Relembrando o passado: O Regatão vem aí!
O termo “regatão” vem da palavra “regatear”, ou seja, comercializar produtos e gêneros diversos de porta em porta, ou devido às distâncias geográficas; de porto em porto, e nos faz lembrar junto à geração dos mais antigos com saudosismo da prática desse comércio itinerante pelos rios, paranás, lagos e furos da nossa imensa Amazônia, muito usada nas décadas de 50 a 70. Comércio este feito por meio de embarcações de médio e grande porte, que eram verdadeiros “supermercados flutuantes” que navegavam rio abaixo rio acima, sortidos de todos os tipos de mercadorias de primeira necessidade entre secos e molhados como; açúcar, sal, bolachas, querosene, remédios, confecções, perfumes, bugigangas, cachaças de várias marcas, inclusive a famosa “Correinha” fabricada em Igarapé Mirim (Pará), e as “drogas dos sertões” que eram negociadas no varejo ou no atacado. Os barcos eram chamados de “regatão” e via-se em quantidades singrando os rios como se fossem estradas naturais, sobrecarregados em seus porões, conveses e com recipientes menores de várias formas e cores como “bilhas e potes” cerâmicos que enfeitavam seus toldos. Levando uma variedade de produtos com as novidades que alegravam e enfeitavam as “cuiatãs” ribeirinhas com suas “chitas infestadas” para as famosas festas do interior...
Tentando resgatar um pouco dessa nossa cultura regional, vale lembrar essa experiência comercial que fechava um ciclo de compromisso entre os comerciantes, principalmente da capital Belém que se sujeitavam a ter uma vida de “nômade flutuante”, vivendo praticamente de “bubuia” como se diz na região, e a geração de ribeirinhos que habitavam a nossa vasta região de rios entre Belém e Manaus. Os negócios eram fechados no sistema antigo do “escambo”, que era a troca de produtos por produtos, não se usando quase o dinheiro; de um lado variedades industrializadas oriundas dos grandes centros produtores e de outro lado, as matérias primas cultivadas nas comunidades ribeirinhas, como; juta, malva, curauá, pescado salgado e seco, produtos florestais como: castanha, madeiras nobres, essências como pau-rosa, óleos vegetais; andiroba, copaíba, mel de abelhas nativas, sementes medicinais, assim como pequenos animais, peles e couros de várias espécies silvestres e aquáticas, que na época não eram proibidas por órgãos ambientais, pois nem existiam. O governo na época até dava incentivos financeiros por meio do “POLAMAZÔNIA”, “SUDAM” e outros, para se desmatar a floresta nativa e implantar grandes projetos desenvolvimentistas madeireiros e agropecuários na Amazônia. É difícil acreditar como as coisas mudaram muito, em tão pouco tempo!
Uma curiosidade negativa, era o fato de como em toda aglomeração humana, surge sempre alguns espertinhos “picaretas” pelo meio, e nessa relação comercial que era para ser de respeito mútuo, também existia, pois os caboclos maus intencionados, vendiam suas safras sazonais para vários “regateiros” que na subida do rio iam deixando suas iguarias para apenas na volta, ou seja, na descida do rio recolherem os produtos dos ribeirinhos, mas como alguns vendiam sua única produção para vários comerciantes, os primeiros barcos que desciam ainda pegavam o material, mas os que vinham depois, ”já era...”, como se diz na gíria; os caboclos ao ouvirem a “zoada” dos barcos que já conheciam pelo “DNA” dos ruídos perfeitamente, adentravam nas matas ou centros como diziam levando toda a família, fugindo desse encontro, e só voltavam para suas casas quando os barcos já tinham partidos dos portos pela perda de tempo e a falta de paciência de seus donos, que esbravejavam o calote levando consigo os prejuízos dos maus negócios feitos com alguns ribeirinhos desonestos.
Ainda quanto ao termo “Regatão”, convém lembrar, que nessa época existia também um programa de rádio muito famoso intitulado: “O Regatão vem aí”, transmitido pela famosa Rádio Clube do Pará (AM), e este “título em vinheta” valia para o programa de rádio e para os ribeirinhos que quando os “moleques” viam o barco se aproximando do barranco ou dos paranás, gritavam para seus pais: “o regatão vem aíííííí!”. Programa este comandado pelo radialista Jaci Duarte que dizia uma frase que era sua marca registrada; “Alô Dona Maria Tereza da barriga tesa!”. Esse programa tinha muita audiência nos rádios pelo interior, já que era a única forma de comunicação a distância, quando as famílias tinham a hora certa para jantar por causa dos carapanãs e também para depois ouvirem juntos a transmissão dos programas radiofônicos noturnos, e que acabava entrando pela madrugada.
