A gaiola dos presos


Detentos do Pará são presos em gaiolas




O Pará foi notícia nacional ontem (6). E como notícia boa tem que pagar, a notícia é ruim porque é de graça.

A matéria da “Folha de S. Paulo”, assinada por Juliana Coissi, reporta a existência das insalubres “celas-gaiolas" em presídios do Pará. Se bem que o termo “cela insalubre”, no Brasil, é pleonasmo vicioso, pois o nosso sistema carcerário é um antro de insalubridade.

As celas-gaiolas já foram motivo de notícia negativa ainda no governo de Ana Júlia. Na ocasião, a então governadora culpou o “ex-governador” Jatene pelo problema e prometeu resolvê-lo até o final do seu governo, o que não fez.

Jatene, agora no seu terceiro mandato, continua engaiolando pessoas, agravando a patologia social do detento que, no Brasil, se tornou prova da nossa incompetência em praticar uma política penitenciária consequente, que recupere o cidadão que delinquiu para devolvê-lo, ao final da pena, ao convívio social.

Há os que pregam que seria melhor matar os delinquentes, na perfeita tradução tarantina de que “bandido bom é bandido morto”, mas como já chegamos a um grau civilizatório que não nos torna capazes de cometer genocídio (segundo os números do CNJ, o Brasil possui 711.463 presos: a terceira maior população carcerária do mundo) não nos sobra outra opção a não ser fazer a coisa certa: tentar recuperá-los.

"Eu entrei e não consegui ficar 15 minutos. A sensação é de que você está sendo cozido. Só indo lá para ver, de tão assustador", relatou à Folha, Adilson Rocha, presidente da Comissão de Acompanhamento do Sistema Carcerário da OAB.

"É um lugar estressante. Os parentes trazem ventiladores, mas mesmo assim é um ar viciado, e a temperatura passa facilmente dos 40 graus", relata o coordenador da Pastoral Carcerária do Pará, o diácono Ademir da Silva.



As gaiolas são confeccionadas dentro de barracões cobertos com amianto, o que torna o ambiente um forno. Desde 2010, o Conselho Nacional de Justiça, debalde, cobra dos estados o fim desse tipo de encarceramento.

A Susipe, no Pará, questionada pela Folha, saiu-se com a cínica desculpa do impaludismo: “os módulos de aço são comuns em prisões pelo mundo e há modelos semelhantes em outros Estados.”

Deveríamos copiar o que há de bom por aí. Importar soluções equivocadas é no mínimo insensatez e no máximo burrice mesmo, o que nos permite concluir que além de insensatos somos burros.

As fotos são de Paula Lourinho.

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