Mega-projeto moderniza orla de Salinas

João Castro Filho planeja área de quiosques e estação de tratamento de água








Valéria Nascimento

Da Redação

“Salinas é o ponto do litoral mais fantástico do Brasil. Nenhum lugar do País tem aquela areia branca como talco’’. É com esse entusiasmo que o arquiteto e urbanista João Castro Filho finaliza um mega-projeto de modernização para a praia do Atalaia em Salinas, dentro da concepção de sustentabilidade, a pedido da Prefeitura de Salinópolis, no nordeste paraense, cerca de 220 km de Belém.

A proposta envolve dois quilômetros de comprimento por 60 metros de largura ao longo da orla do Atalaia, com início na altura do Hotel Privê até a Variante, com direito a 80 barracas em forma de pássaros, no padrão bares-restaurantes, além de uma praça central com 20 quiosques, área administrativa com uma subprefeitura para a gestão e a estação de tratamento de águas e esgotos com torre de 30 metros. Essa torre tanto abrigará a caixa d’água da estação de águas como funcionará como mirante para o visitante ter o visual do mar e da cidade.

No fim da orla, próximo à Variante, será construída a Praça de Eventos com instalação de concha acústica para grandes shows e espetáculos. Até o muro de arrimo será inovador, em formato ondular para reduzir a força da maré. Se não bastassem essas novidades, haverá captação da energia solar nas barracas e de água da chuva para uso nos banheiros dos bares. A ideia é buscar a parceria do Governo do Estado para viabilizar a remodelação completa do Atalaia.


UNIÃO


“Não há como estimar o orçamento ainda porque o projeto não está concluído. Há anos trabalho nele. A prefeitura de Salinas vai buscar a parceria do governo do Estado e quem sabe até do governo federal e recursos internacionais. É preciso unir forças. O município sozinho não tem recursos’’, constata João Castro Filho.

As 80 barracas em forma de pássaros são uma clara homenagem aos maçaricos e guarás, frequentadores mais antigos do Atalaia. O arquiteto recorda que os índios batizaram a região de Viriandeua ou Iriandeua, que no Tupi significa ‘’território de pássaros’’.

“Salinas é rota de pássaros. Aqueles maçaricos vêm do Canadá e vão para a Argentina e vice-versa. Tanto que o primeiro nome de Salinas foi Paraíso dos Pássaros, então, as barracas serão 80 pássaros à beira do oceano Atlântico’’, frisou João Castro Filho, que nas últimas décadas coleciona prêmios internacionais de Arquitetura, como a ‘’Medalha de Ouro’’ na Bienal Mundial de Arquitetura na Bulgária, o “Voz Emergente da América Latina’’ na Bienal de Buenos Aires e ainda outras “Medalhas de Ouro’’ nas bienais da Itália, França e Quito, no Equador.

As barracas em forma de pássaro também são uma homenagem ao mestre do arquiteto na Universidade Federal do Pará (UFPA), Milton Monte. “Ele foi o primeiro arquiteto no mundo a pensar uma barraca de praia simulando um pássaro. Ele fez essa alusão no Interpass Clube, em Mosqueiro. É um projeto totalmente diferente do dele, mas é uma referência a ele, meu professor’’, lembrou João.

A nova orla pode ser visualizada desta maneira: haverá 40 barracas de um lado e 40 barracas de outro, entre os dois lados, uma praça central abrigando o setor de 20 quiosques funcionando como tapiocarias, lanchonetes, tacacarias, sorveterias e até lojas de conveniência, bem como a parte administrativa do espaço. O premiado arquiteto trabalha com o conceito de sustentabilidade no teto zenital das 80 barracas e no aproveitamento da água das chuvas nos banheiros dos empreendimentos.

“Toda água usada nas barracas e quiosques será tratada na Estação de Águas e Esgotos. E mais, a água da chuva será captada nas barracas e armazenada numa cisterna e voltará para uso nas descargas dos banheiros’’, explicou o urbanista. Ou seja, a água limpa, tratada irá para as torneiras das barracas e a água da chuva para as descargas dos banheiros. ‘’Nada vai para a praia’’, frisou.

O conceito de sustentabilidade inclui a iluminação das barracas. De dia, elas não precisarão de energia elétrica, a iluminação virá por cima a partir do teto zenital. “Na abertura do teto, em formato de bico do pássaro, mais precisamente embaixo do bico do pássaro haverá uma iluminação zenital, de zênite, figura geométrica que na arquitetura permite uma iluminação de cima, natural’’, esclarece João.

Cada barraca bar-restaurante terá em seu interior copa-cozinha, o bar com espaço para 100 pessoas e um conjunto de banheiros com acessibilidade. Na área externa, as barracas terão espaço para mesas e cadeiras.


