Por Juca Kfouri
O Velho Lobo Zagallo viveu por 92 anos.
Poucas pessoas do mundo do futebol viveram tão intensamente as emoções que a bola proporciona, como atleta ou como treinador.
Duas vezes campeão mundial como jogador da Seleção Brasileira, em 1958 e 1962, outra como treinador, em 1970, e mais outra como auxiliar-técnico em 1994.
Suas façanhas estão sendo cantadas em prosa e verso por tudo que fez e aqui não será preciso repetir.
Na qualidade de ter sido um dos alvos do famoso ‘Vocês vão ter de me engolir’, farei um relato bem pessoal.
A começar pela frase.
Zagallo estava bravo ao ganhar a Copa América, em 1997, por imaginar que eu estaria fazendo campanha para Vanderlei Luxemburgo assumir a Seleção. Estava enganado.
Até porque se havia jornalista cuja opinião o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, jamais ouviria, este era exatamente o autor destas linhas.
Zagallo, na verdade, era meu ídolo tanto como jogador do Flamengo quanto como do Botafogo.
E se um dia duvidei da importância dele na Copa de 1970, o testemunho de Tostão enterrou a dúvida.
Em 1994, no começo da Copa dos Estados Unidos, quando a Seleção ainda não agradava a imprensa brasileira, a revista Veja fez uma capa com o treinador Carlos Alberto Parreira, e o chamou de ‘O Itamar da Seleção’, alusão ao discurso de Itamar Franco, o presidente da República.
Com relações razoavelmente restabelecidas com ele depois de ‘engoli-lo’, perguntei: ‘Você acha que a Veja tem razão, Parreira é igual ao Itamar?’.
A resposta veio de bate-pronto: ‘Não, ele não tem topete pra isso’, referência ao penteado do então presidente.
Zagallo sempre agiu sim.
Defendia suas ideias com vigor, exagerava até com seu amor à amarelinha como se tivesse o monopólio do patriotismo e fez do 13 seu número da sorte, sem fazer propaganda do Partido dos Trabalhadores.
Nossas relações foram definitivamente por água abaixo porque cobrei o que ele nunca explicou convincentemente: ter recebido 500 mil dólares da Federação Líbia de Futebol, dirigida por Al Saadi Gaddafi, filho de Muamar Gaddafi, presidente de honra da entidade.
Zagallo dizia que teria sido por entrevistas para livro e documentário, o que os líbios sempre negaram e atribuíram a pagamento feito a ele, e mais 500 mil dólares à CBF, por dois amistosos que nunca foram disputados.
Seja como for, há uma constatação inarredável: Mário Jorge Zagallo está na História do Futebol como um de seus gigantes.
(Transcrito do UOL)
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