Tragédia interrompe carreira de Lucas Gomes




Eliete e Luiz, pais de Lucas, estão desolados com a perda do filho atleta (Foto: Wagner Santana)


As bandeiras a meio mastro no Estádio São Benedito, “O Diogão”, na entrada do município de Bragança, no nordeste paraense, indicam o luto. No centro do campo, a bola parou de rolar durante o minuto de silêncio feito pelos homens que costumam jogar uma pelada, todo fim de tarde. Foi no gramado do Diogão que o jogador Lucas Gomes deu os primeiros passos para se profissionalizar no futebol e se consagrar como um ídolo no município.

CONFIRA IMAGENS DA CARREIRA DE LUCAS

Aos 26 anos, o atleta paraense foi uma das 71 vítimas fatais do acidente aéreo com a delegação da Chapecoense-CS, na Colômbia, na madrugada de ontem (leia mais no caderno Bola). Foi no Diogão que, há 9 anos, Lucas foi visto pelo professor Ivan Almeida, então técnico do Bragantino, na categoria Sub-20. O treinador observou a velocidade e a força do atleta. “Já tinham me falado muito sobre ele. O Lucas já era conhecido por suas atuações nas copas rurais que eram promovidas na região bragantina, relata.

Na época, Lucas Gomes tinha apenas 17 anos de idade - novo, para jogar profissionalmente, mas com o talento maduro. Passou a integrar o time do Sub-20 do Bragantino, onde ficou por dois anos e, em seguida, mais um ano como jogador profissional. “Desde então, eu acompanhei passo a passo a evolução do Lucas, que explodia em campo”, acrescentou Ivan.

CARREIRA

Depois do Bragantino, Lucas jogou em times como São Raimundo de Santarém; Ananindeua, Tuna, Castanhal, Sampaio Corrêa-MA, Fluminense-RJ e Chapecoense-SC. A trajetória foi acompanhada por Ivan, que de treinador passou a fã do jogador.

Lucas era o filho caçula dos agricultores Eliete Bezerra, 52, e Luiz Gomes, 69. A família morava na comunidade Montenegro, na zona rural de Bragança. A mãe lembra que a primeira chuteira que o caçula calçou foi dada pelo irmão mais velho dele, Renato Gomes, 33, que mora em Porto Velho (RO).

“A gente não tinha condições de ajudar sempre o Lucas, a família sempre foi unida e, quando se tratava de ajudar uns aos outros, ninguém hesitava”, afirma dona Eliete. “Quando o Renato deu o primeiro par de chuteiras para o Lucas, disse para ele que queria vê-lo dando entrevista para a TV”, relata. “Quando isso aconteceu pela primeira vez, o Lucas citou as palavras do irmão”, lembrou, demonstrando o sentimento de gratidão que o atleta tinha.



TRISTEZA

Daí em diante, a família viu Lucas em campo, fazendo gols, e se destacando ainda mais como atleta, na mídia. As últimas notícias sobre Lucas, porém, não trouxeram alegria. Ainda era madrugada de ontem quando a família tomou conhecimento que o avião em que o atleta viajava caiu e ele estava entre os que não sobreviveram. A informação logo se espalhou pela cidade e Bragança amanheceu silenciosa. A atenção dos moradores se voltava para a casa onde os pais do atleta moram, no bairro Traíra. Ninguém acreditava na tragédia que tinha acontecido.

LEMBRANÇA

Eliete, consternada, chegou a telefonar diversas vezes para o celular de Lucas, na esperança de que ele atendesse às ligações. Isso não aconteceu. Foi difícil acreditar, mais difícil ainda aceitar a morte do filho querido. “Quero que as pessoas se lembrem do meu filho como um rapaz que realizou o seu sonho de ser um jogador de futebol profissional”, desabafou, tentando conter o choro e a dor da perda.

Aquinoan Carvalho, esposa de Lucas, havia se programado para passar o Natal com ele, em Bragança (Foto: Wagner Santana)


O filho que nunca desamparou a família

A mãe de Lucas Gomes, Eliete Bezerra, ressaltou que a reforma da casa onde mora foi feita pelo filho, que nunca desamparou a família.

O pai de Lucas, Luiz Gomes, não conseguiu conversar com a reportagem. Emocionado, chorou em silêncio, abraçado a uma camisa da Chapecoense que pertenceu ao filho. A última vez que falaram com Lucas foi sábado (24), por telefone. “Foi uma ligação rápida, porque estávamos tendo uma festa de aniversário em casa”, contou Eliete.

Lucas não tinha filhos, mas vivia em união estável com Aquinoan Carvalho, 28, com quem já tinha um relacionamento de 8 anos. Abalada, a companheira chorava muito vendo a foto dele e as camisas dos clubes nos quais jogou. “Eu estava morando com ele em Santa Catarina. Voltei semana passada, porque ele já vinha para Bragança em dezembro, de férias”, lembrou.

PLANOS FUTUROS

Lucas chegou a conversar com os pais que, quando fosse a hora de se aposentar do campo, pretendia fazê-lo em um time paraense, onde estaria perto de sua casa.

Márcio Koury, outra vítima do acidente (Foto: Reprodução)

Médico da Chapecoense morou no Pará e torcia para o Clube do Remo

O vice-presidente do Paysandu, Sérgio Serra, esteve recentemente em Chapecó, Santa Catarina. Na ocasião da visita, reencontrou o médico Marcio Bestene Koury, uma das vítimas do acidente com o avião na Colômbia. Serra contou que fez amizades com o presidente Sandro Pallaoro e com o executivo Maurinho, também entre os mais de 70 mortos.


“Hoje está sendo um dia muito difícil para mim”, contou Serra. “Lamento muito o desaparecimento dele e de todas as demais vítimas”, prosseguiu. Koury estudou em Belém na década de 90 e se formou em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Pará (UFPA).

Há dez anos, Marcio se mudou para Chapecó, onde se tornou médico do time. Dizia ter uma relação afetiva com o Pará e torcia para o Clube do Remo.

(Denilson D'Almeida e Nildo Lima/Diário do Pará)

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