ESTACIONAMENTOS

O projeto poderá quebrar a cultura do trânsito de carros na areia da praia, já que ele garante 5 mil vagas de estacionamento ao longo da pista que acompanhará os 2 km de orla. Além disso, outras 5 mil vagas poderão ser acessadas nos chamados ‘’bolsões de estacionamentos’’, isto é, quadras transformadas em estacionamentos, totalizando 10 mil vagas para carros.

O total de 10 mil vagas de estacionamento, segundo o arquiteto, atenderá o movimento de maior pique do balneário, que tem cerca de 30 mil habitantes mas, em alta temporada, a exemplo do mês de julho, chega a concentrar 300 mil pessoas. “Hoje é difícil proibir o tráfego de veículos no Atalaia, porque não se tem opção de estacionamentos’’, lembra.

O arrimo da orla também será moderno. Ele será acurvo, ondulado. João Castro enfatiza que essa ondulação é necessária para minimizar o impacto da onda no arrimo em dias de marés grandes, lançantes. “A onda é energia, quando você bate direto, de frente em um plano reto, há 100% de energia ali, quando você ondula o plano, você reduz 80% daquela energia, minimiza o impacto, sem falar que você está imitando o mar, fazendo curvas, fazendo onda’’, argumenta o arquiteto.

Num plano de cima para baixo, a configuração visual da nova orla compreenderá o arrimo, depois 20 metros de calçadão, mais 20 metros de área para a barraca, pista e estacionamento. A diferença de altura do arrimo para a areia da praia, diz o arquiteto, vai variar em função da topografia do terreno, entre três e cinco metros de altura. “Essa altura será alcançada através de rampas e escadas ao longo da orla, amplamente acessível’’.

Para o piso-calçadão se projeta uma lajota que exiba o ‘S’ de Salinas. O paisagismo usará grama e arbustos com valorização de um conjunto colorido de bougainville, espécie muito presente e adaptada a Salinas. “Do acesso do estacionamento para as barracas e para a praia, a pessoa vai passar por baixo de belos caramanchões coloridos de bougainville’’, disse o urbanista.

“Salinas é o ponto do litoral mais fantástico do Brasil. Nenhum lugar do País tem aquela areia branca como um talco. No Nordeste brasileiro todo a areia é meio amarela. No Rio de Janeiro, é meio cinza. Em Santos, em São Paulo, é mais cinzenta ainda. Atalaia é perfeita. Nem na maré seca, ela fica tão distante. O rio Amazonas quebra um pouco a sua salinidade. Sim, porque as praias do Caribe são belíssimas, mas ninguém aguenta aquela salinidade altíssima, que inclusive faz mal à saúde. E, para completar, ela é o encontro da floresta Amazônica com o oceano Atlântico e o rio Amazonas, que ora e outra passa por lá’’, analisa João Castro Filho, para frisar a exuberância natural de Salinas.

PUNTA CANA


Ele destaca a necessidade de se preparar a praia do Atalaia como aconteceu com a Punta Cana, banhada pelo mar azul do Caribe e hoje o mais importante centro turístico da República Dominicana. E também destaca os investimentos que os alemães fizeram na ilha de Maiorca, hoje um grande ponto turístico espanhol no arquipélago das Baleares espanholas.

A área administrativa proposta pelo arquiteto para a praça central na orla, também se mostra moderna para os padrões dos balneários brasileiros. A área reserva espaço para o funcionamento de uma subprefeitura de Salinas, com as presenças do Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal e Polícia Militar. “Isso ainda não existe, é uma proposta moderna. A ideia é reunir os órgãos que possam oferecer serviços para o frequentador da praia e garantir a gestão do lugar’’, avalia o arquiteto.

Grande conhecedor de Salinas, o empresário Carlos Xerfan conheceu o projeto e o defende, apaixonadamente. “Eu tenho certeza que as pessoas e as autoridades, como o governador Simão Jatene, que podem determinar uma obra como essa, quando conhecerem esse projeto vão ficar bem impressionados como eu fiquei’’, afirmou ele, para completar em seguida: “Esse projeto é maior do o que foi feito na orla de Fortaleza. E você vê a força do turismo em Fortaleza por causa daquela orla. Então, esse projeto é bom para Salinas, o Pará e o Brasil. A beleza natural que nós temos ali é uma obra-prima e precisamos valorizá-la’’, disse Carlos Xerfan.

Outro grande incentivador do projeto é o médico João Felício Abraão, que doou um terreno de 700 metros e vai doar mais outra área de 1.300 metros para a conclusão do projeto de João Castro Filho. “É um médico que criou duas cidades: Salinas e Atalaia’’, disse o arquiteto sobre João Abraão.







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