Trânsito na praia
FRANCISCO SIDOU
Tem tudo para provocar muita polêmica a ação que o promotor Amarildo Guerra pretende ingressar na Justiça determinando a proibição do acesso de veículos à praia do Atalaia já a partir do veraneio de julho deste ano.
A medida será discutida em audiência pública nesta terça-feira, 27, na Câmara Municipal de Salinópolis, e visa coibir os abusos praticados por alguns condutores de veículos, que por ação , omissão ou direção temerária, têm provocado graves acidentes, ameaçando a integridade física de todos que ali vão buscar momentos de lazer e acabam envolvidos em situações de estresse e até de perdas e mutilações físicas.
Os danos ambientais provocados pela circulação de automotores na praia também já são visíveis a olho nu, comprometendo a vegetação e ameaçando as dunas. Os argumentos contra e a favor certamente serão debatidos na audiência pública. Os donos de barracas ,em sua maioria, têm posição firmada contra a medida, por razões de ordem econômica. Ocorre, que as razões de ordem ambiental e do interesse coletivo não podem ser simplesmente desprezados por causa do lucro ou prejuízo de algum tipo de comércio.
A tradição de usos e costumes também costuma ser invocada pelos mais "descolados", alegando que o acesso à praia em veículos já é um hábito arraigado na cultura do paraense. Mas há aí também um componente de comodismo e até de exibicionismo de alguns "novos ricos" (são minoria, felizmente) que querem mostrar que estão "bem de vida" , não necessariamente de bem com a vida, já se vê, pois quem está "resolvido" não precisa anunciar na vitrine do Atalaia que "está podendo"...
A questão não é nova e remonta à década de 80, levantada pela antiga Associação dos Amigos de Salinas, da qual participamos, então como jovem cheio de sonhos e de projetos, como éramos então todos os seus integrantes, alguns também movidos por algum componente poético e etílico... O certo é que já naquela época o tema já era debatido, com as preocupações voltadas mais para o aspecto ambiental, já que não se tinha registro de acidentes na praia, a não ser ou outro veículo "afogado" pela maré alta por conta do descuido de algum motorista desavisado ou não "iniciado" no movimento e no capricho das marés.
Era então insignificante a quantidade de veículos que tinham acesso à praia diante da grandiosidade de suas areias e dunas. Em meados da década de 90, no primeiro governo de Almir Gabriel , foi elaborado um projeto denominado "Orla do Atalaia", que previa a construção de um calçadão semelhante ao da Orla do Maçarico, com barracas padronizadas e funcionais, áreas de estacionamento para veículos, banheiros e chuveiros públicos para tirar a areia, além de quiosques também padronizados, com churrasqueiras, que seriam alugados mediante uma taxa de manutenção para famílias que desejassem fazer alguma comemoração festiva ou "pic-nic" à beira mar.
Por onde anda esse maravilhoso projeto?
O dr. Adenauer Góes, atual secretário de Turismo , que também é um grande amigo de Salinas, certamente conhece esse projeto. Não seria a hora de se fazer um ajuste em sua concepção original para atender às demandas atuais da praia do Atalaia, quem sabe ampliando as áreas de estacionamento e disciplinando a circulação dos veículos especiais, como ambulâncias, bombeiros, polícia etc?
A questão também suscita polêmicas entre os juristas e especialistas em trânsito. Há os que entendem que o trânsito na praia está sujeito aos mesmos procedimentos normatizados pelo Código Nacional de Trânsito, multas e punições, inclusive. Mas os agentes do Detran (pelo menos os que abordei) entendem que na praia o território é livre , seria da União ou de "ninguém", tanto que não fiscalizam o trânsito na areia. Os agentes municipais também dizem que o tema não é de sua "área de competência". O que está faltando , na verdade, é uma decisão no sentido de regulamentar aquela "Casa de Noca" em que se transforma a praia do Atalaia em dias de feriadão ou de verão. Ali todo mundo manda, ninguém obedece e ninguém tem razão.
Quem sabe o governador Simão Jatene ( que participou como músico do memorável Festival "Uma Canção para Salinas", na década de 80, coordenado pelo nosso companheiro da ONG Amigos do Sal, Araran Lucena) e que também é grande amigo de Salinas não possa se interessar em mandar desencavar esse projeto "Orla do Atalaia" da gaveta estadual onde ele dorme ? Recursos do Ministério do Turismo existem para projetos similares. Vamos debater o trânsito na praia , mas também vamos sonhar mais alto ? É esse o convite que faço às autoridades competentes e aos amigos de Salinas, em nome dos companheiros da ONG Amigos do Sal.
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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@hotmail.com
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