Kelly Costa entrevista o blogueiro Ícaro Gomes


Sete meses após o pleito eleitoral, o Blogueiro da região avalia o cenário...



Ícaro Gomes é especialista em educação, político e blogueiro. Um paraense papa açaí que a cada ano vai deixando suas impressões e considerações sobre os fatos que marcam o cenário sócio-politico-cultural na região. Em 2016, ele pouco falou, mas já que estamos no desenrolar de 2017, que tal uma boa prosa com ele?
kelly Costa
Jaqueline Costa, a Kelly, é do bairro São Miguel, tradicional de Maracanã, casada com Eder Marques, vive em Castanhal, onde faz cursos e concilia seu tempo entre suas atividades na igreja Quadrangular e espalhar informações em seus grupos de notícias, já que é mediadora de um dos maiores grupo de aplicativo na região.. 
Em uma das gravações na entrevista precisou de uma "preguiçosa" rede pra descansar das perguntas.
Repentinamente, a equipe do Blog foi buscar a moça-senhora para “apertar” com perguntas o blogueiro mais lido do salgado paraense.

“Entrevistar Ícaro Gomes é divertido. Ele não gosta de fugir dos temas, mas busca ser gentil, polido, amenizar palavras. Tem umas manias engraçadas como falar muito, cheio de “arrodeios”, muito difícil ser objetiva e direta com o blogueiro. O tempo parece que não passa para esse rapaz – caboclo como ele mesmo diz! – que se reinventa. Continua despertando os sentimentos de amor e ódio em sua base política, porém saiu muito robusto e ganhou musculatura eleitoral, após ajudar a eleger com facilidade sua esposa a professora Fernanda Cristo vereadora em Maracanã. Tenho muito respeito e reconheço os méritos da vitória da Fernanda, que obteve a segunda posição da sua coligação e ainda deixou aquela dúvida no ar: E se fosse o próprio Ícaro? Tem gente que fala que seria sim o mais votado, outros... Dúvidas a parte, essa não tiraremos agora, mas nas palavras do blogueiro há sim um gostinho de “quero mais” e certeza de que sua esposa pode fazer um mandato que marque na história e seja um instrumento transformador para o povo. Melhor deixar isso com o tempo”.
Uma entrevista em duas gravações

Kelly Costa: Logo direto - outra derrota do PMDB em Maracanã!

Ícaro: Em 2016, não estive como protagonista na eleição em Maracanã, já que coube ao companheiro Tinô dos Santos, ex-prefeito, representar a legenda no embate eleitoral. Aliás, obteve votação muito significativa. Digo sempre que derrotas acontecem em função de variáveis. Nunca creio que a culpa seja de um fato apenas, apesar que 2016, uma variável foi fundamental: a falta de consenso na oposição.

A oposição ao atual modelo de governo do município foi uma das mais fortes de todos os tempos e abocanhou quase 70% dos votos válidos, todavia, de forma dividida. Três candidaturas fortíssimas e o resto da história cada um e cada uma pode contar com um olhar melhor que o meu. É fato também que o povo brasileiro tem uma boa “caída” pela reeleição e o governo municipal soube utilizar de maneira forte a máquina pública, com grandes suspeitas de uso do programa "Cheque Moradia" e de entrega de cestas básicas..
O PMDB continua um partido forte e que vivencia o afloramento de novas lideranças.

Kelly Costa: E por que não se uniram?

Ícaro – A união política é fruto de um contexto bem discutido. Para que haja um cenário de união, precisa primeiramente que os candidatos estejam despidos de vaidade, abram mão de algo e muito desprendimento. O tal desapego do poder, na construção coletiva de um projeto politico. Infelizmente, os três candidatos de oposição sonhavam com a mesma cadeira. Então, havia o desejo de ganhar a eleição e só. Esqueceram que há cadeira no gabinete de vice-prefeito, há cadeira na Câmara...

Kelly Costa: Nas cidades vizinhas como Igarapé-Açu, São Francisco, Magalhães Barata, o sentimento de mudança prevaleceu, até com a interrupção do ciclo de lideranças fortes e tradicionais da politica. Por que tal fato não repercutiu em Maracanã?

Ícaro – Nosso país passa por uma grande mudança, uma travessia, os políticos estão muito desacreditados; vemos diariamente lideranças outrora fortes no governo e no congresso sendo algemadas e presas por corrupção. O nome da maior operação anticorrupção já vista no Brasil diz tudo: Lava-jato. O Brasil passa por uma grande lavagem.

