Por Elizel Nascimento
A Matriz de São Miguel Arcanjo, padroeiro de Maracanã, completa 125 anos e recebe nova pintura. A festividade já começou e segue até dia 29 deste mês, data consagrada ao santo orago. Mas a tradição religiosa vem de longe. Segundo o Padre Mateus Delgado, da Companhia de Jesus, em 1654, foi construída uma igrejinha de palma e pilão, dedicada a São Miguel na antiga aldeia. Com a expulsão dos Jesuítas, em 1755, todas as igrejas do Grão-Pará foram abandonadas. Diz uma crônica da época que foram feitas diligências na Vila de Cintra (Maracanã) para sequestro dos bens deixados pelos padres expulsos.
Em 1765, Belchior Henrique era diretor da Vila, quando a igreja de São Miguel estava desabando. Em visita pastoral à localidade, em 1845, o 9º Bispo do Pará, Dom José Afonso de Moraes Torres, afirmou que “A igreja Matriz dedicada a São Miguel, era pequena, construída de taipa, porém, suficientemente decente, situada em local elevado”. Em 11 de novembro de 1885, a Vila de Cintra conseguiu o título de Cidade, e foi iniciada uma demolição da antiga matriz para construção da atual, então, os atos litúrgicos eram celebrados na capela de São Benedito. A Assembleia Provincial votou e aprovou um projeto de orçamento de dez contos de réis para as obras da nova igreja. Em 1886, foi organizada uma comissão de intelectuais e políticos para fiscalizar a obra e receber seis contos de réis que ainda estavam nos cofres do tesouro público da Província, em Belém. Foram membros dessa comissão Afonso Barbosa da Cunha Moreira, Joaquim Roberto Pimentel, Anízio Antonio Dias e Francisco Salles. Em novembro de 1887, morreu o vigário da paróquia, Padre João de Santo Thomaz de Aquino Carréra, que pediu em vida para ser sepultado na igreja de São Benedito.
Em 1888, as obras da Matriz estavam sob responsabilidade do arrematante e mestre de obras José Pires dos Santos. Nesse ano, com o fim da escravatura, surgiu na cidade a Irmandade Nossa Senhora do Rosário, de sincretismo religioso e cultural afro-brasileiro. Muitos libertos ainda trabalharam na construção da igreja, que foi erguida completamente em 1890. Hoje é referência do patrimônio material e religioso de Maracanã. Em restauração recente foram trocadas as telhas coloniais pelas de fibrocimento e ganhou um piso de granito. Os paroquianos e devotos estão em festa sob a proteção de São Miguel que recebe, também, como homenagem uma regata de canoas à vela na baia do rio Maracanã.
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