Foto/Reprodução: Google |
MARACANÃ, SÍMBOLOS E FATOS
Elizel Nascimento da Paixão
Maracanã oficializou no seu calendário de eventos dois feriados municipais ao ano.O primeiro em 28 de maio para comemoração de seu aniversário de fundação, baseado na versão de que seu fundador foi o Padre Antônio Vieira, em 1653, o que enseja a celebração de 362 anos neste mês. O segundo, em 29 de setembro para reverenciar seu padroeiro São Miguel Arcanjo. No curso da história do município a data de 28 de maio de 1897 tem relação, apenas,com a mudança do nome de cidade de Cintra para Maracanã, através de um decreto do governador Paes de Carvalho.Portanto, não procede a afirmativa sobre o dia 28 de maio de 1653, como da chegada do Padre Vieira à aldeia Maracanã, uma vez que o jesuíta estava em São Luis do Maranhão, nesse período, conforme uma carta por ele escrita e datada de 20 do mesmo mês endereçada ao Rei de Portugal, certamente, sem tempo de alcançar pelo mar à localidade.Mas, ocorre que a Câmara de vereadores do município, em 1973, aprovou um Projeto de Lei que oficializou a bandeira, o brasão, o hino e o dia para aniversário de Maracanã, em 28 de maio de cada ano. E tudo tramitou às pressas, sem qualquer processo investigativo histórico e sem concurso, amparado na justificativa: “falham os documentos”. Uma fonte histórica revela que os primeiros estrangeiros que se estabeleceram em Maracanã, onde construíram grandes embarcações, foram os franceses comandados por Daniel de La Touche, em 20 de agosto de 1613, depois que deixaram o Caeté (Bragança), em 17 do mesmo mês.A missão dos padres da Companhia Jesus, chefiada por Antônio Vieira, somente chegou à capital do Pará, em 05 de outubro de 1653, quarenta anos depois que os franceses estiveram em Maracanã. Sobre essa trajetória de quatro séculos, onde predominou a miscigenação étnica do índio, negro e colonizador europeu que consolidaram uma diversidade cultural, os símbolos aprovados pela Câmara, apresentam um expressionismo vago. A bandeira com as cores branca, azul, amarela e vermelha, o autor da proposta, originalmente, classificou o vermelho como “respeito governante”. O hino na sua literariedade assegura nos seus versos: “ocultastes São Miguel de Cintra”. No entanto, a devoção ao padroeiro nunca fracassou, desde a igrejinha de palha dedicada a São Miguel, nem quando se estabeleceu a paróquia, nem com a expulsão dos padres da Companhia de Jesus, pois a religiosidade foi sempre um referencial da alma do povo maracanaense.O conteúdo poético do canto do hino é pouco percebido quando se dá uma conotação simbólica e empolgante de realeza nos versos: “teu panorama rebrilha com alteza... teu porto é como um portão real”, porém, não há o que se preservar como patrimônio material com a dimensão ou imponência de um palácio. Não se pode entronizar a memória história, pois tudo brotou de cima de um barranco, no silêncio de um estirão de rio: a igrejinha de palha,a missão dos jesuítas e o batismo do primeiro índio cristão – Copaúba, chefe da aldeia. Ou, mais além, à sombra de um estaleiro francês com um carpinteiro naval betumando uma canoa sob o olhar atento do nativo, há 402 anos passados.
Foto/Reprodução: Google |
Maracanã oficializou no seu calendário de eventos dois feriados municipais ao ano.O primeiro em 28 de maio para comemoração de seu aniversário de fundação, baseado na versão de que seu fundador foi o Padre Antônio Vieira, em 1653, o que enseja a celebração de 362 anos neste mês. O segundo, em 29 de setembro para reverenciar seu padroeiro São Miguel Arcanjo. No curso da história do município a data de 28 de maio de 1897 tem relação, apenas,com a mudança do nome de cidade de Cintra para Maracanã, através de um decreto do governador Paes de Carvalho.Portanto, não procede a afirmativa sobre o dia 28 de maio de 1653, como da chegada do Padre Vieira à aldeia Maracanã, uma vez que o jesuíta estava em São Luis do Maranhão, nesse período, conforme uma carta por ele escrita e datada de 20 do mesmo mês endereçada ao Rei de Portugal, certamente, sem tempo de alcançar pelo mar à localidade.Mas, ocorre que a Câmara de vereadores do município, em 1973, aprovou um Projeto de Lei que oficializou a bandeira, o brasão, o hino e o dia para aniversário de Maracanã, em 28 de maio de cada ano. E tudo tramitou às pressas, sem qualquer processo investigativo histórico e sem concurso, amparado na justificativa: “falham os documentos”. Uma fonte histórica revela que os primeiros estrangeiros que se estabeleceram em Maracanã, onde construíram grandes embarcações, foram os franceses comandados por Daniel de La Touche, em 20 de agosto de 1613, depois que deixaram o Caeté (Bragança), em 17 do mesmo mês.A missão dos padres da Companhia Jesus, chefiada por Antônio Vieira, somente chegou à capital do Pará, em 05 de outubro de 1653, quarenta anos depois que os franceses estiveram em Maracanã. Sobre essa trajetória de quatro séculos, onde predominou a miscigenação étnica do índio, negro e colonizador europeu que consolidaram uma diversidade cultural, os símbolos aprovados pela Câmara, apresentam um expressionismo vago. A bandeira com as cores branca, azul, amarela e vermelha, o autor da proposta, originalmente, classificou o vermelho como “respeito governante”. O hino na sua literariedade assegura nos seus versos: “ocultastes São Miguel de Cintra”. No entanto, a devoção ao padroeiro nunca fracassou, desde a igrejinha de palha dedicada a São Miguel, nem quando se estabeleceu a paróquia, nem com a expulsão dos padres da Companhia de Jesus, pois a religiosidade foi sempre um referencial da alma do povo maracanaense.O conteúdo poético do canto do hino é pouco percebido quando se dá uma conotação simbólica e empolgante de realeza nos versos: “teu panorama rebrilha com alteza... teu porto é como um portão real”, porém, não há o que se preservar como patrimônio material com a dimensão ou imponência de um palácio. Não se pode entronizar a memória história, pois tudo brotou de cima de um barranco, no silêncio de um estirão de rio: a igrejinha de palha,a missão dos jesuítas e o batismo do primeiro índio cristão – Copaúba, chefe da aldeia. Ou, mais além, à sombra de um estaleiro francês com um carpinteiro naval betumando uma canoa sob o olhar atento do nativo, há 402 anos passados.
(O autor e membro da Associação Paraense de Escritores)
1 Comentários
É O FAMOSO CONTRO+C MAIS CONTROL+V
ResponderExcluir