Bragança


Marujadas de São Benedito começam a chegar


Marujadas de São Benedito começam a chegar (Foto: Diário do Pará)
As comitivas já são vistas nas praias da cidade, romaria fluvial será dia oito (Foto: Diário do Pará)
Em Bragança, os tambores dos grupos de esmolação da festividade de São Benedito já rufam pela cidade. Nas casas e estabelecimentos comerciais, os devotos começaram a receber peregrinos para rezas e ladainhas desde o dia 4 deste mês, quando a comitiva das colônias chegou à área urbana, pelo bairro da Vila Nova. No último dia 18, a comitiva dos campos deixou a região do Ferreira, última parada na área rural do município e chegou ao bairro da Vila Sinhá, seguindo por toda a redondeza. Agora só faltam os peregrinos da comitiva das praias, que já estão na área ribeirinha do município, começarem a percorrer a cidade.
A chegada da comitiva das praias é a mais pontuada, por ser em uma romaria fluvial, dia 8 de dezembro, quando milhares de devotos vão até orla assistir  ao desfile das embarcações vindas da comunidade do Camutá, referência dos mais tradicionais produtores da famosa farinha de Bragança. Entre eles, está a família Padilha, que cedeu o ponto mais alto da região para ser construído o Mirante de São Benedito, o mais novo ponto turístico da Pérola do Caeté.
“Há uma série de motivos que fizeram da chegada da comitiva das praias um evento diferente da chegada das outras duas. O tradicional encontro para a última ladainha da peregrinação do ano antes de chegar à cidade já dá início ao evento. Com a construção do Mirante, ao lado da casa deles, essa última ladainha se tornou uma coisa enorme. Há os jovens que andam de voadeiras e jets que também participam. Enfim, é um evento muito bonito e uma grande festa”, diz o presidente da Irmandade de São Benedito da Marujada de Bragança, João Batista Pinheiro.

ESMOLAÇÕES
As comitivas de esmolação são grupos de peregrinos que percorrem três regiões distintas: os campos, as praias e as colônias. Cada uma possui dois porta-bandeiras que seguem sempre à frente do grupo. Ao se aproximarem de uma casa a ser visitada, os porta-bandeiras fazem movimentos típicos. Ondulam o pavilhão com a imagem do santo, ora para um lado, ora para outro. Cruzam os mastros e, em seguida, abaixam e erguem as bandeiras reverenciando os devotos que aguardam em frente à residência. Atrás das bandeiras, vem o carregador da imagem do santo, trazendo à tira colo, uma toalha que serve para envolver a base da pequena e tão venerada imagem. Ao lado, há outro promesseiro com uma sombrinha, que, simbolicamente, protege a imagem do sol e da chuva.
O trajeto das comitivas é previamente agendado. Durante o dia, fazem diversas visitas, que duram cerca de 20 a 30 minutos, cantando em latim caboclo, um trecho da Ladainha de São Benedito. No final da tarde, chegam à casa de um promesseiro que os aguarda para a celebração. À noite, os tambores anunciam o início da louvação com a Ladainha de São Benedito completa, além de outras orações.
Nas celebrações mais longas, a imagem do santo é colocada num altar confeccionado pelo próprio dono da casa. Após a ladainha, geralmente é servido um mingau aos presentes e um jantar aos componentes do grupo. Encerrados os ritos de fé, os integrantes da comitiva pernoitam na residência, sendo que dois deles dormem no mesmo ambiente onde foi celebrada a ladainha, representando a guarda simbólica da imagem do santo. Ao amanhecer, após o café da manhã, os peregrinos rezam em agradecimento pela acolhida e seguem adiante.
Andarilhos de amor e fé por Bendito
Durante as visitas, as comitivas recebem doações em dinheiro e animais que serão leiloados na manhã do dia 26 de dezembro. A comitiva dos campos sai de Bragança, passando por Tracuateua, até às comunidades de Mirasselvas e Tauari, no município de Capanema. A comitiva das praias visita todas as comunidades litorâneas de Bragança, se estendendo até Carutapera, no Maranhão. A outra comitiva peregrina por todas as vilas localizadas ao longo das rodovias do Cacoal do Peritoró e Dom Eliseu, que interligam as colônias bragantinas.
Cada uma das comitivas é formada por treze devotos, que fizeram promessas de prestar o serviço em gratidão a São Benedito. Quem faz parte, permanece envolvido com as peregrinações por quase nove meses seguidos. Após cumprir as centenas de visitas em cada uma de suas áreas, as comitivas dos campos e das colônias retornam à cidade a partir de novembro.
Valdeci Sousa Santos, 46 anos, que lidera a comitiva das praias entregou-se à missão aos 20, quando fugiu de casa para realizar o sonho considerado uma loucura pela família, que apostava em outro destino para ele. “Nas comitivas, somos uma família, todos filhos de São Benedito. Ficamos na cidade entre meados de dezembro a meados de abril, período, em que sentimos muita saudade da vida que só vivemos quando estamos em peregrinação, andando e cantando, quilômetros e adentro, querendo cada vez mais caminhar e cantar em louvor ao nosso Glorioso”, diz o devoto, inteiramente realizado com o caminho que escolheu viver.
Depois de dar prosseguimento às rezas e ladainhas em residências de diversos bairros, a comitiva dos campos leva de volta a imagem à Igreja de São Benedito, dia 16, pela manhã. Na mesma data, os peregrinos da colônia conduzem a imagem à igreja pela parte da tarde e, no dia seguinte, os praianos cumprem o mesmo rito, e então as três imagens permanecem até abril do ano seguinte, quando recomeçam as esmolações. Dia 18, a festividade de São Benedito é aberta oficialmente às 5h, com a tradicional alvorada, quando a marujada faz uma roda e dança em torno da igreja, às margens do rio Caeté, abraçando simbolicamente o templo.
(Diário do Pará)

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