O programa “o Regatão vem aí”, era também o parceiro fiel dos vigilantes noturnos, pois todos os vigias tinham seu “radinho de pilha” para se distraírem noite adentro com as piadas e o repertório musical (principalmente forró), de seu ilustre e saudoso apresentador... Algumas emissoras de rádio do interior do Estado, até imitavam esse programa e o sistema característico de comunicar-se com seus ouvintes nos lugares mais longínquos.
Tentando resgatar um pouco dessa nossa cultura regional, vale lembrar essa experiência comercial que fechava um ciclo de compromisso entre os comerciantes, principalmente da capital Belém que se sujeitavam a ter uma vida de “nômade flutuante”, vivendo praticamente de “bubuia” como se diz na região, e a geração de ribeirinhos que habitavam a nossa vasta região de rios entre Belém e Manaus. Os negócios eram fechados no sistema antigo do “escambo”, que era a troca de produtos por produtos, não se usando quase o dinheiro; de um lado variedades industrializadas oriundas dos grandes centros produtores e de outro lado, as matérias primas cultivadas nas comunidades ribeirinhas, como; juta, malva, curauá, pescado salgado e seco, produtos florestais como: castanha, madeiras nobres, essências como pau-rosa, óleos vegetais; andiroba, copaíba, mel de abelhas nativas, sementes medicinais, assim como pequenos animais, peles e couros de várias espécies silvestres e aquáticas, que na época não eram proibidas por órgãos ambientais, pois nem existiam. O governo na época até dava incentivos financeiros por meio do “POLAMAZÔNIA”, “SUDAM” e outros, para se desmatar a floresta nativa e implantar grandes projetos desenvolvimentistas madeireiros e agropecuários na Amazônia. É difícil acreditar como as coisas mudaram muito, em tão pouco tempo!
Uma curiosidade negativa, era o fato de como em toda aglomeração humana, surge sempre alguns espertinhos “picaretas” pelo meio, e nessa relação comercial que era para ser de respeito mútuo, também existia, pois os caboclos maus intencionados, vendiam suas safras sazonais para vários “regateiros” que na subida do rio iam deixando suas iguarias para apenas na volta, ou seja, na descida do rio recolherem os produtos dos ribeirinhos, mas como alguns vendiam sua única produção para vários comerciantes, os primeiros barcos que desciam ainda pegavam o material, mas os que vinham depois, ”já era...”, como se diz na gíria; os caboclos ao ouvirem a “zoada” dos barcos que já conheciam pelo “DNA” dos ruídos perfeitamente, adentravam nas matas ou centros como diziam levando toda a família, fugindo desse encontro, e só voltavam para suas casas quando os barcos já tinham partidos dos portos pela perda de tempo e a falta de paciência de seus donos, que esbravejavam o calote levando consigo os prejuízos dos maus negócios feitos com alguns ribeirinhos desonestos.
Ainda quanto ao termo “Regatão”, convém lembrar, que nessa época existia também um programa de rádio muito famoso intitulado: “O Regatão vem aí”, transmitido pela famosa Rádio Clube do Pará (AM), e este “título em vinheta” valia para o programa de rádio e para os ribeirinhos que quando os “moleques” viam o barco se aproximando do barranco ou dos paranás, gritavam para seus pais: “o regatão vem aíííííí!”. Programa este comandado pelo radialista Jaci Duarte que dizia uma frase que era sua marca registrada; “Alô Dona Maria Tereza da barriga tesa!”. Esse programa tinha muita audiência nos rádios pelo interior, já que era a única forma de comunicação a distância, quando as famílias tinham a hora certa para jantar por causa dos carapanãs e também para depois ouvirem juntos a transmissão dos programas radiofônicos noturnos, e que acabava entrando pela madrugada.
O programa “o Regatão vem aí”, era também o parceiro fiel dos vigilantes noturnos, pois todos os vigias tinham seu “radinho de pilha” para se distraírem noite adentro com as piadas e o repertório musical (principalmente forró), de seu ilustre e saudoso apresentador... Algumas emissoras de rádio do interior do Estado, até imitavam esse programa e o sistema característico de comunicar-se com seus ouvintes nos lugares mais longínquos.
* É gestor ambiental
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