390 anos do VEROPA



Ver-o-Peso comemora 390 anos



Ver-o-Peso é chamado de cartão postal de Belém e atrai muitos visitantes. (Foto: Fernando Araújo/Diário do Pará)


A localização dos boxes e barracas do Ver-o-Peso, em Belém, pode ser achada, muitas vezes, pelos cheiros que exalam. O de peixe frito, hortaliças, verduras, frutas, ervas, camarões, peixes e muito mais. Hoje, este ponto turístico completa 390 anos. Com a ajuda de um pouco de água, o feirante Ozeth Dias, 50 anos, faz exalar o aroma das verduras que expõe para venda.

Para que tudo esteja pronto quando aparece o 1º cliente, o feirante chega ao Ver-o-Peso às 23h e sai apenas às 14h do dia seguinte. “Eu comecei a trabalhar no Ver-o-Peso por causa de um primo meu. Agora já são 35 anos de feira”. Diante das cerca de 15 horas vividas diariamente na feira, não é de se estranhar que grande parte das experiências da própria vida se misturem àhistória doVer-o-Peso.



Homem trabalha na Feira do Açaí, que compõe o Ver-o-Peso. (Foto: Bruno Carachesti/Arquivo)

O feirante tira o sustento da família do trabalho realizado na feira. A rotina é puxada e a necessidade de atrair os clientes é cada vez maior. Nada que se sobreponha ao que o cartão postal belenense representa para ele. “O Ver-o-Peso é uma mãe”. Perfumada pelas essências das ervas que compõem os banhos, Bernadeth Freire da Costa, 66 anos, mantém uma tradição iniciada pela sua avó, passada para a mãe e entregue à sua responsabilidade quando completou 15 anos. Envolta por fotografias de pessoas famosas que já passaram pelo mercado, o apelido grifado na placa da barraca de nº 27 é suficiente para esclarecer de quem se trata: ‘Beth Cheirosinha’. “Vem gente demais de fora para conhecer o cartão postal de Belém”, afirma.

RAIZES

O Ver-o-Peso é o local que também marca a história de Beth Cheirosinha. Desde que decidiu fincar raízes na feira, não houve quem conseguisse retirá-la de lá. “Eu recebi uma proposta para ir para São Paulo, mas eu não aceitei porque dou valor às minhas raízes”, afirma. “Não consigo imaginar a minha vida sem o Ver-o-Peso”.

Para que as raízes sejam mantidas, Beth conta que já repassa os conhecimentos adquiridos ao longo da vida para os filhos e netos. Criados os 9 filhos com o fruto do trabalho desenvolvido na barraca de ervas, tudo o que ela espera é que a tradição não se acabe. “Já estamos na 5ª geração da família trabalhando com isso porque já passei para filho e neto”, reforça. “Meus filhos foram criados e educados a partir do Ver-o-Peso”.



Beth Cheirosinha repassa a tradição do trabalho com ervas no Ver-o-Peso para os filhos e netos. (Foto: Mauro Ângelo/Diário do Pará)


Em meio ao cheiro característico do peixe fresco, o peixeiro Roberto da Silva Gomes, 65, também garantiu o sustento e educação dos filhos por meio do trabalho no Ver-o-Peso. A lida no Mercado de Peixe iniciou há 53 anos, quando ele ainda tinha 12 anos. “Comecei vendendo saco e, com o passar do tempo, um rapaz me convidou para tomar conta do ‘talho’. Fui aprendendo a profissão”.

A habilidade e rapidez com que, hoje, Roberto limpa e corta o pescado escolhido pelo cliente é a prova mais exata de que a ‘aposta’ no Ver-o-Peso deu certo. Com a venda de peixes, criou os 6 filhos. “O Ver-o-Peso me deu tudo. Eu não tinha outro meio para sobreviver naquela época.”

PARA GINA LOBRISTA, UM GRANDE PALCO

Foi no Ver-o-Peso que a cantora Gina Lobrista, 36 anos, teve a oportunidade de garantir seu sustento e o da filha. Pouco usada quando Gina iniciou o trabalho na feira, a bike-som foi o que proporcionou que ela pudesse transitar por entre os vários setores do espaço. Gina fez do Ver-o-Peso o seu grande palco. “Há 10 anos eu estou no Ver-o-Peso e essa ideia surgiu mesmo por falta de oportunidade”.



Gina Lobrista viu no Ver-o-Peso a oportunidade de se firmar como cantora. (Foto: Mauro Ângelo/Diário do Pará)

A ideia de cantar em locais movimentados foi colocada em prática, primeiro no Terminal Rodoviário de Belém e na Praça da República. Foi no Ver-o-Peso, porém, que ela conseguiu se firmar. Basta a bicicleta equipada com caixas de som e um microfone chegar para que o show esteja feito. “Eu vivo dos shows que eu faço na rua, da venda do meu CD. Meu patrocinador é o meu fã”. Cada CD é vendido por R$ 5 a unidade.

Apesar da participação em programas de televisão e do reconhecimento - no Ver-o-Peso, é muito cumprimentada - Gina tem o sonho de subir em grandes palcos para promover shows próprios. “Se não fosse o Ver-o-Peso, com certeza eu já teria desistido da música”.



(Cintia Magno/Diário do Pará)

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