O contraste no Pará - economia ganha, mas o povo perde em qualidade de vida


Revista Isto É

A primeira jazida de minério de ferro descoberta pela Vale na região de Carajás, no sudoeste do Pará, em 1967, mudou a história da empresa e colocou o Brasil no mapa da mineração mundial. Passados quase 50 anos, a mineradora está prestes a dar um novo passo histórico com a conclusão do projeto Ferro Carajás S11D, prevista para o segundo semestre deste ano. Ao todo, serão US$ 17 bilhões (cerca de R$ 67 bilhões) em investimentos, um dos maiores da história da Vale.

Na primeira fase, que teve início em 2013, foram aportados US$ 6,8 bilhões para aumentar o complexo minerador, que teve sua capacidade mais que dobrada para 230 milhões de toneladas métricas anuais. Na fase atual, os US$ 10,2 bilhões estão sendo utilizados para melhorar a logística da região, com a expansão da Estrada de Ferro de Carajás e a remodelação das linhas já existentes. A Vale, que enfrenta desafios como a revisão de todos os seus investimentos, a catástrofe ambiental da controlada Samarco e o prejuízo de R$ 44,2 bilhões no ano passado – o primeiro resultado negativo desde a sua privatização, em 1997 –, vê no Pará uma chance de mudar a sua realidade.
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Assim como a mineradora, outras empresas olham o potencial paraense. O estado se tornou um importante pólo de atração de novos negócios. Nos últimos três anos, esse interesse da iniciativa privada ajudou o Estado andar na contramão do Brasil. No ano passado, por exemplo, foi o único a não ter recessão no Produto Interno Bruto (PIB) entre os 26 estados e o Distrito Federal. A estabilidade de 0,05% do PIB é um contraste à queda de 3,8% do País. Esse resultado é fruto da vasta gama de recursos naturais que o Estado possui, o que atrai companhias.

Estudo feito pela Federação das Indústrias do Pará identificou um potencial de R$ 200 bilhões em investimentos até 2020. Essa é a base de um plano estratégico chamado de “Pará 2030”, elaborado pela consultoria McKinsey. O projeto avaliou 23 oportunidades de negócios que a região oferece, como logística, agricultura familiar, fomento da cadeia de açaí, a enorme possibilidade de geração de energia, com as hidrelétricas, e a extração de minério de ferro. “O objetivo foi elencar ações de Estado que devem ser tomadas para potencializar a economia local”, diz Arlindo Eira, sócio da McKinsey, responsável pelo trabalho. “O Pará tem uma aspiração agressiva de crescimento.”

A multinacional americana Cargill deu início à sua atuação no Estado em 1995, com a compra de amêndoas e cacau no município de Altamira. Com os anos, a empresa expandiu suas operações para cinco cidades, mas a falta de infraestrutura apareceu como um entrave. Sem tempo para esperar as iniciativas do setor público, a Cargill investiu na ampliação de terminais portuários, como o de Santarém. Em 2015, foram injetados R$ 240 milhões na obra para elevar a capacidade do local de dois milhões de toneladas anuais para cinco milhões. A ampliação do negócio acontecerá, também, após os R$ 180 milhões em investimentos na estação de transbordo de Miritituba, que teve início em 2014.

“O Pará é uma região extremamente estratégica para a Cargill”, diz Clythio Buggenhout, diretor de portos da companhia. “Acreditamos que esses investimentos vão contribuir de forma significativa para nossas operações.” A empresa de arames Sinobras, do Grupo Aço Cearense, também enxergou um leque de oportunidades no local e investe R$ 760 milhões para ampliar sua capacidade de produção. Na avaliação de especialistas consultados pela DINHEIRO, o Pará deve apresentar neste ano o mesmo ritmo de 2015.

Isso porque a composição da economia paraense é voltada principalmente às atividades extrativistas e à indústria de minério de ferro, fazendo com que o desempenho do estado se mantenha aquecido mesmo em tempos de recessão da economia nacional. No projeto da Vale, por exemplo, 2.600 postos de empregos permanentes foram gerados nos últimos três anos. Durante o pico das obras, em 2014, a companhia contratou cerca de 30 mil pessoas.

Investimentos como esse também têm impacto positivo na produção industrial local, que encerrou 2015 com crescimento de 5,7%, o maior do País. “Em termos relativos, o Estado está muito melhor que a média da economia nacional”, diz Rodolfo Margato, economista do banco Santander. “A estimativa é que o Pará continue atraindo novos aportes.” Embora o desempenho econômico tenha melhorado, o Pará ainda lida com a difícil missão de conseguir transformar sua realidade social.

No último censo realizado pelo IBGE, obteve o lamentável 25º Índice de Desenvolvimento Humano Médio (IDH-M) do País, à frente apenas do Maranhão e Alagoas. Em educação, os números são ainda mais desanimadores: 26ª posição, antes de Alagoas. O PIB per capita do Estado de R$ 16.475 é muito inferior à média nacional, de R$ 26.500.

Nota do Blog: O formato de grandes projetos na Amazônia continua sendo danosa não somente ao meio ambiente, mas também ao povo paraense, que não recebe a contrapartida com melhorias na realidade social.

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