As cidades vizinhas incorporaram esse sentimento e a opção foi pela oposição. Mas, um fato também contribuiu preponderantemente no cenário de mudança: redes sociais. Em Maracanã, quase ninguém usou com força as redes sociais e a eleição ainda caminhou pelo tradicionalismo da visitinha básica e do discurso. Isso tende a ser extinto. O eleitor não gosta mais de comícios; não gosta de programas políticos em rádio e televisão. Nesses canais, o eleitor só ouve, é um mero expectador. O eleitor agora gosta de rede social, onde o político publica e ele pode opinar. Lá no Facebook, ele discorda, xinga, diz o que sente. Se interessar compartilha, curti. Senão, ele detona. Político que não compreender o novo caminho da rede social pode começar a se despedir das tribunas.

As próximas eleições terão mais internet e menos rua. Você vai à rua e quase ninguém andando; acessa o facebook, o WhatsApp e todo o “mundo” on line.

Kelly Costa: É o fim da era Tinô?

Ícaro – Nenhum líder pode ser considerado morto politicamente. Político é igual flor do deserto: tá ali sequinha e basta uma chuvinha e ela se assanha toda. Tinô cometeu o erro de não compor com outras lideranças de oposição quando havia tempo e cenário para tal. Terá, seguramente, que mostrar provas na eleição estadual em 2018 que merece continuar a frente do comando do PMDB. É claro que quando chegar em 2020, o cenário terá novas lideranças no próprio partido e o tempo vai se encarregando naturalmente de triar os quadros políticos. A prudência neste momento é o mais importante.

Kelly Costa: Foi um “tiro-no-pé” o ex-prefeito Tinô lançar sua esposa à Câmara e não eleger?

Ícaro – O lançamento da candidatura da ex-primeira dama mexeu com os brios de outras lideranças do PMDB; muitos candidatos partiram pra cuidar melhor de suas campanhas, o que atrapalhou para a (eleição) majoritária. Isso já aconteceu em outros lugares - o partido lança alguém e acha que será muito votada e capaz de melhorar o desempenho eleitoral da legenda, de repente, o fato não se concretiza.

Muitos do meio político na cidade dizem que o amigo Tinô queimou uma ótima carta que poderia ser retirada da manga no futuro quando necessário. Melhor esperar, o tempo se incube de explicar melhor.

Kelly Costa - Por outro lado, você também lançou sua esposa em cima da hora e ganhou...

Ícaro – Na verdade, são situações diferentes. Eu desejava ser candidato ao Legislativo, mas algumas lideranças do PMDB não concordaram com meu nome na lista. Confesso que o veto ao meu nome foi até uma homenagem, já que o argumento é que eu teria uma vaga garantida. É bom para o coração e a alma saber que muitos reconhecem sua força eleitoral, então resolvemos lançar minha esposa, a professora Fernanda, que é um quadro excelente do PMDB: professora de letras com duas especializações, concluinte do curso de Direito, foi uma das lideranças da minha campanha em 2012 e tem serviços prestados em Maracanã. A prova é que conquistou o segundo lugar de sua coligação e tem uma grande agenda para seu mandato.

A vereadora Fernanda venceu por seus méritos e habilidade de organizar uma grande equipe de pessoas respeitadas e dignas capazes de articular votos. O grupo intitulado “Fé na educação” que coordenou a campanha da Fernanda é muito forte, pessoas respeitadas na sociedade maracanaense e extraordinárias em seus afazeres profissionais e pessoais e, portanto, formadores de opinião. Aos fatos somamos o nosso prestigio de ter gerido a educação do município e ter deixado um legado de trabalho e obras conceituais e físicas que estão vivas até hoje na memória do povo. Eu não elegi Fernanda como dizem, ao contrário, o povo viu nela alguém capaz de lutar em favor de todos sem a necessidade de ser subalterna a ninguém. Fernanda é independente, não estará disposta a se curvar para a força do poder.  Eu acredito muito no mandato da vereadora Fernanda e pelo que a conheço, sei que ela não vai querer ficar só esquentando cadeira da Câmara, percebo que gostou da experiência e deverá alçar voos maiores.

Kelly Costa – Quem entrou de um tamanho e saiu com outro da eleição de 2016?

Ícaro – Todos que participam de uma eleição ficam maiores. Melhores como pessoas. Agregam a sua vida pessoal a sensibilidade e a emoção. Porém, vejo que sua pergunta é política. O Reginaldo do RT foi o que saiu maior nesta eleição. Entrou muito pequeno e saiu com bagagem política. Só que temos que perceber se esse tamanho será o mesmo e com potencial de crescimento em 2020, afinal política é como nuvem – hoje está de um jeito, mas em poucos minutos muda. Vejo que Reginaldo tem dificuldades de  diálogo com as lideranças e falta habilidade para firmar-se politicamente, articular grupo e crescer. O tempo dirá!

