O dono do avião que caiu matando Teori


Por Parsifal Pontes


Todo mundo conhece o falecido ministro do STF, Teori Zavascki. Como poucos conhecem o empresário Carlos Alberto Filgueiras, que juntamente com Zavascki faleceu no acidente, é dele que trata essa postagem.



Carlos Alberto Filgueiras, 69 anos, dono do Hotel Emiliano, um dos mais exclusivos de São Paulo e do Brasil, não era um desconhecido no Sul do Pará.

De temperamento afável, aos conhecidos da sua época no Pará dava descontos generosos no seu hotel boutique aos que, mesmo com o generoso desconto, se dispunham à hospedagem cuja diária média é de R$ 1,2 mil.

Por uma vez, fui um dos que desfrutei do desconto de 50% e ainda ganhei, além do desconto, um upgrade para uma suíte.

Carlos Alberto, que labutava no ramo da construção civil em São Paulo, na década de 70, chegou ao Sul do Pará na leva de almas que a Serra Pelada sugou para a região em uma das maiores corridas do ouro do mundo contemporâneo. No auge da cava (1983) 100 mil homens suavam atrás do vil metal.

Foi nessa época que Carlos Alberto chegou na Serra comprando o que chamávamos de “porcentagem”, que era um percentual de um “barranco”, que por sua vez era um pedaço previamente delimitado de chão onde se cavava atrás de ouro. Foram as cavas dos barrancos que fizeram aquele enorme abismo de cerca de 100 metros de profundidade que se vê nas fotografias.

Os compradores de “porcentagens” - eu comprei algumas, já contei isso aqui, e não ganhei um grama de ouro - conversavam entre si para saber qual estava dando produção e foi em uma dessas trocas de informações que conheci Carlos Alberto.

Ele comprou “porcentanges” mas aproveitou a efervescência do Sul do Pará, para também montar um serraria, pois as coisas em São Paulo, dizia ele, “não estavam fáceis”.

Alguns dizem que Carlos Alberto chegou “quebrado” no Sul do Pará, o que não era verdade. Embora com dificuldades eventuais, ele já era parte da média elite paulistana e trafegava bem na high society. Ele viu a Serra Pelada como oportunidade de negócios, e como para todos nós que trafegávamos pelas cavas, no fundo, aquilo era um cassino, apostávamos. Alguns ganharam outros perderam.

Carlos Alberto foi um dos que ganhou, tanto na cava quanto na madeireira que montou, pois tinha os contatos certos para venda no Sul do Brasil.

Saiu da Serra Pelada e do ramo madeireiro do mesmo jeito que chegou: não mais que de repente. Deve ter intuído que já ganhara dinheiro suficiente no jogo e estava na hora de deixar a banca: um homem inteligente.



Foi com parte do dinheiro ganhado no Sul do Pará que Carlos Alberto comprou um terreno em uma das áreas mais exclusivas de S. Paulo, a Rua Oscar Freire, para, em sociedade com o rei Roberto Carlos, fazer um flat, modalidade de empreendimento imobiliário que estava surgindo com força no Brasil.

As vendas do flat encalharam, pois quem tinha dinheiro para pagar alto já tinha imóveis na pauliceia. Foi quando Carlos Alberto resolveu fazer a limonada. Estava surgindo o ramo exclusivo dos hotéis boutique: surgiu o Emiliano, uma joia da hotelaria de nicho, com obras de arte desde o lobby até os apartamentos.

O conceito do Emiliano foi um sucesso depois exportado para o Rio de Janeiro, onde também fundou um Emiliano.

O ramo hoteleiro acabou por potencializar a mais marcante característica de Carlos Alberto: o prazer de desfrutar as coisas boas da vida que o dinheiro pode comprar e a afável hospitalidade que ele pode oferecer.

E assim ele vivia até ontem (19), quando a indesejada das gentes lhe arrebatou juntamente com Teori, um amigo que, segundo a imprensa, ele fez no Emiliano, e mais duas mulheres que estavam no fatídico voo.

Aliás, as maledicências cometam que as mulheres se tratavam de duas acompanhantes o que não é verdade. A verdade, posta pelo próprio Grupo Emiliano, é que Carlos Alberto estava com uma inflamação no nervo ciático e por isso levou a sua massoterapeuta, Maira Panas, uma jovem de 23 anos.

A outra mulher no voo era a mãe de Maira Panas, Maria Hilda, 55 anos, que sabendo da fama de Don Juan de Carlos Alberto, só permitiu que a filha fosse se a levasse junto.



Meus sentimentos à família Zavascki. Minhas condolências aos familiares e colaboradores do Grupo Emiliano, que devem estar inseguros quanto ao futuro, pois o seu fundador era a alma da empresa.

Mas fiquem tranquilos, pois Carlos Alberto, como muitos outros que faço referência, não criou uma moda hoteleira. Ele criou um estilo e o estilo sempre sobrevive ao seu criador.

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