”, lista Alberto. “É uma combinação trágica de fatores que leva à evasão”.
(Cintia Magno/Diário do Pará com Redação)
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