O adeus de dona Pureza

PUREZA DOS ANJOS NO RASTRO DOS IMIGRANTES

Por Elizel Nascimento da Paixão *

Ao manifestar meus sentimentos de pesar pelo falecimento de Dona Pureza dos Anjos Pinheiro Salomão, aos 94 anos, recorro ao meu arquivo pessoal, nesse início de maio de 2015, para tecer um pequeno histórico da imigração sírio-libanesa em Maracanã. Pureza era filha do libanês José Salomão, que chegava nestas terras por volta de 1900, vendendo miudezas pela zona ribeirinha, como faziam os ambulantes ou “mascates” no início do século passado. Em 1901, estava sócio comercial de seu conterrâneo Armindo José, mas dissolveu a sociedade em 1907. Casou com Isaura Pinheiro Salomão, com quem estabeleceu uma prole de dez filhos: Pedro, José, João, Josias, Jurandir, Pureza, Ana, Terezinha, Bernardo, Mário. Sempre estiveram no convívio sócio-político e empresarial do município, com exemplos de conduta e postura ilibada. Josias foi prefeito, Mário, também. Ousado e dinâmico no labor do comércio, José Salomão prosperou e comprou uma casa na Rua Espirito Santo, em 1917, onde fez um sortimento completo de mercadorias da época. Sem dominar as letras do “português”, seus documentos eram autenticados com uma assinatura a “rogo” e, civilmente, identificado como “turquiano” – ou natural da Turquia, um registro confuso e impreciso nos anais cartorários. Mesmo assim, José Salomão conduzia na prática, na experiência e no bom gerenciamento o seu comércio que deu um salto em 1926 comprando a “Casa Paris em Cintra”, dos herdeiros do português João Fernandes Pinto, que desde 1904 estava instalada em frente ao mar no final da Tv. Ernesto Gomes. Em 5 de junho de 1959, José Salomão já era falecido e o antigo casarão, passou ao controle de seu filho João Pinheiro Salomão,referência como endereço da extinta empresa de transporte “São João”, depois correios, e hojeresidência do vereador Rafael Raiol.

Pureza Salomão casou com Abdias Casseb, promotor-adjunto da Comarca de Maracanã, filho de João Jorge Casseb, comerciante e agricultor, natural da Síria, que se estabeleceu às margens do rio Peri-Meri, imigrante que deixou exemplosde como vencer desafios. É dessa família conceituada de DNAsírio-libanês, a quem desejo externar minhas condolências nas pessoas dos amigos Paulo Salomão Casseb, que foi vice-prefeito de Maracanã e José Augusto Casseb, vereador, - o primeiro é filho, e o segundo neto daquela que agora se despede com toda a pureza dos anjos.

* Professor, escritor, romancista, ex-secretário de cultura de Maracanã