E agora TSE? Hacker revela no Rio como fraudou eleição:
Um
novo caminho para fraudar as eleições informatizadas brasileiras foi
apresentado no último dia 10 para as mais de 100 pessoas que lotaram
durante três horas e meia o auditório da Sociedade de Engenheiros e
Arquitetos do Rio de Janeiro (SEAERJ), na Rua do Russel n° 1, no
decorrer do seminário "A urna eletrônica é confiável?", promovido pelos
institutos de estudos políticos das seções fluminense do Partido da
República (PR), o Instituto Republicano; e do Partido Democrático
Trabalhista (PDT), a Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini.
Acompanhado por um especialista em transmissão de dados, Reinaldo Mendonça, e de um delegado de polícia, Alexandre Neto, um jovem hacker de 19 anos, identificado apenas como Rangel por questões de segurança, mostrou como -- através de acesso ilegal e privilegiado à intranet da Justiça Eleitoral no Rio de Janeiro, sob a responsabilidade técnica da empresa Oi - interceptou os dados alimentadores do sistema de totalização e, após o retardo do envio desses dados aos computadores da Justiça Eleitoral, modificou resultados beneficiando candidatos em detrimento de outros - sem nada ser oficialmente detectado.
"A gente entra na rede da Justiça Eleitoral quando os resultados estão sendo transmitidos para a totalização e depois que 50% dos dados já foram transmitidos, atuamos. Modificamos resultados mesmo quando a totalização está prestes a ser fechada", explicou Rangel, ao detalhar em linhas gerais como atuava para fraudar resultados.
O
depoimento do hacker que se diz disposto a colaborar com as
autoridades, foi chocante até para os palestrantes convidados para o
seminário, como a Dra. Maria Aparecida Cortiz, advogada que há dez anos
representa o PDT no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para assuntos
relacionados à urna eletrônica, o professor da Ciência da Computação da
Universidade de Brasília, Pedro Antônio Dourado de Rezende, que estuda
as fragilidades do voto eletrônico no Brasil, também há mais de dez anos
e o jornalista Osvaldo Maneschy, coordenador e organizador do livro
Burla Eletrônica, escrito em 2002 ao término do primeiro seminário
independente sobre o sistema eletrônico de votação em uso no país desde
1996.
Rangel,
que est á vivendo sob proteção policial e já prestou depoimento na
Polícia Federal, declarou aos presentes que não atuava sozinho: fazia
parte de pequeno grupo que - através de acessos privilegiados à rede de
dados da Oi - alterava votações antes que elas fossem oficialmente
computadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
A
fraude, acrescentou, era feita em beneficio de políticos com base
eleitoral na Região dos Lagos - sendo um dos beneficiários diretos dela,
ele o citou explicitamente, o atual presidente da Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado Paulo Melo
(PMDB).
A
deputada Clarissa Garotinho, que também fazia parte da mesa, depois de
dirigir algumas perguntas a Rangel - afirmou que se informará mais sobre
o assunto e não pretende deixar a denúncia de Rangel cair no vazio.
Fernando Peregrino, coordenador do seminário, por sua vez, cobrou providências: "Um crime grave foi cometido nas eleições municipais deste ano, Rangel o está denunciando com todas as letras - mas infelizmente até agora a Polícia Federal não tem dado a este caso a importância que ele merece porque ele atinge a essência da própria democracia no Brasil, o voto dos brasileiros", argumentou Peregrino.
Por ordem de apresentação, falaram no seminário o presidente da FLB-AP, que fez um histórico do voto no Brasil desde a República Velha até os dias de hoje, passando pela tentativa de fraudar a eleição de Brizola no Rio de Janeiro em 1982 e a informatização total do processo, a partir do recadastramento eleitoral de 1986.
A Dra. Maria Aparecida Cortiz, por sua vez, relatou as dificuldades para fiscalizar o processo eleitoral por conta das barreiras criadas pela própria Justiça Eleitoral; citando, em seguida, casos concretos de fraudes ocorridas em diversas partes do país - todos abafados pela Justiça Eleitoral.
Detalhou fatos ocorridos em Londrina (PR), em Guadalupe (PI), na Bahia e no Maranhão, entre outros.
Já
o professor Pedro Rezende, especialista em Ciência da Computação,
professor de criptografia da Universidade de Brasília (UnB), mostrou o
trabalho permanente do TSE em "blindar" as urnas em uso no país, que na
opinião deles são 100% seguras.
Para Rezende, porém, elas são "ultrapassadas e inseguras".
Ele
as comparou com sistemas de outros países, mais confiáveis
especialmente as urnas eletrônicas de terceira geração usadas em algumas
províncias argentinas, que além de imprimirem o voto, ainda registram
digitalmente o mesmo voto em um chip embutido na cédula, criando uma
dupla segurança.
Encerrando a parte acadêmica do seminário, falou o professor Luiz Felipe, da Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que em 1992, no segundo Governo Brizola, implantou a Internet no Rio de Janeiro junto com o próprio Fernando Peregrino, que, na época, presidia a Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj).
Luis Felipe reforçou a ideia de que é necessário aperfeiçoar o sistema eleitoral brasileiro - hoje inseguro, na sua opinião.
O relato de Rangel - precedido pela exposição do especialista em redes de dados, Reinaldo, que mostrou como ocorre a fraude dentro da intranet, que a Justiça Eleitoral garante ser segura e inexpugnável - foi o ponto alto do seminário.
Peregrino informou que o seminário será transformado em livro e tema de um documentário que com certeza dará origem a outros encontros sobre o mesmo assunto - ano que vem.
Disse ainda estar disposto a levar a denuncia de Rangel as últimas consequências e já se considerava um militante pela transparência das eleições brasileiras: "Estamos aqui comprometidos com a transparência do sistema eletrônico de votação e com a democracia no Brasil", concluiu. (OM)
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