Ramal do 40, a rodovia PA 430 - Histórias e memórias do Vilarejo 40 do Mocooca em Maracanã




O RAMAL DO 40 - HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE COMUNIDADES NA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA MARACANÃ, NORDESTE DO PARÁ (1960-2020) é uma Tese apresentada pela professora Elida Moura Figueiredo ao Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA), como parte dos requisitos para obtenção do grau de doutora em História Social da Amazônia, trabalho orientado pelo Prof. Dr. Agenor Sarraf Pacheco.



Agradecimentos no vilarejo





"No vilarejo do 40 do Mocooca, minha gratidão a todas as pessoas que ajudaram na construção deste trabalho. Amigos, interlocutores, colaboradores, informantes, vi instituições locais (escola, Igreja, posto de saúde), enfim todos os agentes desta pesquisa. Vocês foram os grandes parceiros e maiores colaboradores nesta empreitada. Mas quero agradecer especialmente à Luzinete Nogueira e Erivelton Balga, que contribuíram com algumas fotografias, além de suas lembranças e afetividades nesta região. Quero explicitar aqui gratidão especial à professora Graça Santana, amiga querida que me apresentou à toda essa região, e que esteve muitas vezes ao meu lado durante as pesquisas, divagações e análises de alguns relatos. Graça colaborou também com seu acervo de fotografias sobre a região. Agradeço pela contribuição, ao fotógrafo Sandro Barbosa, com suas belas imagens sobre a região; ao professor de artes visuais, Sandro Almeida, pelas ilustrações perfeitas que enriqueceram o trabalho final; e à Juliana Araújo que fez uma primorosa correção. Obrigada a todos vocês!".


O que é o estudo?

"Este estudo tem como objetivo compreender, do ponto de vista das experiências históricas, mudanças e continuidades nos modos de vida dos moradores de uma comunidade de pescadores amazônicos, o 40 do Mocooca, a partir do surgimento de novas formas de mobilidades com a construção de uma estrada que provocou a emergência de outras zonas de contato, práticas sociais, trocas culturais, alterando tradições na cotidianidade local. A pesquisa foi realizada na região do 40 do Mocooca, vilarejo do município de Maracanã, Zona do Salgado paraense, entre os anos de 2018 e 2021, cronologicamente definido entre 1960-2020. Teoricamente fundamentou-se na História Social e nos Estudos Culturais e metodologicamente seguiu orientações da crítica documental e da História Oral para dialogar com memórias coletivas e individuais em circuitos da tradição oral como constituinte dos modos de ser, pensar e agir dos habitantes dessa região. No trabalho, defende-se a tese de que mudanças percebidas no estudo do passado frente ao presente, se por um lado alteram teias de relações tecidas por décadas entre moradores e ambiente com o contato de novos agentes históricos, informações, produtos culturais, especialmente, na virada do século XX para o XXI, por outro lado, mesmo em condições desiguais, os agentes sociais do lugar reelaboram os novos aparatos tecnológicos e culturais e seguem em defesa de suas tradições vivas, lutando diariamente por aquilo que acreditam ser o caminho do desenvolvimento local. Para explicar esta tese, a pesquisa se apoia em análises da experiência e das vivências dessas pessoas, assim como no estudo dos pequenos e grandes eventos locais, alguns individuais, outros coletivos, na tentativa de entender a trajetória dessa comunidade que se apresenta numa rede de relacionamentos e decisões de uma vida móvel entre o campo e a cidade, entre o passado e o presente, entre a natureza e a urbanização, entre a pesca e um tipo de turismo, que chamamos de “alternativo” e “informal”, que vem forçando o aparecimento de algumas práticas globalizadas observadas a partir da chegada de novas necessidades e hábitos de consumo local, sobretudo, pelos mais jovens".

O surgimento do 40 do Mocooca



"...período aproximado, uma vez que chegamos a ele levando em consideração a memória, os relatos, a idade dos moradores e o período de surgimento do vilarejo do 40 do Mocooca. 23 Furo é o termo da geografia utilizado para identificar pequenos canais que ligam dois rios entre si ou um rio a um lago (ANDRADE, 1958). No caso do Furo do 40, é como os moradores costumam chamar o braço de mar que separa a Ilha de Maiandeua do Continente e do vilarejo do 40 do Mocooca. 37 Percebemos, nas narrativas coletadas, que esse episódio marcou a vida dessas pessoas, visto que foi a primeira vez que estes presenciaram a fúria da natureza naquele lugar, situação que, de acordo com eles, tem se repetido. Durante nossas conversas com esses velhos pescadores (Seu Alair, Dona Felipa e Seu Sérgio), sem conseguir precisar datas, estes contaram que as famílias, que viviam ali, foram expulsas, uma a uma, na década de 1950 até o início de 1960 do por conta das grandes marés que levavam a faixa de areias em que essas pessoas residiam. Conforme os relatos, as áreas de terra firme, adentrando a ilha, possuíam donos, desse modo, a maioria das famílias, que vivia nessa faixa de praia, foi, pouco a pouco, sendo obrigada a atravessar para o outro lado do Furo de aproximadamente 500 metros (maré cheia), a fim de ocupar uma área de terras firmes próximas ao braço de mar, iniciando-se, dessa forma, a ocupação do vilarejo, hoje denominado 40 do Mocooca. Seu Alair e Dona Felipa eram moradores do Mocooca e atravessaram-no jovens, ele com 26 anos e ela com 18, época em que tinham acabado de se juntar e tiveram de fugir do alagamento, acabando por se instalar no outro lado do Furo. Ainda conforme os relatos, ambos foram pioneiros ali. Seguidos depois por outros fugitivos dos alagamentos, que se intensificavam nessa parte da Ilha de Maiandeua...

Como surgiu o ramal, hoje rodovia estadual?



Em seus relatos, "Seu Alair (84 anos) e Seu Sérgio (70 anos) afirmaram ter sido por causa dessas dificuldades de ir e vir, de transportes difíceis e irregulares no ir e vir das embarcações para o vilarejo, que surgiu a ideia de os próprios moradores se juntarem para abrir uma rota por terra que viabilizasse a entrada e a saída automóveis do vilarejo. Todos eles disseram que já havia uma trilha, um caminho estreito de aproximadamente 40 quilômetros que ligava as várias comunidades da região e acabava 39 saindo na atual PA-220 (estrada que liga os municípios de Igarapé-Açu e Magalhães Barata)...



Passado e Presente feitos por alagamentos




"Os últimos alagamentos, registrados nesta pesquisa em 2019, novamente vêm provocando a diminuição da faixa de praia e destruindo as poucas moradias que ainda resistem no local. Muitas delas já foram destruídas pela força das últimas marés ou desmanchadas por seus proprietários e levadas para terras mais firmes no interior da comunidade e mais em direção à estrada ou às áreas de floresta fechada. Trata-se de um novo processo de migração forçado repetindo-se na região por conta da subida do nível do mar. No que tange às casas que não são removidas, as grandes marés se encarregaram de destruir e arrastar. Tais processos foram relatados pelos moradores mais antigos para 44 explicar a origem do vilarejo do 40 do Mocooca e, posteriormente, o surgimento da PA..."




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