Outro dia li um texto – não me recordo o autor – que trata sobre as definições de um cidadão. Aliás, um cidadão que não sabe mais o que é. O texto dizia que o cidadão quando entra no supermercado é um cliente; para a justiça eleitoral, um eleitor; para o livreiro, um leitor; no hospital é um paciente; na praia um banhista; no banco um pequeno correntista. Enfim, são tantas e tantas definições, que no enredo final o cidadão acaba por não se conhecer.
Desde o ano passado, respondo a uma queixa-crime, pois supostamente ofendi alma de alguém num discurso. Ora, vejamos os livros subversivos de papai que estão no velho baú da casa da minha mãe, bem empoeirados por sinal, para lembrarmos que nasci em 8 de maio de 1968 – o dia que o governo militar editou o AI-5 proibindo a liberdade de expressão. Será que a livre expressão agora deixou de ser? Uma cidadã querendo recordar Mussolini definiu que não posso mais usar meu direito de ser livre para expressar-me. Coisas dos porões da ditadura, da tolice de quem não tem argumentos, e em vez de explicar o que lhe é cobrado, prefere recorrer ao Judiciário com o propósito de “enganar” os protagonistas.
Era só o que me faltava. Agora sou um querelado. O termo é usado pelo direito para definir um cidadão interpelado por uma Queixa-crime. A acusadora é uma querelante. Com tanta coisa pra se fazer na vida, estamos sentando vez ou outra no tribunal para discutir o sexo dos anjos.
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