O que diz o jornalista da Amazônia

 LÚCIO FLÁVIO PINTO
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Quando não é esquecido, o Pará – mesmo sendo o nono em população do país, com seus oito milhões de habitantes – é minimizado pela grande imprensa nacional. Só é destacado por fatos ruins, exóticos ou bizarros de que é cenário e vítima.

Essa regra se mantém na cobertura das eleições, indiferentemente ao fato de que o Estado é o segundo maior fornecedor de divisas ao país, abaixo apenas de Minas Gerais. É o quinto produtor e o terceiro exportador de energia bruta dentro das fronteiras nacionais, depois do Paraná (que abriga a usina de Itaipu) e Minas (que tem a maior quantidade de hidrelétricas, a maioria de pequeno porte).

A Folha de S. Paulo, o de maior tiragem dentre os principais veículos impressos da grande imprensa, abriu uma janela no seu noticiário para mostrar o governador que mais vezes conseguiu se eleger pelo voto direto no Pará (talvez no Brasil?). Simão Jatene aproveitou para desempenhar o papel que lhe foi atribuído na campanha eleitoral e a partir do qual montou numa nova biografia. Agora é o paladino dos interesses de todo povo paraense e não apenas um tucano da elite. Exibe uma moral e brada gritos de guerra que são desejáveis e elogiáveis, mas que soam falsamente na sua boca.

Insuflado pelo grupo Liberal, que o tem incensado com seus propósitos escusos, e cego pela exaltação da roda de áulicos e acólitos, que pretendem usufruir das benesses do novo mandado do PSDB, o governador olha para a sua nova biografia como se ela consolidasse o que fez, apagando tudo que deixou de fazer, mas que agora é tocada pelo dedo alquímico da farsa. O pó vira concreto pelo passe de mágica das palavras de um discurso tão constante que cansa e chateia. Porque é vazio de conteúdo, mero exercício retórico, de má sintaxe.

O título dado pelo jornal paulista à entrevista tem uma entonação homérica: “Planalto trata a Amazônia como ‘almoxarifado’, diz reeleito no PA”. É verdade. Mas, além de não reconhecer a fonte da expressão que usa (na forma original, de quase meio século atrás, diz: “a Amazônia é um almoxarifado, do qual tudo se retira e nada se repõe”), que não é dele, o governador é noviço e neófito na denúncia e na resistência a esse tratamento colonial.

A depredação do patrimônio amazônico com aval federal remonta no tempo e foi marca – ou nódoa – do regime militar, que deu o maior impulso a essa exploração colonial dos recursos e da gente da região. Mas o que fizeram de concreto Simão Jatene e Almir Gabriel, que deram ao PSDB o maior tempo de permanência no poder estadual, quando essa pilhagem avançou sob a regência do também tucano Fernando Henrique Cardoso, o príncipe sociólogo (à Maquiavel e Weber) do Brasil?

O que disse Jatene quando a lei Kandir, que já sugou dezenas de reais que deviam ter sido destinados aos cofres estaduais, foi aprovada por iniciativa de outro tucano, o deputado federal Antonio Kandir, de São Paulo (ex-ministro da área econômica de Collor de Mello), em 1996?

E o que ele e Gabriel fizeram nos anos seguintes, a não ser gritar em falsete, quando oportuno, e calar em absoluto, quando conveniente, diante da poderosa Vale, que podia criar sonhos e utopias, se enquadrada nos parâmetros de uma política pública eficiente, mas apenas molhou as mãos de políticos, donos de jornais e quetais para calar-lhes a boca e estufar-lhe os bolsos?

Circunstâncias e anomalias permitiram ao economista Simão Robison Jatene, aos 65 anos, se tornar o maior político da história do Pará pelo critério de eleições diretas acumuladas. Mas esse estandarte está mais coerente com a pobreza imposta ao Pará do que com sua riqueza dilapidada.

“Menas” fantasia, sr. governador. Mais realismo, trabalho e competência. Para fazer para merecer o que os ventos caprichosos e sádicos da história lhe proporcionaram: a oportunidade de se redimir, assumir a humildade, ver com realismo e fazer pelo Pará o que não fez – e deixar de fazer o que não devia ter feito.

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