SALINAS - MAIS ELOQUENTE QUE A VITÓRIA DOS SENA, FOI A DERROTA DOS GOMES

Kaká Sena

Por Farol Salinense

Durante mais de 25 anos (salvo duas breves interrupções de 1997 a 2000 e 2009 a 2012), os Gomes comandaram Salinópolis com mãos de ferro. Durante esse quarto de século, Di Gomes elegeu-se três vezes prefeito (o único capaz de tal façanha) e uma vez deputado estadual; Paulo Henrique Gomes, duas vezes prefeito; Paula Gomes, uma vez deputada estadual. Afora irmão e sobrinho de Di Gomes que se elegeram para cargos no legislativo municipal por força de terem o mesmo sobrenome. Ressalte-se ainda que as eleições de 1996 e 2020 foram vencidas por candidatos que tiveram o apoio maciço dos Gomes. Sua influência política, no entanto, ia além das fronteiras municipais, chegando a outros municípios da microrregião do salgado como São João de Pirabas, Primavera, Santarém Novo e Maracanã.

A simbiose com o poder era tamanha que não foram poucas as vezes que trataram a coisa pública como se fosse extensão do patrimônio particular deles. Patrimônio, aliás, que só se multiplicou desde que chegaram ao poder. Desse modo, é possível analisar a vitória de Kaká de Sena sob vários aspectos, pois ela representa, indubitavelmente, a ruptura de alguns paradigmais até então estabelecidos na política salinopolitana.

Primeiro, a derrota de um clã político que sempre se utilizou do poder econômico para se sobrepor e/ou subjugar outras agremiações políticas. Uma derrota eloquente, diga-se de passagem, pois a única vez que esse grupo perdeu uma eleição municipal, em 2008, foi com um candidato que não pertencia à família Gomes. Ou seja, um Gomes de verdade nunca havia sido derrotado em eleição municipal. E mais. Não foi qualquer Gomes que foi derrotado, mas o mais proeminente e o mais próspero deles. Em termos de disputas políticas e números de votos, Paulo Henrique certamente é o nome mais pujante do clã Gomes, o que mais se destacou, visto que além de ser eleito duas vezes prefeito, muito bem votado, aventurou-se numa candidatura a deputado federal recebendo quase 60 mil votos.

DI e PH

A vitória de Kaká representa, também, uma virada na história política de Salinópolis. Uma história marcada pela intransigência administrativa dos Gomes, que sempre se sentiram acima do bem e do mal e, sobretudo, acima do cidadão comum salinopolitano, a ponto de estes se comportarem como se devessem obediência àqueles. Uma história de pouco ou nenhum apreço pelo servidor público e pela perseguição àqueles que ousaram ir contra eles. Uma história de violência de política – física, verbal e simbólica - patrocinada e incentivada por eles. Ora, o povo jamais esqueceu das inúmeras vezes que capangas dos Gomes usaram da violência, da intimidação e da baderna para impor suas vontades, ou de quando a cozinheira de PH agrediu com tapa na face a Secretária de Administração, ou mesmo de quando o próprio PH agrediu com um soco um vereador dentro da Câmara Municipal.

Todos esses fatores alimentaram e sustentaram o clã político mais duradouro de Salinópolis. Entretanto, o mesmo modus operandi, que por muito tempo lhe garantiu o poder, foi aos poucos também despertando a antipatia da população. E a derrota, que até então não fazia parte da história política do clã, foi cada vez se fazendo mais presente. A primeira foi a não reeleição de Paula Gomes para o parlamento estadual e a inglória tentativa de PH de chegar ao parlamento federal.

No campo municipal, onde lograram sucessivas vitórias, bastou que outro grupo chegasse ao poder e mudasse a maneira de governar e de tratar a coisa pública para que os Gomes vissem seu império ruir e desabar.

Portanto, a vitória de Kaká Sena representa, sobretudo, UM GRANDE ATO DE REPÚDIO da maioria da população à família Gomes, à forma inflexível de governar e, principalmente, à violência incentivada e patrocinada por eles.