A Força da fé
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Ícaro Gomes |
Paraense que sou, caboclo criado na base do carimã e do
chibé, tenho a flor da alma a fé que move montanhas, a cara da emoção de ser um
devoto de Nossa Senhora de Nazaré. Aliás, o atributo da devoção é inerente ao ser paraense. O Círio de Maracanã, uma homenagem do povo valente desta terra à Virgem de Nazaré, é um refrigério para a alma cabocla e cabana. Renova sempre as energias, mostra novos horizontes e permite que cada um, cada uma, possa oferecer sua gratidão as bençãos alcançadas.
São várias homenagens - pelo rio Maracanã, pela estrada PA-127, a trasladação, a procissão do Círio no domingo e o Círio das crianças. De todas as formas, encontramos um jeito de reverenciar a mãe de Jesus.
Mas, a romaria para cada um de nós, começa bem antes - nos furos, nos igarapé, no beiradão, no trapiche, na ponte, nas canoas, barcos a motor, à velas, a remo, nas rabetas, na ilha, nos barrancos, nos quintais adornados para a ocasião, no patarrão amarrado, no tucupí espremido, no almoço a base de maniçoba e pato no tucupi para a família e para os convidados, inclusive, àquele parente distante que não vinha quase uma década na cidade.
O Círio tem sua força, charme, é um momento de reencontro com a fé, com Nossa Senhora, com Jesus, é também, uma oportunidade de festejar "o natal dos paraenses" com o carinho de todos da família, numa só reunião, a vinda dos filhos, o reencontro com os queridos e queridas. O Círio é uma festa de paz, alegria, fervor, religiosa, profana. Na véspera, aquela esticadinha para conferir as aparelhagens do momento, sem voltar muito tarde da madrugada para que não esteja cansado durante a procissão. O Círio é sempre mais do que imaginamos, muito mais além da nossa vã compreensão.
Há romeiros que vêm caminhando desde Igarapé-Açu, outros que vão pagando suas promessas com casas de isopor na cabeça, imagens em gesso de partes do corpo, os que vão na corda, a corda da esperança, da fé, do desprotegido, a corda que consola. E na corda precisa estar com os pés descalços, prontos para tocar na terra e sonhar com o futuro.
É por tudo isso, pela fé crescente no meu coração, que quando a berlinda passa com a santinha este caboclo paraense se emociona...
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