LEMBRANÇAS QUE O TEMPO NÃO APAGA


Por Elizel Nascimento
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A escola nos dias de hoje



Fui aluno da primeira turma do Ginásio “Presidente Kennedy”. Morei ao lado do terreno da escola atual. Vi um mestre de obras orientando sua equipe na derrubada de um jutaizeiro por onde passaria o alicerce e as colunas do pavilhão. Depois a Fundação Educacional “Presidente Kennedy”, através de desapropriação indenizou meu pai e ficou com o terreno e o barraco onde morávamos, hoje URE.
Era tempo da ditadura. O ensino oficial normatizado exigia o exame de admissão ao curso ginasial. Então, a sede do Ypiranga passou a ser o recinto das aulas – uma espécie de cursinho de vestibular.
Chegaram os professores pioneiros dessa conquista: Carlos Vinagre e Américo Veiga, ambos fluentes na oratória, polivalentes nas disciplinas, didáticos. O professor Américo dominava a arte lúdica do teatro amador e lançou a peça “A Bruxinha Que Era Boa”.
Meses depois eu estava de farda – calça azul e camisa branca, assistindo aulas em sala do novo prédio. Aí chegou o professor Luis Nery dos Santos, acompanhado do deputado Geraldo Palmeira. Licenciado em geografia, o mestre Luis Nery, montou também um elenco de teatro com os alunos e organizou a comédia “A Vingança Do Destino”, depois “Paixão e Morte De Nosso Senhor Jesus Cristo”. Convidou-me para interpretar Pilatos. Aceitei, lavei as minhas mãos, e nunca mais esqueci essas cenas.
Organizamos um grêmio estudantil e surgiu o projeto “SPPK”.
- E o que foi o projeto SPPK?...
“Certo dia o deputado Palmeira chegou com um equipamento de som: toca-discos; microfones; duas “bocas de ferro”; fiação; discoteca e mandou instalar.
Formamos uma equipe de produção. O Roldão Fernandes, controlista e discotecário e os locutores Hélio Nascimento, Edson Pimentel, Aldemir Santos e, no revezamento, sobrou pra mim o horário da tarde como cronista.
Na discoteca de vinil ou Long Play estava identificada a “jovem- guarda” com os cantores Vanderlei Cardoso, Jerry Adriani, Roberto Carlos, Vanderléia, Reginaldo Rossi. Pra completar uns discos de bolero de Valdick Soriano e Agnaldo Timóteo.
“Com um estúdio apertado no canto da copa e as “bocas de ferro” penduradas num bambu foi pro ar o SPPK, com músicas, anúncios, notícias, mensagens”.
Instalou-se, também, a Biblioteca “Edson Franco”, com cerca de três mil títulos. Li até um livro que era censurado pelo rigor do regime da época – “Geografia da Fome” de Josué de castro.
O desempenho da comunicação em microfone no SPPK despertou em mim o interesse pelo aperfeiçoamento da voz e da redação, o que deve ter me ajudado no acesso à Rádio Clube do Pará, onde fui redator-chefe do Departamento de Notícias e Repórter. Entrevistei governador, presidente da República (Figueiredo) e até o papa João Paulo II. Mas, também, de microfone em punho fiquei de frente com bandidos.
Tudo passou. O SPPK calou. O teatro desmontou seu palco. O grêmio faliu. A biblioteca perdeu seu acervo. Os colegas dispersaram. Só ficaram as lembranças.

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2 Comentários

  1. Excelente biografia. Esse sim daria um excelente radialista formador de opinião, diferente de alguns sem qualificação alguma pra estar em uma rádio. Mas também qual formação é exigida pra ser comunicador dessa rádio "comunitária"?

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  2. A respeito dessa rádio dita comunitária, dentro de alguns quesitos que todo estatuto de rádio comunitária recomenda, pergunta-se: quem faz parte do seu conselho? qual a duração desse conselho e como ele é renovado? seus funcionários são assalariados e quem os paga? seus comunicadores, diretores e demais funcionários tem formação técnica-profissionalizante para atuarem nesse veículo de comunicação? O povo tem espaço garantido para se manifestar? A cultura popular local / regional tem presença efetiva em sua programação? seus comunicadores são verdadeiros formadores de pensamento reflexivo, crítico-construtivista? esse sistema de comunicação está a serviço do interesse do povo ou a de alguém em particular?

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