O Gol de Katya

Blog do Parsifal


Katya Silva, 38, é executiva de uma grande empresa de cosméticos, mãe de dois filhos e jamais usou a condição física para alavancar a carreira.

Ontem (2) Katya envergonhou a Gol ao se arrastar 15 degraus acima para embarcar em uma aeronave da empresa no aeroporto de Foz do Iguaçu-PR.



Katya porta osteogênese imperfeita, coloquialmente conhecida como "síndrome dos ossos de cristal". Seus ossos, além mal formados, são tão frágeis que se podem quebrar a qualquer movimento brusco.

A legislação, o bom senso e a civilidade determinam que as empresas aéreas disponham de equipamentos que facilitem o embarque de passageiros com deficiências de locomoção.

Quando os aeroportos têm pontes, uma cadeira de rodas é o suficiente, mas na ausência das pontes as empresas aéreas são obrigadas a ter um equipamento denominado ambulifit, que é um veículo equipado com elevador. O aeroporto de Foz de Iguaçu não tem pontes e nem ambulifts.



A tripulação se ofereceu para carregar Katya, mas ela temeu fraturar algum osso na operação e preferiu arrastar-se escada acima, sentando-se a cada degrau que rompia.

O mais amargo na história é o que deixa ver a primeira fotografia: a tripulação da Gol simplesmente desprezou a passageira à própria sorte, e ela subiu a escada sem sequer a presença física de alguém ao lado, para lhe prestar solidariedade na empreitada.

Disse Kafka que “a solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”, e Katya Silva, ao escalar aquela escada, esbanjou dignidade.

A República brasileira precisa inculcar que locomoção faz parte do estoque inalienável de direitos do cidadão.

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