A PESCARIA DO "TOTA"

Conto

Por Elizel Nascimento

Reprodução/Google

Antigamente, quando não havia "luz para todos", nem a tecnologia digital, os católicos do Salgado Paraense, celebravam a Semana Santa, sob à luz de lamparinas e com um ritual de rezas e vigílias, além do recolhimento de todas as tarefas da roça e do mar. Mas, o pescador Tota, morador do povoado de Boa Esperança do rio Caripi, em Maracanã, resolveu "tarrafiar" na vazante da quinta-feira santa. Percorreu um "beirateua", sacudiu sua tarrafa, mas não malhou nenhum peixe. Espiou uma cabana deserta à margem do rio, ao anoitcer e, lá se recolheu. No outro dia remou dois estirões de um igarapé, amarrou a canoa numa raizama, atiçou um fogareiro de barro e desceu pro mangal. O fogareiro era para sinalizar com a fumaça o rumo da embarcação. Tota foi agarrar caranguejos e encheu dois paneiros. Ao voltar encontrou a embarcação incendiada e mais seus apetrechos de pesca. Pura maldição - admitiu. Rumou pelo tijuco até alcançar o primeiro barraco, onde lhe ofereceram uma roupa usada, que por doação a família tinha ganho - era uma farda desbotada, com a patente de capitão. O pescador a vestiu e ficou "na medida". Mas a notícia do retorno do pescador panema vazou no momento em que uns curiosos preparavam a "Malhação do Judas". Foi aí que um gozador preparou um testamento em versos e pendurou o boneco num bambu em frente à igrejinha da comunidade. E todos riam lendo:
"Tota foi pescá/Que decepção!/ Não pegou nenhum peixe/ E ainda queimou sua embarcação/Panemeira de saru, às vezes vira maldição/Pescá na Semana Santa é contra a religião/Mas Tota anda orgulhoso/Pavulage e vaidoso/Está todo metidão/Também, nunca foi recruta/ Virou logo Capitão.
(A patir desse momento o pescador era conhecido como Capitão Tota)

Postar um comentário

0 Comentários