Bois mortos começam a ser retirados de praia




Ontem à noite, equipe contratada pelos responsáveis pelos danos retirava os bois mortos da praia (Foto: Bruno Carachesti)



Uma a uma, as mobílias eram encaixotadas e colocadas em um caminhão de mudança. O pescador Pedro de Souza Gonçalves, 79 anos, a esposa e os dois filhos foram obrigados a abandonar a casa de madeira, em frente à Praia do Conde, em Barcarena, depois que as barreiras de contenção dos tanques de óleo e de bois do navio Haidar romperam, na noite de domingo.

A esperança de Pedro é que a operação de retirada dos bois da praia, que foi iniciada ontem, seja logo concluída e ele possa retornar para casa. A limpeza da praia está sendo feita por uma empresa terceirizada pelos responsáveis pelos danos causados com o naufrágio do navio. Vários órgãos federais estão fiscalizando essa operação. Na noite de ontem, vários trabalhadores da empresa retiravam os animais da praia, com a ajuda de tratores.

Até este trabalho ser concluído Pedro viverá num quartinho de hotel, emprestado por uma ex-chefe. Ele lamenta a mudança e, ao mesmo tempo, se sente obrigado em fazê-la, pois as ondas que batem na entrada de sua casa trazem o sangue dos animais. Na manhã de ontem, havia ainda centenas de bois amontoados na areia. Alguns têm pelos escuros pelo corpo. Outros já apresentam a pele branca e o corpo inchado. Um deles, em estado avançado de decomposição, estava na escada de acesso da casa de Pedro para a praia.

“São anos que eu vejo o sol nascer e se pôr aqui. São anos que recebo a brisa que vem da praia. Para onde vou, não será o mesmo”, lamenta o pescador, com uma máscara no rosto. O cheiro do animal morto é insuportável. O Posto de Saúde de Barcarena teve de distribuir
máscaras aos moradores.

A reportagem andou pela comunidade da Vila do Conde por 10 minutos sem nenhuma máscara. O primeiro contato com o cheiro é sufocante. A boca começa a salivar e ficar amarga. Em seguida, o estômago reage e embrulha. Em segundos, vem a ânsia de vômito. É preciso se afastar da praia ou encontrar algo com cheiro mais forte que o odor dos animais mortos para aproximar do nariz. Caso contrário, a possibilidade de passar mal é grande.

MAU CHEIRO

O militar Roberto Pacheco, 33 anos, se deita na cama para aliviar a vontade de vomitar. Ele chegou do serviço segunda de manhã e se deparou com os animais mortos próximo de casa. “Isso é horrível. Dá vontade de baldear. Até os cachorrinhos eu vi vomitando”, disse. A mãe de Roberto, Ana Alice Pacheco, 60 anos, não suportou o cheiro e precisou de atendimento no pronto-socorro. “Não consigo dormir, comer. Nada. Tudo por causa desse cheiro. É uma dor de cabeça terrível”, diz ela. A porta da cozinha de sua casa fica de frente para a praia. Do compartimento, é possível ver os bois apodrecendo e ainda sentir o forte cheiro.

Nascido e criado em Barcarena, o agente de portaria Dheimison Moraes, 36 anos, recorda o tempo em que tinha orgulho de dizer aos amigos que morava em frente à praia. Agora, ao olhar para os animais em decomposição, a voz trava, ele chora e clama para que as autoridades tomem providências urgentemente. “Dá uma tristeza, uma vontade de chorar. Só quem mora aqui e ama esse lugar é que sabe a dor que é. Toda a comunidade se sente triste. A gente pede para as autoridades fazerem algo logo, mas nem dão as caras.”

(Renata Paes/Diário do Pará)

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