A professora Dica dormiu prefeita e acordou prefeita, sendo que tinha quase 55% dos votos válidos até dia 02; no dia 03 de outubro amanheceu reeleita por pouco mais de 30%, ou seja, toda vez que sair na rua e encontrar dez maracanaenses, sabe que sete não concordam com seu jeito de governar.

Tinô perdeu muito, viu seus votos migrarem para outras candidaturas e perdeu de forma significativa no seu ninho,o bairro do Jurunas. Terá que se reinventar, conversar com as lideranças e focar na ideia de que ninguem ganha mais eleição sozinho.

O ex-vereador Geovan Martins mostrou que tem força, vencendo até em colégio eleitoral grande como a vila da Penha. Mas, sua significativa votação tem tendências ligadas ao grupo politico forte que se compôs em prol de seu nome.

O futuro político de Maracanã reserva para a oposição uma boa mesa - um bom vinho, algumas torradas, um chazinho de erva cidreira, umas ovas de tainha, um creme de mangaba e uma torta de mexilhão - com 4 ou mais cadeiras para que se discuta união. Caso contrário...

Kelly Costa: O novo governo da professora Dica será melhor?

Ícaro – Professora Dica fez o primeiro governo “água-com-açucar” e venceu as eleições num cenário favorável em razão da desunião da oposição. Ganhou com os anos, a habilidade e experiência para ser firme, conseguindo domar inclusive alguns familiares mais afoitos e que deixaram um legado de gargalhos em suas contas da administração. O grande pecado capital continua sendo o nepotismo. Os antigos ensinaram: “nunca nomeie alguém que não possa exonerar”. A saúde deve continuar muito ruim, já que o filho, que é secretário, cuida do local como se fosse um feudo. É tipo assim: sua fazenda de porteira fechada.

Creio que o governo do estado deverá investir pouco no município, mas depende das articulações. Na Câmara, não deverá ter forte oposição, pois somente a vereadora Fernanda e o vereador Marco Aurélio são declarados como bancada firme de oposição ao modelo de governo. Ouço muito os bastidores e percebo que ainda assim o governo enfrentará turbulências, até mesmo CPI na educação, uma área muito suspeita de bancar outros segmentos e pagamentos da administração pública.

Kelly Costa - E esse Blog quando vai se aquietar menino?

Ícaro – Creio que esteja longe. Nossos leitores e leitoras são fiéis. Chegamos recentemente a marca de dois milhões de acessos. Temos muito o que construir em informação e conceitos na região. Recentemente, cancelamos a postagem de comentários anônimos no Blog, podendo agora somente os identificados. Outro dia, alguém me disse: fulana não gosta de você porque o nome dela saiu no Blog como tal. Fiquei pensando! Eu nunca publiquei nada sobre essa pessoa. Então, fui compreender: as postagens dos anônimos são consideradas como dos autores do Blog. Melhor parar!

O Blog é uma grande ferramenta, capaz de transformar situações, nunca aceitamos patrocínio, justamente para manter a linha editorial independente. Vejo com bons olhos o futuro da informação por meio de muitos mecanismos digitais, incluindo o Blog.

Kelly Costa - E você continua com processos na justiça em função do Blog?

Ícaro - Creio que são seis ou sete. Com o tempo vamos perdendo as contas. Nosso advogado tem muito trabalho, mas confio na Justiça, sei que a liberdade de expressão e o direito de noticiar são garantias constitucionais. Um dos processos é engraçado: a prefeita da cidade me acusa de chamá-la de macumbeira. Parece até briga de vizinho! O mais recente é um Boletim de Ocorrência que deve chegar ao fórum local também: uma senhora casada com parente da prefeita me acusa de ter utilizado sua foto em Algodoal,quando foram para a praia bem confortáveis na única ambulancha do município. Ora, primeiro a foto está como pública na rede social Facebook. Quem expõe sua vida na internet, deve saber que é pública. Já pensei, pensei! É o cúmulo! o que deve ser investigado neste caso é como os turistas usaram a única ambulância marítima do município com combustível e piloto pagos pelo contribuinte de Maracanã. Era só o que me faltava! Um processo assim é uma inversão de valores.



Da Redação
Entrevistas do Blog - Jaqueline Costa
Imagens: Arquivo Pessoal

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