por Sérgio Freire (*)
Menina de 18 anos,
Antes de tudo, parabéns pelos 18 anos. Eu sei que é uma data importante porque nossa sociedade simboliza tudo. Um dia alguém decidiu: é 18. Não é 17 nem 20. É 18. Que 18 seja, então.
Sabe, menina de 18 anos, eu um dia já fiz 18. E me lembro de como eu esperava acordar nesse dia e ver todas as portas e janelas do mundo abertas, com seus segredos desvendados.
Viviam me dizendo que quando eu fizesse 18, eu começaria a entender. Eu esperei. Acordei naquele dia e descobri que ele era diferente dos outros só porque aqueles que gostam de mim fizeram questão de me dizer isso naquele dia. Mas nada de chaves de portas, nada de janelas escancaradas e nada de segredos do mundo.

Então, não fique triste se você não viver um pentecostes particular. É assim com todo mundo. #tamojunto.
Aos 18 a gente tem uma grande vantagem e nisso eu invejo você com aquela invejinha branca de quem se gosta: gás. Nossa! Como agente tem gás aos 18. Gás para experimentar, gás para tentar, gás para transcender.
Eu, que já estou aqui nos 40, te digo: o gás diminui. É igual a um balão de gás no dia seguinte: vai perdendo fôlego, vai perdendo altura, vai murchando. Mas não perdemos a vontade de voar. Apenas o corpo não acompanha a cabeça, essa, sim, cada vez mais acelerada.
Aproveite o seu gás, menina de dezoito anos.
Deixa eu fazer a coisa ficar mais bonita e tascar um latim: tempus fugit, carpe diem. O tempo foge, aproveite o dia. O tempo passa rapidola. Quando se vê já é meio-dia. Aí se pisca e já é meia-noite. Saiba aproveitar o tempo entre piscadas.
Aproveite tudo, com fome, com vontade, com tudo. Não. Com tudo, não. Com 99% de ganas. Guarde 1% como garantia de sanidade, como escape. Porque tem gente boa nesse mundo. Mas tem gente má. Gente que vai te machucar de graça e aí você vai precisar desse um por cento reparador.
Menina de 18 anos, este texto já está ficando grande. Meninas de 18 não curtem textos longos. Então eu vou parar.
Uma nota final: o melhor tempo é o que a gente está vivendo. Cada idade tem os seus humores, os seus gostos e os seus prazeres. Tempo: nele a gente sempre acha as razões do que veio antes e a gente não soube explicar então. Há sempre um tempo de explicações.
Não apresse o rio porque ele corre sozinho. Meu recado para você daqui da frente na linha do tempo: tenha sonhos e serenidade. Porque é como diz o poeta: cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz. Ninguém, menina de 18 anos, tem o direito de ser infeliz. Seja feliz. Carinho e uma boa vida.
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* Amazonense, é escritor, professor doutor e tradutor
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