AINDA ESTOU AQUI

 Por Orlando Tadeu Ataíde Leite 




Assunto do momento, esse filme tem dado o que falar, especialmente pelo tema que aborda. E “pegou” fogo quando uma atriz brasileira abocanhou, até mesmo de forma surpreendente, um importante prêmio no imponente cenário do Globo de Ouro, inclusive concorrendo com atrizes do staff de Hollywood, fato de importância singular para o país, inclusive com repercussão internacional, o que nos põe em evidência não mais com o surrado jargão O país do futebol e do samba, mas agora respeitado, também, como o país da cultura cinematográfica, disputando Hollywood com os monstros sagrados da chamada sétima arte.

E então o tão perverso e cruel muro nada civilizatório que tem separado o país, produzindo o divisionismo, essa estúpida polarização que nos separa e segrega, que nos impede, mesmo em uma agradável e inocente mesa de bar, ou mesmo no ambiente familiar de um simples jantar, de discutir os rumos do país, de “ousar” ter um lado nesse muro odioso e hostil, acaba desembocando em um momento que deveria ser de glória e de orgulho para todos nós, quando uma atriz brasileira chega tão alto, pondo os pés em um pódium de Hollywood, sonho maior de qualquer artista da representação.

Gente fechando os olhos para a importância da vitória de Fernanda Torres, em um horrível e malfadado “boicote ideológico”,  tão somente porque a película aborda temos sensíveis e controversos, como o período ditatorial por que passou o país, especialmente nos anos de 1970, quando ativistas que ousavam contestar o regime de exceção eram perseguidos, muitos deles desaparecidos, enfoque que é referenciado no premiado filme de Walter Salles.

E a pergunta que não quer calar, clichê necessário neste contexto, é: “Quem realmente é patriota, aqueles que aplaudem um filme nacional que rompe barreiras e paradigmas previamente estabelecidos de que só é bom e de qualidade o cinema americano ou europeu, ou os que torcem o nariz e criticam o filme simplesmente por seguir a cartilha de uma ideologia extremista, que não acredita nem aceita verdades incontestáveis, historicamente comprovadas, de que realmente houve um período negro de nossa História em que inúmeras brasileiras e inúmeros brasileiros sofreram barbaridades por contestar e por lutarem contra o sistema opressor”?

E a protagonista de Ainda estou aqui, durante longos e sofridos quarenta anos, fez de sua luta incessante por saber a verdade, por descobrir o que realmente aconteceu com amado esposo, sua profissão de fé, um verdadeiro libelo, uma verdadeira lição de vida para todas e todos aqueles que lutam até o fim pela verdade para que a justiça prevaleça e para que culpados sejam punidos e inocentes sejam reerguidos.

E é esta justamente a grande lição que fica do filme: Ainda estou aqui é o que devemos dizer e reafirmar, alto e bom som, toda vez que formos vítimas de injustiças e de perseguições, sejam quais forem, e venham de onde vier.



* O autor é professor na área de linguagem na rede pública estadual, escritor e articulista.

 

 

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